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A idade mínima será igual para homens e mulheres? E o critério regional defendido pelo presidente — que, no fim das contas, baseia-se em premissas equivocadas — vai prevalecer? O governo estará preparado para negociar com o Congresso e as corporações interessadas em manter seus privilégios, justamente a razão de ser das reformas? Essas e outras tantas perguntas que persistem desde a campanha eleitoral ainda não foram respondidas, mas, ainda que o veredicto final desagrade, uma coisa é certa: Paulo Guedes já pode comemorar.
Para começo de conversa, venceu o rubicão inicial, que era o de se associar a uma campanha vencedora. Luciano Huck e João Amoêdo até poderiam fazer mais sentido do ponto de vista ideológico, porém ideal mesmo seria aproveitar a passagem de um cavalo encilhado. Feito.
Depois, o culto criado em torno de si e impulsionado pelo próprio candidato, de que seria uma espécie de solucionador de todos os gargalos econômicos, aquele que daria a última palavra por ser o único capaz de fazê-lo, não somente seduziu um mercado ávido por comprar tal narrativa como uma sociedade traumatizada pelas acrobacias contáveis de Dilma Rousseff.
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E a verdade é que Paulo Guedes soube gerir esse mito com alguma destreza. Não me refiro aqui, é claro, às fantasiosas argumentações desfiadas ao longo de uma importante sabatina no canal Globonews. Tampouco às entrevistas tresloucadas, ou à agressividade ao lidar com as pessoas e a mídia, algo bastante incompatível com um cargo eminentemente político, como o de ministro. Trato da inteligência demonstrada ao submergir quando as incompatibilidades entre o seu discurso e o do candidato começaram a ficar óbvias. E, acima de tudo, já após o pleito, com vitória consumada, por ter pinçado nomes conhecidos e conhecedores da máquina pública.
Inclusive, tal aspecto apenas sacramentou a beatificação de Paulo Guedes junto à seara financeira e mesmo à sociedade alheia aos meandros da economia.
Não foi por acaso que ainda na semana passada o ministro surgiu risonho ao lado de Rodrigo Maia. Mais do que isso, mostrava-se disposto a atender a imprensa com paciência e simpatia. Se explicar um casamento de conveniências durante a campanha foi constrangedor e provocou dissabores, agora, na posição de pilar fundamental do governo ao lado de Sérgio Moro, Guedes sabe que não tem nada a perder.
No caso de a reforma não passar como se espera a ponto de ofender a sua biografia, sempre poderá deixar o governo com a justificativa, honesta, de que foi impedido de propor o melhor para o país. Na hipótese absurda, mas não totalmente impossível, de ser defenestrado, aí mesmo é que poderá lavar as mãos.
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Claro que a torcida de todos, inclusive deste que vos escreve, é de que a Previdência e demais ajustes sobrevivam à sanha dos variados grupos de interesses antipáticos ao ponto de inflexão em que o país chegou após décadas de descalabro fiscal; nesse caso, o ministro terá seu nome para sempre gravado na história.
Seja como for, Paulo Guedes a cavalheiro fez por onde. Que faça ainda mais.
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