“Desaguando” o Chopp

Depois do morde, vem o assopra. Mas a cada ciclo, o mercado acaba um pouquinho mais machucado.

Alexandre Aagesen

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Você faz toda sua análise e decide comprar um ativo. Os fundamentos melhoram. Você fica feliz, mas o preço não reage. Pelo contrário, cai mais. Você, Value Investor orgulhoso compra mais e espera. Nada. Então decide olhar em volta, e olha ali virando a esquina, quem vem? Você de novo, ambiente macro, sempre aqui, velho amigo. Aí você se lembra que você mora num país emergente. Tá explicado, melhor parar de bater de frente. Ontem foi mais um dia de macro local. Mais uma alta do S&P que o Ibovespa perdeu. Mas, se você não estava na bolsa, talvez até tenha sido um bom dia. Juros fecharam, real se valorizou e chegamos à sexta-feira cheios de esperança. Somos brasileiros, e não desistimos nunca.

Mas lá fora o macro foi bem bom. PPI logo cedo mostrando deflação ao produtor (belíssimo print pra quem está esperando o PCE) e logo depois, jobless claims veio alto. Na versão pediátrica: deu bom (para inflação). Por aqui, tivemos uma fila de discursos tentando tirar a água do chopp que os mesmos discursos tinham jogado na quarta-feira. Já tentou jogar água num chopp e depois tirar? Nem eu, mas parece difícil. E foi esse o clima. Real avançou, juros recuaram, mas foi tímido. Difícil encontrar quem compre a valor de face. E para hoje temos mais: IBC-Br, discursos e – principalmente – outro encontro do Haddad com grandes banqueiros. Na última vez, foi MUITO ruim. A conversa vazou e foi – segundo o próprio Haddad – “mal-interpretada”. Será que hoje vaza de novo?

Sobre o resto do mundo, valem dois destaques: Argentina e Rússia. Na Argentina, inflação de maio em 4.2% (ao mês, mas para os Hermanos, isso é baixo) e lei Ómnibus aprovada, mas mais aguada do que a original. Estão falando que é uma lei Kombi no máximo, mas sou contra essas piadinhas sem-graça, vocês me conhecem. E sobre Rússia, um precedente que eu não gostei nem um pouco. Ninguém aqui acha que o Putin é bonzinho, mas o G7 conseguiu um acordo político para usar os rendimentos das reservas internacionais russas – particularmente estamos falando das denominadas em USD e EUR – para ajudar a Ucrânia a lutar contra a Rússia. Hoje é a Rússia malvadona, ela merece e blablabla, mas amanhã pode ser qualquer outro país. Qual é a vontade da China agora de manter alguma reserva nessas moedas? Ou da Índia? Quiçá de Brasil? Não gostei da decisão. Não gostei do precedente.

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Alexandre Aagesen

Com mais de 16 anos de mercado financeiro, é CFA Charterholder, CAIA Charterholder, autor do livro "Formação para Bancários", professor convidado e Investor na XP Investimentos