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A declaração de Eduardo Bolsonaro, filho do virtual futuro presidente da República, Jair Bolsonaro, não merece ironias ou ponderações moderadas: foi digna de um gângster. Grotesca. Típica de um menino mimado, daqueles bem arrogantes, que se veem acima de todos e, portanto, acreditam-se imunes ao peso das próprias palavras. Ainda que não seja mais menino ou garoto, como chegou a declarar o candidato.
Por outro lado, se uma ameaça tão clara ao STF não merece ironias ou ponderações moderadas, fica cada vez mais difícil se surpreender com a habilidade do clã Bolsonaro para dizer sandices. Eles ofendem conceitos básicos de humanismo e bons modos há tempos. Agora, pelo visto, se empenham em destilar com idêntico gabarito a própria ignorância gerencial às vésperas de assumir o poder.
Particularmente, confesso, o pleito em si já não me preocupa. Seja por uma questão de fé, ignorância ou revanchismo, a sociedade fez a sua escolha.
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E nem tampouco me assusta a hipótese de um degringolar democrático feroz. Não vejo espaço para um retrocesso democrático fundamental, ainda que estejamos para eleger um governo que não hesitará em tentar impor as suas vontades do jeito que der, mais ou menos como vem acontecendo desde 1989.
Não senhor, o ponto que mais me preocupa agora é outro. E está centrado mais em nós, como coletividade, do que propriamente nos políticos.
O que vem me incomodando, desde já, é a crescente sensação de que o eleitor ferrenho de Jair Bolsonaro não será capaz de criticar o governo quando surgirem evidências que imponham essa atitude — e, não duvidem, elas surgirão.
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Bem ao contrário, o que se percebe, não somente nas redes sociais, mas também em conversas de bar, é uma espécie de absolvição prévia. Boçalidades como essa dita pelo filho de Bolsonaro logo são empanadas pela pergunta em forma de argumento pretensamente irrefutável: e o PT?
Constatar que as pessoas estão ávidas para derrotar o PT nem que seja para substitui-lo pelo seu reflexo é desanimador, mas compreensível. O grande mérito de Bolsonaro foi ter vestido a fantasia na hora exata. Foi assim que conseguiu personificar a catarse antipetista.
Pior do que a sua eleição, entretanto, incluindo aí uma possível queda no nosso nível de civilidade e a tocada do governo em questões como a reforma da Previdência, será a adoção do comportamento habitualmente ligado ao eleitor petista durante os últimos anos. Uma incapacidade absoluta de criticar. A sistemática predileção por culpar os rivais e apontar seus podres em vez de assumir os próprios pecados.
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Isso já está acontecendo. E espero sinceramente que seja apenas fruto deste momento febril.
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