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Em tempos tão bicudos, é comum ouvir por aí a frase “o Brasil não é para amadores”. Desconheço o autor da expressão, mas, após os resultados da última pesquisa IBOPE divulgados ontem, ela vem bem a calhar. O cenário já era esperado, não resta dúvida, e ainda assim foi duro para quem anseia por um Brasil liberto do populismo e da corrupção sistêmica: após treze anos no poder, interrompidos apenas por alguém que no fim das contas era vice de Dilma Rousseff, o PT reúne todas as chances possíveis de voltar à baila.
Todas as chances possíveis… Escrever isso de maneira categórica em meio a um ambiente tão convulsionado quanto o nosso pode parecer presunção. Talvez seja. Contudo, ninguém que acompanhou a cena política nos últimos meses pode se dizer surpreendido pelo alto índice de rejeição atrelado a Jair Bolsonaro. E quem acompanha a política nacional há mais tempo, então, tem ainda menos condições de alegar ignorância sobre o fato de que o PT domina o Nordeste a cada eleição.
Pronto, a partir daí, a matemática encerra de maneira inapelável qualquer debate. Entretanto, vale fotografar o momento. É necessário. E ele precisa ser registrado da maneira mais fidedigna possível para que, futuramente, quem sabe possamos aprender com essa situação tão bizarra: o Brasil apelar ao Partido dos
Trabalhadores após tantos escândalos de corrupção e de ter conseguido se livrar dele a tão duras penas.
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Talvez essa análise demore. Talvez nem mesmo aconteça. Seja como for, dois personagens saem indelevelmente marcados dessa eleição: o PSDB e a militância de Jair Bolsonaro.
Excluo o próprio candidato do PSL por uma questão de justiça. O pleito não fez com que Bolsonaro se transformasse em um paquiderme diplomático do dia para noite. Há anos ele destila asneiras incompreensíveis, principalmente porque vindas de um representante eleito pelo povo. Ora, se conseguiu seduzir uma parcela considerável da sociedade apenas pelo fato de ser postulante à presidência, mesmo ostentando um currículo desses, não cabe outra conclusão: a culpa é dessa mesma parcela considerável da sociedade.
Especialmente quando passa a se deixar levar pela — compreensível — ojeriza ao PT e decide se comportar como uma horda agressiva, intransigente e determinada a defender conceitos inviáveis em um ambiente democrático. Insisto, o sentimento, a catarse propriamente dita, é para lá de justificável. Contudo, esse grupo de eleitores deveria ter sido, senão digno, mais inteligente.
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E, é claro, o PSDB não pode ficar isentado do cenário atual. Na verdade, os tucanos fazem parte há tempos do que acontece agora. Podemos dizer até que são os responsáveis por gestar a hegemonia petista e, por tabela, alguém com o perfil de Jair Bolsonaro. No caso da primeira, pela sua postura covarde como partido e pelo egoísmo de muitos dos seus integrantes, incapazes de colocar o Brasil acima de disputas locais e picuinhas pessoais. Com relação ao segundo ponto, o do personagem, por ser óbvio que alguém se aproveitaria do vácuo deixado por uma postura tão claudicante.
O partido liderado por Fernando Henrique Cardoso sairá bem menor desta eleição. E embora seja verdade que o PSDB falhou com o país, nada justificou o comportamento dos chamados “bolsominions”, um comportamento capaz de reforçar ainda mais a repulsa do eleitor médio em relação ao seu escolhido.
Que o debate comece. Enquanto isso, restará ao Brasil conviver com uma realidade a cada dia mais provável. A de que o PT, novamente na base da estratégia dos postes, terá a chance de reafirmar-se durante mais um longo período no poder.
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