Em nome das reformas, que se comece a fazer política

A natureza do pacote vencedor nas últimas eleições naturalmente ancoraria qualquer governo, porém tende a causar efeitos ainda mais drásticos em um que se leva a sério

Mario Vitor Rodrigues

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Uma crítica recorrente a essa gestão que acaba de completar dois meses no poder diz respeito a seu discurso eleitoreiro. Ou seja, por se comportarem como se ainda estivessem em campanha — e não apenas o presidente e seus filhos, mas também ministros do primeiro escalão.

Tal retórica já seria suficientemente ruim por uma questão óbvia: o pleito terminou e há um país esperando para ser governado que não oferece segurança e bons serviços básicos a todos os cidadãos. Tampouco cuja economia esteja fiscalmente equilibrada e aberta a novos negócios. Entretanto, o prejuízo não termina aí.
Como sempre acontece quando um candidato populista toma uma disputa eleitoral de assalto — vide Fernando Collor, depois Lula e por fim Dilma —, a narrativa busca demonizar a política e o postulante se apresenta como se estivesse acima dos seus adversários. Além, até, do próprio sistema.

A natureza do pacote vencedor nas últimas eleições, um falatório recheado de platitudes e promessas inexequíveis, naturalmente ancoraria qualquer governo, porém tende a causar efeitos ainda mais drásticos em um que se leva a sério.

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Foi um alívio, portanto, quando tomei conhecimento de que o presidente dera passe livre ao ministro da casa Civil, Onyx Lorenzoni, para negociar com parlamentares a fim de passar a reforma da Previdência pelo crivo do Congresso. Inclusive determinando que as pastas estejam abertas para discutir a liberação de emendas com deputados e senadores.

Não poderia ser diferente, dada a magnitude da reforma da Previdência e as dificuldades que se avizinham, como esse boicote previsto para a reunião de hoje com líderes partidários, convocada pelo presidente para debater a questão — 7 partidos da oposição, o equivalente a 134 votos na Câmara.

Há uma sensível diferença entre a busca por apoio político, negociatas espúrias e corrupção. Apenas não parece assim aos olhos de uma sociedade como a nossa, avessa à política e por isso facilmente manipulável.
Não se trata aqui de defender a continuidade do balcão de negócios que desde sempre baliza prefeituras, estados e, principalmente, Brasília. Entretanto, trata-se, sim, de cobrar que a gestão Bolsonaro assuma a responsabilidade de conduzir a pauta traçada por Paulo Guedes e sua equipe.

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É de se imaginar que a população fique em cima do governo ao perceber discrepâncias entre o discurso e as ações. Ainda mais hoje em dia, incentivada que foi a participar da vida pública e influenciá-la via redes sociais.
De minha parte, espero que a atual gestão assuma esse ônus e encare a vida como ela é. Que, dentro dos limites da legalidade, seja pragmática. E que administre a merecida ridicularização da chamada “nova era” com algum espírito esportivo.

O momento pede o fim das bravatas e do lançar mão de espantalhos imaginados para dividir ainda mais a população e manter o histrionismo da militância. Pior do que correr o risco de serem acusados de estelionato eleitoral, restará a confirmação de que nunca estiveram em condições de comandar o país.

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