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Como se sabe, houve quem acreditasse piamente no casamento entre Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Melhor dizendo, multidões acharam por bem comprar duas narrativas de uma tacada só: a primeira, de que um sujeito há trinta anos atuando como sindicalista na política tradicional teria guinado os seus conceitos em direção ao liberalismo econômico e seria a resposta perfeita para o clamor antissistema. A segunda, não menos peculiar, de que um reconhecido economista liberal teria levado fé em tamanha metamorfose.
Verdade seja dita, a massa responsável pelo sucesso do bolsonarismo na última eleição não foi composta apenas por crédulos. Incensados personagens do mercado financeiro, lobistas e mesmo futuros ministros também souberam impulsionar a onda que se formava. Fantasia devidamente rasgada, hoje esses personagens pululam excitados em torno da fogueira.
Seja como for, entre devotos apaixonados, detratores e surfistas de ocasião, todos teremos a oportunidade de constatar o quanto de verdade existiu nesse improvável casamento. Ou, como se dá em qualquer matrimônio calcado em conveniências, para que lado a relação de forças deve pender.
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Paulo Guedes pode ser um sujeito irascível e por vezes deselegante ao lidar com a imprensa, porém não é tolo e reconhece quem segura a caneta. Entretanto, não compra a tese do fatiamento da reforma da Previdência sem franzir a testa. Ou pelo menos é o que se espera de um economista de seu calibre.
Da mesma forma — noves fora os arroubos proferidos durante a eleição, como a privatização de todas as estatais e a promessa de zerar o déficit público em um ano —, espera-se que a essa altura ele já tenha contemplado o latifúndio existente entre a disposição demonstrada por Bolsonaro durante a campanha e a realidade, haja vista declarações como a de que a reforma de Temer, já desidratada, era “salgada demais”.
De sua parte, embora tenha sido eleito, Bolsonaro deve reconhecer melhor do que ninguém a importância de Paulo Guedes e de Sergio Moro. Afinal, ambos levam asteriscos em seus crachás, uma vez que suas presenças no governo outorgam selos caros à sociedade, como o da anticorrupção e o da retomada econômica.
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Trocando em miúdos, enquanto Damares Alves, Ernesto Araújo e o colombiano Ricardo Vélez-Rodríguez acenam para a patuleia e sua necessidade de uma catarse ideológica, mas podem ser substituídos por não representarem pilares fundamentais do governo, o mesmo não vale para o superministro da Economia.
A união teve êxito. Ao se associar a Guedes, Jair Bolsonaro conseguiu empanar seu posicionamento histórico nas questões econômicas e atrair a simpatia do mercado. Já Guedes, há muito marginalizado por seus pares na seara econômica, se vê sob os holofotes e com poderes raros.
Resta saber até quando. E quem piscará primeiro.
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