Vendas de Veículos recuam -19%

Desempenho das vendas de veículos no primeiro mês do ano.

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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O ano mal começou e as vendas de veículos despencaram! Com 243,8 mil carros vendidos em janeiro, o setor registrou queda de -31% sobre dezembro do ano passado, quando houve a comercialização de 353 mil carros.

OK… sabemos que no mês passado houve uma série de antecipações de compra (estimamos entre 42 a 48 mil veículos); nos últimos dois meses do ano há um aumento de dinheiro em circulação, entre outros fatores; mas, mesmo assim, a queda foi muito acentuada!

Para sermos mais realistas, vamos comparar com janeiro de 2014, onde tivemos 300 mil carros vendidos e apuramos queda de -18,6%.

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Mesmo considerando o que já apontamos em nossos estudos – a antecipação de comprar na ordem de 42 a 48 mil veículos – estamos trabalhando com um mercado retraindo-se por volta de -5%.

Vou resumir a história:

O ANO NEM COMEÇOU, MAS JÁ É UM ANO PERDIDO.

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O grande problema é que não será o “ano” perdido… Já estamos no “terceiro” ano perdido.

Para algumas marcas, essa condição é diferente!

Se pegarmos o desempenho do nosso quarteto fantástico asiático (Honda, Hyundai, Nissan e Toyota) elas fecharam esse primeiro mês com uma queda nas vendas altamente aceitáveis, com índices de: -7,5%; -3,5%; -4,8% e -2,6%, respectivamente. Além disso, o caso da Toyota ainda é um pouco mais interessante. No começo do ano passado, estava com baixa demanda do seu carro chefe (Corolla), uma vez que ele seria substituído. Se pegarmos o faturamento dela em janeiro de 2014, havia vendido R$ 982 milhões contra R$ 1,027 bilhão deste mês. Ou seja, um crescimento de 4,6% no seu faturamento.

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Do lado debaixo, podemos pegar o nosso trio francês (Citroen, Peugeot e Renault), que teve as maiores quedas neste mês, com: -43,4%; -44,3% e -29,1%, respectivamente.

Aqui existe um primeiro olhar interessantíssimo na mudança do perfil de consumo do consumidor brasileiro. Na primeira onda de investimentos das news commers, o carro francês era o mais desejado entre os consumidores (mais ou menos o que o nosso quarteto fantástico asiático é hoje). O que é interessante de se notar é que, num espaço de menos de uma década, perderam todo o seu frenesi e estão se tonando mico, apesar de toda a qualidade que existe nos seus produtos.

Agora,  quem deve estar angustiado mesmo devem ser as “quatro grandes” (Fiat, Ford, GM e VW). Falando em Market Share, as quatro grandes (??) fecharam o mês de janeiro com cravados 66% de mercado – em resumo, 2/3.

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Mas o buraco é um pouco mais embaixo. Vamos fazer uma conta bem simples: a nossa clássica conta de padaria.

Em janeiro de 2007, tivemos um mercado de 144,6 mil carros; como vendemos 243,8mil neste mês que passou, tivemos um incremento de 68,6%. Só que, as quatro grandes tiveram um desempenho de apenas 34,9%. Todas as outras marcas juntas cresceram 227,4%. A perda (apenas no mês de janeiro) para as quatro grandes foi de quase 41 mil carros para as outras marcas.

Se lembra que falamos que hoje elas têm 66% do mercado? Então… em 2007, tinham 82,5% do mercado de autos!

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O Share do mês de janeiro ficou assim:

FABRICANTE                       2007                      2015

FIAT                                      24,78%                20,37%

GM                                        19,68%                19,23%

VW                                        24,69%                16,19%

FORD                                    13,34%                 10,22%

4 GRANDES                        82,49%                66,01%

HYUNDAI                              0,40%                   7,20%

TOYOTA                                3,35%                   5,13%

HONDA                                  2,25%                  4,12%

NISSAN                                 0,38%                   2,46%                                                  

ASIATICAS                          6,38%                 18,91%

RENAULT                              3,36%                   6,31%

CITROEN                               2,09%                   1,45%

PEUGEOT                              3,38%                   1,14%

FRANCESAS                        8,83%                   8,90%

OUTRAS                              2,30%                   6,18%

O pior do setor automotivo, é que tudo está ruim. As vendas de caminhões (um grande sinalizador do aumento ou da diminuição de investimentos), fechou o mês com 7.674 caminhões vendidos, queda de -29% sobre janeiro do ano passado, quando tivemos 10.773 caminhões vendidos. Marcas focadas em caminhões pesados e extrapesados (Volvo e Scania), registraram retração neste mês de -43,34% e -54,33% respectivamente. Uma das poucas que se salvaram foi a Ford (que voltou com a linha F) e viu seu mercado cair apenas -3,7%.

Da mesma forma que o setor de implemento rodoviário. Pegando apenas o mercado das cinco grandes (Randon; Fachinni; Noma; Librelato e Guerra) o mercado retraiu-se quase -54%. Elas venderam 3.479 implementos rodoviários, em janeiro de 2014, contra apenas 1,6 mil neste mês.

O setor de caminhões e implementos rodoviários registrou o pior resultado dos últimos 70 meses. E a vendas destes dois produtos são um fortíssimo sinalizador (para nós) do desempenho da economia – se vai bem ou mal.

Para finalizar o “post da queda”, vamos falar de motos, que acumulam perdas de -26% nos últimos três anos (em 2011 foram 1,941 milhão de motos vendidas contra 1,43 milhão em 2014). Eles só tiveram o pior janeiro dos últimos oito anos. Com 108,6 mil motos vendidas, o setor registra queda de -18,7% sobre janeiro de 2014, quando foram vendidas 133,7 mil motos. Infelizmente, parece que o setor  vai viver o seu quarto ano consecutivo de quedas nas vendas.

E, como eu disse no começo do post: Isso tudo e “O ANO MAL COMEÇOU”.

Abaixo, para curiosidade, os 30 grupos de modelos de carros mais vendidos em janeiro:

FABRICANTE

MODELO

TOTAL

PART. %

FIAT

PALIO

14.435

5,92%

GM

ONIX

13.463

5,52%

FIAT

STRADA

11.202

4,59%

HYUNDAI

HB20

8.962

3,68%

FIAT

UNO

8.620

3,54%

FORD

KA

8.230

3,38%

VW

FOX

8.227

3,37%

VW

GOL

7.868

3,23%

GM

PRISMA

7.772

3,19%

FIAT

SIENA

7.195

2,95%

VW

UP

6.780

2,78%

RENAULT

SANDERO

6.224

2,55%

VW

SAVEIRO

5.735

2,35%

HONDA

FIT

5.062

2,08%

FORD

NEW FIESTA HATCH

4.943

2,03%

GM

CELTA

4.854

1,99%

VW

VOYAGE

4.739

1,94%

GM

CLASSIC

4.404

1,81%

HYUNDAI

HB20S

4.102

1,68%

TOYOTA

COROLLA

4.022

1,65%

FORD

ECOSPORT

3.670

1,51%

TOYOTA

HILUX

3.654

1,50%

GM

S10

3.416

1,40%

GM

SPIN

3.338

1,37%

GM

COBALT

3.258

1,34%

GM

MONTANA

3.070

1,26%

RENAULT

DUSTER

2.823

1,16%

RENAULT

LOGAN

2.802

1,15%

FORD

KA SEDAN

2.762

1,13%

NISSAN

MARCH

2.670

1,10%

OUTROS

65.520

26,87%

TOTAL

243.822

100,00%

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva