VENDAS DE AUTOS CAEM -1,5% NO ANO; MAS O SETOR VENDEU R$ 1 BILHÃO A MAIS

O cenário negativo que previmos desde o final do ano passado, está acontecendo. O setor registra queda nas vendas, mas existem perspectivas positivas para os próximos dois meses

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Hoje vou dividir o meu texto em três partes, vamos lá:

1. AUTOMÓVEIS:

As vendas de veículos em outubro foram de 313,2 mil veículos. O resultado não é de todo mal, afinal de contas, tivemos crescimento de 6% sobre o mês passado. Porém, quando comparamos sobre o mesmo período do ano passado, temos retração de 4,3%. Isso fez com que, no acumulado deste ano, registremos queda de quase 1,5%. O gráfico abaixo mostra a evolução das vendas (com a nossa projeção para novembro e dezembro) e também de como foi o superávit/déficit do setor ao longo dos meses (colunas do gráfico).

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Existem aqui vários fatores que explicam essa queda nas vendas: são aqueles mesmos pontos que falamos o ano inteiro: Retração na oferta de crédito; maior dificuldade na obtenção do mesmo; menor apetite das famílias em se endividarem; aumento da insegurança quanto a atividade econômica e por aí vai…

Mas esse mês, para o setor automotivo, existiram alguns pontos muito peculiares que pretendo discutir com vocês. Um desses pontos, foi o desempenho da GM. A GM registrou crescimento de 20% nas suas vendas. Ela teve Market Share de 19,4%.  De fato, a GM ficou muito próxima de encerrar o mês de outubro como líder de vendas e,  por míseros 750 carros, não ultrapassou a Fiat.

E as outras duas marcas que estão lá no topo? Bom, a Fiat encerrou esse mês com queda de -2,58% e com Market Share de 19,7% – O PIOR RESULTADO DA MARCA NOS ÚLTIMOS 45 MESES! Já a VW andou de lado com crescimento de 0,7%.

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OK! E ai?

A questão aqui é que estamos começando a perceber uma mudança comportamental. O resultado positivo da GM é reflexo da mudança quase que total de seu portfólio. Os grandes destaques deste mês, foram os veículos Spin, Onix e Novo Prisma, todos com menos de um ano de vida útil, em média. E quanto à Fiat e VW? Bem, a Fiat, como dissemos, teve o seu pior resultado em 45 meses; e a VW há muito tempo está indo de mal a pior.  Além disso, essas marcas não tiveram “significativos” lançamentos e, ainda por cima, terão alguns de seus veículos descontinuados a partir de 31 de março de 2014.

Assim, acreditamos que no ano que vem, a briga pela primeira posição será de foice! E do meio para baixo? A briga vai ser mais acirrada! Em outubro, a Honda mostrou um incrível gás e teve aumento de suas vendas na ordem de 34%; e a Hyundai, que completou 1 ano de vida do seu veículo HB20, emplacou 19,5 mil veículos: o melhor resultado da marca! Devemos levar em consideração que, em 2014, teremos novas fábricas em operação (Chery, JAC, Nissan e etc.), aumentando a concorrência num mercado total – estimado por nós – estável com forte tendência de queda, novamente.

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Por fim, apenas para fechar com uma notícia positiva, estimamos que o setor tenha vendido R$ 131,3 bilhões em carros novos, gerando um crescimento de 0,75% sobre o mesmo período do ano passado, quando tivemos R$ 130,3 bilhões vendidos, ou seja, mesmo com a queda de -1,5% em vendas, o meu faturamento foi R$ 1 bilhão maior. Lembram-se que falamos da GM? Então: ela está faturando a mais, neste ano, R$ +1,5 bilhão; a Fiat, com queda de R$ -1,6 bilhão, e o buraco da VW é bem mais embaixo, com  retração de R$ -2,3 bilhões nas vendas de carros novos. Para fechar a conta: Toyota R$ +3,3bilhões e Hyundai R$ +2,3 bilhões.

2. MOTOCICLETAS

A grande pergunta que todos do setor de duas rodas fazem é: cadê o “Vital”? O setor de motocicletas amarga perda de 9%. Este ano (janeiro a outubro) estamos com 1,252 milhão de motos vendidas contra 1,386 milhão sobre o mesmo período do ano passado. Com muita sorte, o setor vai encerrar o ano com 1,5 milhão de motos vendidas; o que significará o pior resultado do setor dos últimos seis anos, ou seja, voltamos para o mercado de 2006/2007.

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No gráfico, podemos ver que, em apenas dois meses, vendemos mais do que no ano passado, e que o setor já registra perdas de 134 mil motos a menos.

Se está difícil vender automóvel com o crédito restritivo imposto pelos bancos, para o setor de duas rodas basta elevar essa dificuldade ao cubo! Depois dos prejuízos que alguns bancos/financeiras tiveram, demorará muito – mas muito mesmo – para eles voltarem a trabalhar com esse tipo de operação, como faziam no passado. A solução aqui talvez seja todos apertarem o cinto, voltarem ao bom e velho consórcio e montar uma carteira para daqui a uns dois/três anos. Esse é o prazo que o setor demorará para voltar ao patamar de 1,7 ou 1,8 milhão de motos vendidas por ano.

3. VEÍCULOS PESADOS (caminhões e ônibus)

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Ahhhh, o segmento de veículos pesados… deixei para o final a nossa cereja do bolo! Com mais de 157 mil veículos vendidos, o setor registra crescimento de 14,5%, sobre o mesmo período do ano passado, quando tivemos 137,1 mil veículos vendidos.

O setor de veículos pesados mostra uma série de boas notícias para nós.

Por exemplo:

As vendas de ônibus estão com crescimento de 15,2%. Estamos percebendo uma renovação gradual na frota de ônibus de alguns municípios e, acima de tudo, registramos crescimento de quase 40% nas vendas de ônibus rodoviário. Ou seja, o consumidor está optando por fazer suas viagens de ônibus, uma vez que estes apresentam melhor qualidade. Talvez, aqui, alguém possa fazer algum estudo mostrando essa inversão no transporte modal e correlacionar com “prazerosos” balanços da TAM e da GOL.

Já as vendas de caminhões, com crescimento de 14,4%, mostram uma demanda por caminhões extra-pesados, onde concluímos que ocorre um grande investimento por parte das empresas de logística, responsáveis pelos transportes de cargas e mercadorias. Assim, registramos crescimento de quase duas vezes da média nacional para os Estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul; ou seja, nos polos agrícolas.

Para encerrar, a marca de grande sucesso deste ano, não é a Toyota com o seus Etios ou a Hyundai com o seu HB20, mas, sim, a Scania.  A fábrica de caminhões (e ônibus também), registra este ano crescimento de 100%. Mas não cresceu com o lançamento de um novo carro (como o HB20 ou Etios), pois não lançou nenhum novo modelo de caminhão. O seu crescimento está atrelado a demanda de caminhões da categoria extra-pesado, ou seja, aumentei em 100% minhas vendas ofertando caminhões com preço médio de R$ 350mil.

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva