Que Bolsonaro não se iluda

Que Bolsonaro não se iluda, a maioria não hesitará em criticar o governo caso as reformas necessárias para a retomada da economia não sejam conduzidas como a necessidade impõe

Mario Vitor Rodrigues

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Não têm sido raros os percalços do governo Bolsonaro até aqui. Sendo que, pelo menos para quem acompanha política há algum tempo e não se deixou levar pela efervescência eleitoral, o primeiro deles não surpreendeu.

O episódio envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz e o senador Flávio Bolsonaro ainda não foi esclarecido mas, ao revelar um esquema de funcionários-fantasmas nos gabinetes da família ungida pelas massas, já rasurou de maneira irreversível o manifesto anticorrupção bolsonarista.

O mesmo vale para a nomeação do filho do vice-presidente, general Hamilton Mourão, no Banco do Brasil. Idem para a ciranda na Apex — sempre favorecendo pessoas que passaram os últimos meses inflando a candidatura de Jair Bolsonaro — e para o recente imbróglio na Funai, tendo como atores os ministros Sérgio Moro e Damares Alves.

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Contudo, há uma considerável parcela da sociedade indiferente a esses e aos próximos tropeços que certamente virão. Pensando bem, indiferente não é o termo correto. Trata-se, no fundo, de um estado de negação.

Quaisquer desculpas são válidas para explicar situações que possam ferir a confiança no governo. Começando pela demonização da imprensa.

Pois bem, esse grupo existe e não é pequeno, mas que o presidente não se iluda: não corresponde à maioria do eleitorado responsável por guiná-lo à Presidência. Na verdade, esse atende a um sentimento bem mais forte do que a ojeriza ao politicamente correto, os ditos valores familiares ou o deslumbramento por Olavo de Carvalho.

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Falo, é claro, do antipetismo.

Bolsonaro deveria estar preocupado. Preocupado com a reforma da Previdência, muro fundamental a ser vencido se quiser continuar no poder e ao mesmo tempo assunto delicado quando se trata dos militares.

Preocupado com o clima de insegurança inadmissível, embora esperado, no Nordeste. E com essa falta de traquejo gritante nesses primeiros dias de mandato, inclusive gerando momentos de desgaste desnecessários.

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Contudo, também deveria frear a arrogância da sua tropa, mais afeita aos palanques, e atentar para essa realidade: se a maioria dos brasileiros preferiu vê-lo subindo a rampa, foi porque a alternativa seria o retorno do PT ao poder.

Por esse motivo, essa mesma maioria não hesitará em criticar o governo caso as reformas necessárias para a retomada da economia não sejam conduzidas como a necessidade impõe. Tampouco levará muito tempo para criticar comportamentos escusos, típicos de uma política tradicional que supostamente se encerraria com a sua vitória no último pleito.

Em resumo, a eleição acabou. E os súditos pacatos não são tão numerosos assim.

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