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Caros leitores; digníssimas leitoras: nos últimos tempos, recebemos diversas notícias vindas de nossos hermanos argentinos.
O último “criacionismo” do governo de Alberto Fernández, vulgo “poste da Cristina Kirchner”, (igual a Haddad, com o Lula), foi o congelamento dos preços dos serviços de telefonia, internet e TV a cabo.
Bom, esse processo de “congelamento” de preços e estatização de empresas (como a processadora de soja Vicentin), entre outras medidas populistas, lembra muito aquele conceito “crássico”: esperamos um resultado diferente das tradicionais e recorrentes besteiras que sempre fazemos.
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Mas, seguindo o ensinamento do Milton Leite: segue o jogo!
O ponto central aqui é falar sobre o mercado automotivo, que é o foco central do estagiário (além de passar, muitíssimo bem, o café).
Pois bem, o mercado automotivo brasileiro fechou os primeiros sete meses do ano com retração de 37,5%, e já entrou em um período (de uma possível) recuperação.
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Mas, se olharmos como se comporta o mercado dos nossos vizinhos argentinos, a situação é um pouco pior do que a nossa.
O ponto central é que devido a pandemia da Covid-19 eles estão vivendo uma “Quareterna”. Tanto que os anseios populares – que vem ocorrendo – são de que haja um pouco de flexibilização nesta quarentena, que está ficando cada vez mais maior para eles…
Se os caboclos que participam do relatório Focus do Banco Central apontam para uma retração de 5,7% no PIB brasileiro, na Argentina, a grande maioria dos analistas aponta para uma queda entre 9% a 12%.
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Este ano tem tudo para registrar o pior resultado econômico na história do país. A maior retração na economia argentina foi em 2002, quando o PIB caiu 10,9%.
Naquela época, o país era governado pelo partido Justicialista (o mesmo do atual presidente). Além disso, num período de 17 meses, eles tiveram três presidentes, sendo o último Nestor Kirchner, marido de Cristina (percebeu o efeito Orloff que está sendo construindo?).
E a crise atual já impactou nas vendas de veículos. No acumulado de janeiro a julho, a retração bateu a casa dos 40%. E não existe qualquer perspectiva de melhora no mercado automotivo para os nossos hermanos do Sul.
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Ao longo da última década, o mercado argentino correspondia por 20% do mercado brasileiro. Já nesses últimos dois anos, ele vai representar um pouco mais de 10%.
Os melhores índices de razão entre o mercado argentino e brasileiro aconteceram entre os anos de 2016 e 2018, no antigo governo liberal (pero no mucho) do presidente anterior, Mauricio Macri.
Mas o grande ponto do mercado automotivo argentino que a gente quer abordar aqui é: se a economia argentina é um clássico tango (já que ela carrega enorme carga emocional, dramática e trágica), por que raios o carro argentino consegue ser mais barato que o brasileiro?
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Pior ainda: porque o carro de origem brasileiro é vendido mais barato no mercado argentino?
O pessoal da Karvi (você pode conhecê-los aqui, mas, em resumo, ele é uma plataforma digital – e internacional – de vendas de carros, que integraliza os estoques das concessionárias) fez um estudo sobre a diferença de preços dos carros novos entre o mercado argentino e o brasileiro.
Sente o drama:
MODELO | PREÇO AR EM DÓLAR OFICIOSO | PREÇO BR EM DÓLAR OFICIAL | ORIGEM | DIFERENÇA PERCENTUAL |
VW/T-CROSS | $ 11.268 | $ 16.232 | BRASIL | -11% |
FORD/KA | $ 7.223 | $ 8.592 | BRASIL | -16% |
JEEP/COMPASS | $ 16.440 | $ 19.194 | MEXICO | -14% |
FIAT/CRONOS | $ 7.205 | $ 10.419 | ARGENTINA | -31% |
GM/ONIX | $ 7.911 | $ 9.486 | BRASIL | -17% |
Vamos a algumas conclusões:
– Na Argentina, não dá mais para usar o dólar oficial. É preciso usar o “oficioso” ou informal mesmo.
Breve resumo: é sabido que durante muito tempo a economia argentina foi dolarizada. E no período entre 2003 e 2015, as gestões de Nestor e Cristina Kirchner, muito “çábios”, implementaram uma série de medidas de restrições na economia, o que gerou uma série de câmbios.
Na gestão anterior, isso tinha morrido. Mas adivinha só quem voltou? Hoje, são uns 12 tipos de dólar na Argentina: dólar oficial, nácion, mayorista, paralelo, soja, carne, milho, vinho, solidário (o meu favorito, no qual você paga 30% a mais nas suas faturas do cartão de crédito em compras no exterior), entre outros.
– Existe uma senhora diferença no custo de produção dos veículos. O argentino é mais barato, principalmente em energia elétrica e mão de obra, além de uma margem de lucro maior praticada pela indústria brasileira;
– Na média, o argentino possui um PIB per capita 30% maior que o brasileiro, de acordo com dados de 2018;
– E os hermanos lá da KARVI deram mais uma explicação bem interessante: “Na Argentina, a crise macroeconômica que já existia antes da pandemia levou à restrição de importação de carros. Por conta disso, a restrição de estoque nas concessionárias é cada vez menor. A existência de múltiplas taxas de câmbio torna muitos carros muito baratos, se considerarmos o valor do dólar informal. Isso significa que há uma demanda maior em relação à oferta e, portanto, aumento de preços que excedem a taxa de inflação…”
Tradução: os argentinos estão vendo o carro como um ativo, uma forma de você proteger o seu dinheiro contra a inflação. Basta ver que, em 2019, a inflação foi de quase 54%, a maior desde 1991. Neste ano, ela já bateu 15,8%, ou 42,5% nos últimos 12 meses.
Existe também um ponto extremamente perverso para a indústria automotiva.
Quando as montadoras que ficam acima da linha do Equador decidiram se instalar no Brasil, elas não viam apenas o Brasil (afinal de contas – para eles – da linha do Equador para baixo é tudo uma coisa só). Eles estavam de olho em todo esse mercado do Cone Sul.
E a Argentina é (era) um mercado importante. Um mercado de 1 milhão de veículos, que hoje vai vender 75% a menos do que o seu target (o Brasil está com -45%).
Com as novas (que são as mesmas do passado) políticas colocadas em prática, não podemos esperar um final feliz no futuro.
Para finalizar, caro leitor, se você se sentiu “çábio” o suficiente para ir até a Argentina e comprar um carro para usar em terras tupiniquins, saiba que “não é bem assim que as coisas funcionam”. Tire essa ideia da cabeça.
E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui. Ou me segue lá no Facebook, Instagram, Linkedin e Twitter.
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