Dez anos do anúncio do Bitcoin por Satoshi Nakamoto

Hoje faz exatos dez anos que Satoshi Nakamoto anunciava ao mundo sua grande invenção: "Bitcoin: um sistema de dinheiro eletrônico p2p" (Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System).

Fernando Ulrich

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Hoje faz exatos dez anos que Satoshi Nakamoto anunciava ao mundo sua grande invenção: “Bitcoin: um sistema de dinheiro eletrônico p2p” (Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System).

A mensagem de Nakamoto na lista de discussão de criptografia foi recebida com muito ceticismo. A primeira resposta, de James A. Donald, ilustrava precisamente a descrença no potencial do Bitcoin. “Nós realmente precisamos de um sistema assim, mas ele não parece poder escalar ao tamanho necessário.”

Contrariando os mais pessimistas, hoje o sistema criado por Nakamoto não apenas escalou, como representa uma das maiores façanhas da mente humana. Mais de 200 mil transações diárias, que equivalem a bilhões de dólares movimentados, a um custo ínfimo, com rapidez e segurança. Em quase dez anos de funcionamento, o blockchain do Bitcoin, o grande livro contábil da rede, jamais foi corrompido. Não há sequer um caso de fraude.

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Simplesmente não há forma mais segura, rápida, barata de transferir valores de A para B, em qualquer ponto da terra, e sem depender de um intermediário ou de uma autoridade central. Um sistema que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano, com uma taxa de uptime de mais de 99,9%. E tudo isso, repito, sem uma autoridade central.

Que um sistema financeiro possa operar de tal forma, descentralizado, com incrível confiabilidade, é realmente um feito respeitável.

Aos economistas, não há experimento mais fascinante a ser estudado. Seria a evolução da instituição da moeda como a conhecemos? Seria apenas um novo ativo global e apolítico, o ouro digital? Um sistema de pagamentos sem fronteiras? Seja qual for a sua resposta, esse fenômeno não pode mais ser ignorado pela ciência econômica.

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Encarado sob uma perspectiva da ciência da computação, o Bitcoin trouxe ao mundo a ideia do consenso distribuído, da confiança dispersa. Nakamoto forneceu a primeira resposta a um problema teórico proposto em 1982, “O Problema dos Generais Byzantinos”, e até então insolúvel pelos cientistas de computação. Por esse motivo, a invenção do Bitcoin é antes de mais nada uma verdadeira descoberta científica.

Além disso, o advento da tecnologia tem sido responsável por um ritmo de inovação impressionante, catalisando avanços em ciência da computação e desbravando um novo campo de conhecimento científico.

Alguns críticos afirmam que essa grande inovação é uma “solução em busca de um problema”. Em realidade, todas novas tecnologias disruptivas, especialmente as chamadas tecnologias de base (foundational technologies), sofrem desse mal: opiniões precipitadas e, muitas vezes, míopes. Que aplicações tinha a energia elétrica quando surgiu mais de um século atrás? E com a própria internet, o que poderíamos fazer em 1990? Enviar correio eletrônico? Para quem se quase nenhuma pessoa tinha um endereço eletrônico à época.

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Com o Bitcoin não é diferente. Acredito, cada vez mais, estarmos diante de uma tecnologia de base, a fundação tecnológica que permitirá o desenvolvimento das mais diversas aplicações, muitas das quais nem podemos ainda imaginar sequer prever. Assim como a própria eletricidade. Assim como a própria internet.

Transformações tecnológicas não acontecem em um punhado de anos. Na verdade, os efeitos de inovações disruptivas são assimilados ao longo de décadas. Até o momento em que não são nem mais questionados. Passam a fazer parte do cotidiano, parte da realidade, parte da infraestrutura mundial. Assim como a eletricidade. Assim como a internet.

Alguém consegue imaginar um mundo sem energia elétrica? E sem internet? O mero ato de levantar tais perguntas é, hoje, um desatino. Creio que em algumas décadas o mesmo ocorrerá com o Bitcoin.

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Por ora, comemoremos esta data simbólica, este marco histórico. Dez anos do Bitcoin. Satoshi Nakamoto deve estar orgulhoso.

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Fernando Ulrich

Fernando Ulrich é Analista-chefe da XDEX, mestre em Economia pela URJC de Madri, com passagem por multinacionais, como o grupo ThyssenKrupp, e instituições financeiras, como o Banco Indusval & Partners. É autor do livro “Bitcoin – a Moeda na Era Digital” e Conselheiro do Instituto Mises Brasil