Setor automotivo brasileiro definha

Prejudicado pela pandemia e escassez de semicondutores, registramos as vendas de veículos no nível mais baixos dos últimos 15 anos

Raphael Galante

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Caros leitores, digníssimas leitoras: acabamos de sepultar o mês de novembro e, no ramo automotivo, tivemos ridículos 160 mil carros vendidos.

O que significou um crescimento de 6,9% sobre o mês passado (outubro) quando foram vendidos pouco mais de 150 mil carros. Comparando com o mesmo resultado do ano passado (novembro/2020), o setor registrou queda de 25%, quando comercializamos em novembro de 2020 quase 215 mil veículos.

Este resultado no mês de novembro – que, historicamente, é um mês bom junto com dezembro – só é o pior novembro dos últimos 16 anos.

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O grande paranauê que queremos apontar é que o setor automotivo vem definhando ao longo dos últimos anos… Os dados que aquele pessoal – no melhor estilo Poliana de ser – irá apontar é que no acumulado deste ano (janeiro a novembro), o setor registra crescimento de 3,6% sobre o mesmo período do ano passado. Temos 1,78 milhão de carros vendidos contra 1,72 milhão sobre o mesmo período do ano passado.

O que é verdade…

Já indo naquela nossa vertente rodriguiana de: mostrar a vida como ela é; o encerramento do mês de novembro com as suas 160 mil unidades sepultou de vez toda e qualquer chance do setor registrar crescimento nas vendas neste ano. O mês de dezembro que acaba de se iniciar, deverá encerrar com volume de vendas entre 165 a 170 mil veículos, o que representará uma retração de 24% sobre o mês de dezembro de 2020.

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Na verdade, neste mês, registraremos o sexto mês consecutivo de queda nas vendas, o que implicará em um ano perdido com nova retração.

O que as montadoras imaginavam para este ano, era se recuperar totalmente das paralisações da Covid-19 (do ano passado), que pegaram em cheio as suas linhas fabris. Mas, os problemas na cadeia de suprimentos, causados pelas ondas persistentes do Covid-19, escassez de material (faltou até papelão, para embalar as peças), chips e outros fatores, levou grande parte das fábricas à paralisações e corte de produções.

O ponto central deste texto é mostrar que o setor automotivo brasileiro vem definhando há tempos.

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Se antes o setor era atração para investimentos de bilhões de dólares e criação de empregos, hoje ele definha! Prejudicado pela pandemia e escassez de semicondutores, registramos as vendas de veículos no nível mais baixos dos últimos 15 anos.

Apesar do setor ter uma imagem um tanto quanto “complicada” para grande parte dos consumidores, não podemos deixar de apontar que o setor é responsável por 20% do PIB Industrial e empregava (diretamente) quase meio milhão de pessoas.

Há quase duas décadas atrás, as montadoras investiram algumas dezenas de bilhões de dólares imaginando um mercado doméstico com volume médio de 4 milhões de unidades, e em alguns estudos projetavam mercado interno de 6 milhões de veículos. Hoje não estamos fazendo nem 1/3 do que foi imaginado.

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O ponto central aqui é de que o setor automotivo (visão global) está passando por um processo de eletrificação de seus veículos, e isso já não é mais o futuro – é o agora! E, aqui em terras tupiniquins, apresentando resultados pífios no período de 2015 até 2022, não existe um cenário factível de que toda essa inovação/avanço tecnológico chegará por aqui nessa primeira onda.

Ou seja, não vai chegar nem uma marolinha…

Na parte de eletrificação, teremos produtos pontuais, como os carros do mundo de Caras vindo no conceito eletrificado. Mas estamos falando de nem 2% do mercado, contra quase 25% em alguns mercados europeus.

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O que não conseguimos vislumbrar é se daqui para frente veremos uma grande entrada de investimentos estrangeiros, como foi no passado. E, para colocar um pouco mais de água no chopp, isso (falta de investimentos), tenderá a ser um grande obstáculo para o setor voltar a se recuperar.

O grande problema que assolou a cadeia de suprimentos do setor automotivo – em nossas projeções – chegou a diminuir o crescimento do PIB brasileiro em quase 0,75%. E, o pior de tudo, é que ano que vem, não será tão diferente.

Além de perdermos o bonde da história, este estado de inanição impacta em toda a dinâmica do setor: fora o sofrimento das montadoras; temos o pessoal das autopeças; as concessionárias; lojistas e outros correlatos (um parêntese: os bancos não entram nessa história… 2021 “FOI” o melhor resultado que eles tiveram – FOREVER AND EVER).

A falta de semicondutores é um problema de curto prazo, mas várias tendências de longo prazo, estão se antecipando e gerando dúvidas no horizonte. Uma delas é sobre os carros eletrificados, o qual já mencionamos. Outra é de que boa parte das montadoras priorizou produtos de alto valor agregado (de alta rentabilidade) em detrimento a outros.

Além disso, existe a mudança tecnológica (imposta por normativos federais). Em resumo, todas estão apostando no mercado de SUV e matando o segmento de carros pequenos/entrada/populares, vide que já estamos programando o velório do Fiat/Uno e do VW/Gol – sendo que esse último detém o título de carro mais vendido em diversos anos.

Aí, a grande pergunta que todos querem saber (e aqui estou pagando um picolé de limão para quem me der a melhor resposta): Onde estão os 3-4 milhões de consumidores dispostos a comprar carros novos a partir de R$ 100 mil?

Ainda mais que em 2022 – segundo o FOCUS – teremos o país crescendo por volta de 0,6% e um PIB Industrial com crescimento nulo.

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva