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Ao se afastar das teorias econômicas mais extremas do Marxismo e do Liberalismo Clássico, John Maynard Keynes reinventou a teoria econômica capitalista, tornando-se um dos maiores e mais famosos economistas de todos os tempos.
Suas ideias foram as raízes que influenciaram o New Deal em 1933, o plano implementado pelos EUA que tornou possível a solução, de forma excêntrica até então, da maior depressão da história: A famosa crise iniciada pelo “crash” de 1929.
Em 1936, Keynes sintetizou essas ideias na publicação de sua obra mais famosa, o livro “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda”. Com novas teorias mais próximas da realidade em alguns casos, a forma como a economia passou a ser conduzida mudou em grande parte do mundo, tendo seus princípios seguidos até os dias de hoje.
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Uma das bases principais de sua teoria foi o que ele chamou de “animal spirit”, ou “espírito animal”, conceito que explica que as decisões de investimentos dos empresários dependem de suas expectativas em relação à “eficiência marginal do capital”, isto é, o retorno (ou lucro, grosseiramente falando) que seus investimentos terão. Dessa forma, é o espírito animal que faz com que um determinado empresário aceite correr os riscos de uma incerteza futura em busca de maiores lucros. Uma vez que as expectativas dos empresários em relação ao futuro dos negócios de uma economia sejam negativas, seu “espírito animal desmotivado” impedirá que novos investimentos sejam feitos, independentemente dos incentivos que lhe forem dados.
O ponto que quero chegar aqui é que o cenário que se observa hoje no Brasil não é de apenas um espírito animal distante, mas também de uma desmotivação crescente nesse sentido nos últimos anos.
Uma forma de quantificarmos essa motivação dos empresários é composta pelo Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
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Como se vê, desde o pico alcançado no último ano do governo Lula de 68,5 pontos em janeiro de 2010, o ICEI vem despencando sequencialmente, ficando cada vez mais próximo da linha dos 50 pontos, patamar considerado pelo índice como divisor entre a confiança e desconfiança do empresariado em relação ao futuro da economia.
Em 2013 o índice perdeu mais 3,1% de seu valor, passando de 57,4 em dez/12 para 54,3 em dez/13. Avaliando os dados desagregados o cenário é ainda mais preocupante, uma vez que as expectativas dos empresários em relação à economia brasileira passaram de 56,9 para 51,3, uma queda de 9,84%. Quando questionados em relação às condições atuais da economia brasileira o índice já está abaixo do patamar dos 50, passando de 46,7 em dez/12 para 41,0 em dez/13.
Os motivos já são conhecidos de todos: intervenção do Estado excessiva (de forma ineficaz), um Ministro da Fazenda desgastado e com credibilidade cada vez mais abatida, descontrole fiscal e “alquimias financeiras”, crescimento do PIB que dizia-se entre 4 e 4,5% tornaram-se medíocres 2 a 2,5%, inflação que deveria buscar o centro da meta de 4,5% persiste nos 5,5 a 6%, e daí por diante.
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A Presidente Dilma é economista, conhece bem a Teoria Keynesiana, assim como boa parte de seus assessores e sabe o que está acontecendo. Sabe-se o porquê não conseguimos passar dos vergonhosos 19% do PIB em investimentos e transmitir confiança à nossos empresários, mas a ideologia não a permite fazer as mudanças necessárias e agora a nova culpada de afugentar o espírito animal e os investimentos privados é a tal “guerra psicológica”.
Curiosamente, Keynes defendia a intervenção do Estado na economia em momentos de crise e estagnação nos quais o espírito animal não inspirasse investimentos privados, contudo hoje a sensação que se tem no Brasil é que a intervenção pelos caminhos que tem sido escolhidos (como nas tentativas de privatização malsucedidas ou o próprio caso das elétricas) “mais atrapalham do que ajudam”.
Não há uma “guerra psicológica” acontecendo no Brasil. A queda na confiança do empresário se acentuou justamente no período em que as intervenções mais pesaram como mostraram os dados da CNI. E o ponto mais fundo da série até então veio junto às manifestações, mostrando que não é apenas o empresariado, mas a população como um todo que está insatisfeita e insegura. Os dados estão disponíveis para todos e a análise e interpretação geral é de que as coisas não vão bem como estão. E um ano eleitoral não ajuda muito a situação.
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O que devemos nos perguntar e buscar respostas é: Afinal o que faria um empresário imobilizar parte relevante de seu capital diante de riscos e incertezas futuras no lugar de emprestá-lo ao governo com risco praticamente nulo à uma das taxas reais de juros mais altas do mundo? Em resumo, como poderemos aumentar a Eficiência Marginal do Capital (ou a lucratividade desses investimentos) desses empresários de forma a torná-la mais atrativa?
2014 promete ser um ano difícil mais uma vez. Esse ano a única certeza que temos é que ainda virão muitas surpresas.