Melhores do ano: Carros chineses

O destaque entre as marcas neste ano foi a ascensão de BYD e GWM, um movimento nunca visto no mercado brasileiro

Raphael Galante

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GWM Haval (Divulgação)
GWM Haval (Divulgação)

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Caros leitores, digníssimas leitoras,

Como já falamos na última coluna, o grande destaque do setor automotivo neste ano foi a venda de picapes. Elas encerrarão 2023 como o tipo de produto que teve o maior crescimento em vendas. Nesse cenário, a Ram foi uma das marcas que mais se beneficiou dessa demanda, devendo fechar o ano com alta de cerca de 250% nas vendas sobre o ano passado.

Mas, com o devido respeito à Ram, apesar do excelente desempenho, o destaque entre as marcas neste ano ficou com a ascensão das chinesas: BYD e GWM.

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E, já antecipando 2024, dá para dizer que elas também serão o grande destaque do próximo ano.

A ascensão das duas marcas chinesas foi uma coisa nunca vista no mercado brasileiro, considerando o ticket médio dos produtos vendidos. A BYD, em especial, ocupa hoje (21/12) a 16ª posição entre as marcas que mais vendem no mercado brasileiro. Mas a probabilidade de ela fechar o ano na 15ª posição, ultrapassando a Ram nos últimos dias de 2023, é imensa!

A BYD deverá fechar 2023 com um market share na casa de 0,78%, enquanto a GMW deve ficar perto de 0,49%. Se incluirmos o share de 1,45% da Caoa-Chery, podemos decretar que as marcas chinesas encerrarão este ano com share de 2,72%.

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Mas essa não é a realidade do mercado – e nem destas marcas. Notem no gráfico acima que as duas marcas só começaram a trabalhar “efetivamente” no mercado no final do primeiro semestre.

Se pegarmos o resultado deste mês até 20/12, a BYD já chegou ao share de 2,13%, ultrapassando marcas “tradicionais” como Peugeot, Citroen, Caoa-Chery, Ford e Mitsubishi, entrando de vez no top 10.

Neste mês, as três chinesas não estão com share de 2,72% no acumulado do ano. Em dezembro, as três fecharão o ano com share de 5%.

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E essa é a nova realidade!

Mas aí você vai apontar o dedo para mim, lembrando que, num passado recente, falei sobre a derrocada do mercado de carros eletrificados, foco central dos produtos de BYD e GWM.

Na visão deste vil estagiário nada mudou. O processo de “popularização” dos carros eletrificados, que tenderia a andar mais rápido, demorará alguns anos a mais. Como diz aquele velho ditado: “Aos amigos, tudo! Aos inimigos, a lei!”. Afinal de contas, o (des)governo federal decidiu voltar com a alíquota de 35% de imposto de importação de veículos eletrificados para tentar ajudar as montadoras já instaladas no Brasil, resguardar os empregos da cadeia e blá, blá, blá…

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O que o (des)governo federal não percebeu é que concorrência (em qualquer mercado) é excelente! O ponto central aqui é que os chineses mudaram a dinâmica do carro eletrificado. Eles entraram forte trazendo produtos de ponta com alta atratividade de preço. Os carros de entrada da BYD e GWM estão na casa de R$ 150 mil. E a BYD também prometeu trazer um carro pequeno elétrico na casa de R$ 100 mil a R$ 130 mil. É caro? É! Mas lembre-se que o hatch pequeno mais vendido do país é o GM Onix, com preço entre R$ 82 mil e R$ 112 mil. Ou seja, ele vai entrar para brigar com uma parte do Onix “TOP”. E sim, concordo com vocês: pagar R$ 112 mil num Onix “TOP” é do peru!

Além disso, as chinesas obrigaram seus concorrentes a derrubarem os preços. Um último exemplo veio da Peugeot: seu 2008 elétrico, que custava R$ 199.990 no começo do mês, teve o preço derrubado para R$ 159.990.

Olha só! A concorrência fez uma montadora derrubar o preço do seu produto em R$ 40 mil?

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Quer mais? Esse carro, quando foi lançado, tinha o preço de venda de R$ 259.990. Ou seja, em menos de um ano, o carro recebeu um desconto de R$ 100 mil.

Mas qual é o futuro de BYD e GMW?

O primeiro ponto que notamos é que existe um processo de expansão num ritmo forte da rede de concessionárias (pontos de vendas).

Quanto mais eu aumento a minha capilaridade, melhor será para mim. O segundo ponto é que BYD e GMW têm cacife suficiente para bancar uma operação por dois-quatro anos até o início da operação fabril, diferente das outras chinesas (Jac e Effa, por exemplo) que vieram “na zoeira”! Quando se fala em carro eletrificado, toda tecnologia de ponta é chinesa. Até as montadoras aqui instaladas tentarem algo similar, o estrago já estará feito.

Finalizo com um “momento mãe Dinah”: quando BYD e GMW estiverem operando com as suas fábricas em terras tupiniquins, elas deverão abocanhar de 10% a 12% do mercado.

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva