“Fogo no parquinho”: os impactos da fusão Localiza-Unidas no setor automotivo

A fusão das duas locadoras "vai sacudir, vai abalar" não apenas o mercado de locação, mas também vai mexer com as montadoras que estão instaladas no Brasil

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

(Divulgação)
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Caros leitores, digníssimas leitoras; o grande destaque desta semana – até agora – vai para as locadoras. No tocante aqui, para a Localiza e para a Unidas. Eles incorporaram o mais puro ensinamento do axé baiano, quando noticiaram uma possível fusão que “vai sacudir, vai abalar” o mercado de locação. Ou seja, “é muita emoção no ar”!

O ponto central desta informação é que ela foi um tapa na cara do estagiário, que nem cogitava algo desse tipo.

Mas, como “Agora é tarde, Inês é morta”, vamos analisar alguns pontos principais que essa fusão pode gerar:

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Guerra de preços: segundo o relatório da Localiza, a possível fusão das duas empresas criará uma nova companhia com participação de 68% no segmento de aluguel de carros.

O ponto aqui é que, nos últimos anos, aconteceu uma baita guerra de preços entre as locadoras – o que era excelente para o consumidor. E, convenhamos, a melhor maneira de uma empresa parar com isso é comprar seu principal concorrente.

Isso não quer dizer que os preços vão aumentar do dia para a noite – o pessoal quer colocar algumas regras na bagunça que se gerava.

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Gestão de frotas: num passado não tão distante, o BC lançou normativo que induzia os bancos a desmobilizar suas posições em imóveis, para cumprir os seus parâmetros de liquidez.

No atual momento, grande parte das empresas está fazendo o plano de desmobilização de suas posições em veículos; elas querem (e necessitam) de maior liquidez.

O segmento de gestão/terceirização de frotas é um dos que apresentarão melhor potencial de crescimento para os próximos anos. Essa é a tendência que grande parte das empresas está traçando.

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E, aqui, a Localiza consegue melhorar a sua atuação, visto que a companhia que é ponto de referência nesse segmento é a Unidas.

Seminovos: se a Unidas possui uma expertise maior em gestão de frotas, a Localiza dá de 10 na hora de vender os carros seminovos, ou melhor dizendo, na hora de vender o seu ativo imobilizado.

Sabemos que Localiza, Unidas, Movida e outras locadoras possuem em seu CNAE (atividade econômica) principal a atividade de “locação”. Mas seu principal ponto de rentabilidade é a venda do carro seminovo. Levar a eficiência da Localiza para o universo da Unidas é um senhor pulo do gato.

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Concorrência: Nos últimos tempos, Localiza e Unidas adquiriram uma série de pequenas e médias locadoras. A criação dessa nova empresa (que deve demorar um parto de elefante para acontecer) vai gerar um gap de oportunidades para outras locadoras médias e pequenas consolidarem as suas posições.

Empresas como a Movida e a Ouro Verde, por exemplo, terão um grande espaço para se expandir.

Montadoras 1: esse é um mercado em que as montadoras já estavam de olho. Temos uma Toyota, que lançou a sua locadora no ano passado – não satisfeitos relançaram a sua locadora como uma Mobilidade-como-um-Serviço (MaaS), por meio da Kinto, que já estava presente em mais de 29 países.

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Temos a septuagenária VW, com a Fleet Solutions e seus mais de 10 mil veículos à disposição. Além do dr. Carlos Alberto de Oliveira Andrade (CAOA) entrando neste segmento com a sua empresa de locadora, pois, afinal de contas, não basta ter três montadoras/marcas e mais de uma centena de concessionárias sob sua tutela.

Fora todas as outras montadoras que já possuem locadoras em outros países. Ou seja, a briga daqui para frente vai ficar boa.

Montadoras 2 (ou fogo no parquinho): vamos lá, recordar é viver: o boom das locadoras no Brasil tem uns 7-8 anos, ou seja, é recente. O que motivou esse crescimento?

Imagine uma indústria automotiva crescendo firme e forte desde 2004 até 2012 – o mercado era por volta de 1,5 milhão de carros e foi para 3,6 milhões em quase uma década!

O pessoal começava a pensar que: sim, o Brasil é o país do futuro e o futuro chegou! Então, investiu alguns bilhões de dólares e criou um parque industrial para produzir mais de 5,5 milhões de veículos.

Como o mundo e o Brasil degringolaram pra valer a partir de 2013 e 2014, nós hoje estamos trabalhando com 34% da capacidade máxima de produção. E, nesse momento de alta capacidade ociosa das montadoras, as locadoras entraram com toda força.

A conta é simples: as montadoras precisam ter um valor mínimo de produção para manter a operação da fábrica. E aí, as locadoras pintaram e bordaram!

Elas garantiam esse volume, com um preço muito acessível. O que corre à boca pequena no meio automotivo é que o monstro (locadoras) tinha crescido demais, e que É NECESSÁRIO dar um jeito nelas. Resumindo: o desconto que elas possuem ia diminuir, e diminuir bem!

Agora, com essa “nova MEGA locadora”, seu poder de barganha tenderá a ser o mesmo, ou talvez não diminuirá tanto. Afinal de contas, essa nova empresa será responsável por 2/3 do setor de locação de carros. Só sei que agora a briga será de cachorro grande!

Lógico que temos outros pontos, como a aprovação do Cade, as receitas estaduais querendo cobrar os tributos que cabem a elas, a insatisfação generalizada dos franqueados da Localiza e Unidas (principalmente da Unidas), que já não estavam contentes a muito tempo (já que as duas os estavam “asfixiando”), entre entre outras coisinhas mais…

Mas, para nós, acreditamos que está tudo tranquilo!

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva