Publicidade
O presente artigo é sobre operações automatizadas em renda variável, mais especificamente em Bolsa de Valores. Poderia, porém, servir para qualquer uma das grandes mudanças ao longo da história. A mudança assusta, e gera desconfiança. Foi assim quando trocamos os cavalos por motores, as máquinas de escrever pelos computadores, as câmeras fotográficas analógicas pelas digitais (e posteriormente pelos celulares) e, muito provavelmente, foi assim quando trocamos a pedra lascada pela pedra polida, ou a última pelo metal.
As operações em bolsa de valores sofreram uma grande revolução com a popularização da internet, que permitiu a praticamente qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, enviar ordens de compra e venda através de um Home Broker. Apesar disso, as estratégias de operação continuaram essencialmente as mesmas. A análise dos preços através de candles, por exemplo, data do século XVIII, nas antigas bolsas de arroz de Osaka, no Japão. O que os computadores fizeram pela área, no início, foi apenas automatizar essas análises. Ao longo dos anos, porém, a capacidade dos sistemas de “ler” o mercado, e de processar informações, foi evoluindo, e novos tipos de análises, muito mais sofisticadas, começaram a aparecer. Com isso, os traders que analisavam alguns poucos ativos, passaram a ter a capacidade de acompanhar dezenas, ou até centenas de ativos simultaneamente. E foi justamente aí que começaram os problemas de execução.
O sucesso nas operações de trading dependem de duas questões: o planejamento (análise) e a execução. Com a evolução da análise, que falamos no parágrafo anterior, a execução passou a ser a restrição, a parte crítica do sistema. Apesar de poder acompanhar virtualmente centenas de ativos, o operador dependia de uma execução manual, extremamente sujeita a falhas. De que adianta acompanhar e processar milhares de dados por segundo, se conseguimos enviar algumas poucas ordens? Além disso, a execução de uma estratégia depende, além do timing, de uma disciplina militar. Até os traders mais experientes muitas vezes caem na armadilha de “buscar” um prejuízo aumentando o tamanho das posições, e indo contra o planejamento inicial. Resumindo: por mais que as análises evoluam, o aumento da taxa de acerto só vai acontecer se conseguirmos melhorar a execução. E é justamente aí que a automatização está causando a grande revolução.
Continua depois da publicidade
Com os sistemas modernos de negociação, como o MetaTrader 5, é possível planejar minuciosamente uma estratégia, descobrindo qual o melhor setup dentre milhões (ou até bilhões) de possibilidades, por períodos longos, em uma fração do tempo que alguém levaria manualmente. Na prática, é impossível alguém realizar estudos de 1 ano, por exemplo, num timeframe de 1 minuto, simulando execuções em 10 bilhões de combinações diferentes, algo que o sistema faz em poucas horas. Além disso, eliminamos completamente o fator “disciplina”, pois o robô é 100% disciplinado, jamais operando fora daquilo que foi planejado. Pode-se definir objetivamente quando operar, qual o limite de ganho ou perda no dia, e seguir à risca a estratégia.
É claro que isso gera uma grande discussão, com argumentos bastante fortes de ambos os lados. De um lado, algumas pessoas abraçam a mudança, e procuram rapidamente se adaptar e tirar proveito dessa nova tecnologia de operação. De outro, existe o argumento de que jamais um software poderá superar a capacidade de leitura e análise subjetiva de um ser humano. Ainda é cedo para sabermos quem vai vencer essa “briga”. O fato é que, em maio de 1997, em meio a calorosas discussões sobre automatizações causadas pela então recente popularização dos computadores, o Deep Blue, supercomputador e software criados pela IBM especialmente para jogar xadrez, e capaz de analisar aproximadamente 200 milhões de posições por segundo (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Deep_Blue), venceu o russo Garry Kasparov, então campeão do mundo. Além disso, atualmente usamos motores ao invés de cavalos, computadores ao invés de máquinas de escrever, e celulares ao invés de câmeras fotográficas analógicas.
É certo, então, que a área de robôs de investimento verá um crescimento exponencial nos próximos anos, com a poderosa combinação de traders, estratégias, sistemas, e programadores. Foi assim em todas as áreas, e não tem porquê ser diferente na nossa.
Continua depois da publicidade
Fabiano Oliveira, formado em Administração de Empresas e Mestre em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas/EBAPE. Foi professor em diversos cursos de Graduação e Pós-Graduação na SOCIESC, em Santa Catarina, e coordenador de curso na Anhanguera Educacional. Trabalhou na XP Investimentos como responsável pelo MetaTrader 5. Atualmente é CEO da AlgoTrading Algoritmos.fabiano@algotrading.com.br