Paulo Guedes não decepciona até aqui

A torcida contra o novo governo pode ser forte. E naturalmente o é, dado o compreensível pêndulo ideológico que se apresenta. Todavia, não cabe outra coisa a não ser constatar o acerto na escalação do time que deverá recuperar o Brasil após 13 anos de petismo no poder

Mario Vitor Rodrigues

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(Fernando Frazão/ Agencia Brasil)
(Fernando Frazão/ Agencia Brasil)

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Entrevistei Paulo Guedes uma vez. Não foi exatamente uma entrevista longa, mas o motivo é compreensível: o papo se deu no dia 6 de setembro último, dia em que Jair Bolsonaro, candidato à Presidência, sofreu um atentado em Juiz de Fora.

Devo admitir, a minha impressão após a conversa que tivemos foi a pior possível. Economista, mas então com ares de guru infalível, Paulo se mostrou arredio. Pensando bem, arredio é pouco. Passou muito perto da grosseira. Não se mostrou confortável perante a possibilidade de abrir o flanco para um representante de uma imprensa, que, dizia-se à época e ainda hoje, trabalhava contra o futuro governo.

Da entrevista propriamente dita restou muito pouco. Tanto ele quanto eu ficamos abalados com o acontecido e com as informações àquela altura tão dramáticas. Bolsonaro sofria risco de vida? Sobreviveria? Poderia Mourão ser considerado eleito, dada a indignação que se avolumava nas redes sociais?

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Todavia, mesmo respeitando o sentimento daquele que foi vendido como fiador de um presidente ignorante em economia, área tida como crucial por grande parte da sociedade se o país quiser retomar tempos alvissareiros, insisto, a minha impressão foi a pior possível.

Claro, entendi perfeitamente a necessidade que teve o candidato em buscar um casamento de conveniência como aquele. Assim como entendi a do economista liberal, excluído do debate público, em se associar a alguém sem gabarito para debater um fiapo que fosse sobre matérias prementes para o país na área econômica.

O ponto é que Guedes assumiria um posto inadequado para alguém claramente desprovido de traquejo político. Pois, sim, a molecada arfante pela causa bolsonarista e grande parte da turma do chamado mercado não devem se iludir: ministro é cargo político. Não técnico.

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E, então, Paulo Guedes quebrou as minhas pernas quando começou a montar a equipe econômica, pinçando nomes com capacidade técnica e, acima de tudo, uma experiência que ele próprio não possui.

A torcida contra o novo governo pode ser forte. E naturalmente o é, dado o compreensível pêndulo ideológico que se apresenta. Todavia, não cabe outra coisa a não ser constatar o acerto na escalação do time que deverá recuperar o Brasil após 13 anos de petismo no poder.

Diga-se, a declaração de ontem do superministro, durante encontro com empresários e políticos na FIRJAN, de que está na hora de “meter a faca no sistema S”, não poderia ser mais alvissareira.

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Melhor, só mesmo a prensa que deu nos estados e municípios ao estabelecer políticas pró-reformas como contrapartida para o envio de recursos.

Se Lula tivesse eleito um ministro da Educação colombiano, este país estaria em chamas. Idem para a nomeação de representantes com um viés ideológico tão ferrenho quanto o de Damares Alves e Ernesto Araújo. Ou como Moro, que não vem se mostrando assertivo como se esperava, acima de tudo quando é questionado sobre os últimos quiproquós envolvendo o presidente eleito e seus filhos.

Entretanto, pelo menos até aqui, Paulo Guedes não merece nada além de elogios. Pode não durar muito, o discurso bolsonarista é vacilante em relação à reforma da Previdência e o de política externa não dialoga com o liberalismo prometido, mas o caminho que lhe cabe está sendo bem trilhado.

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