A ignóbil existência de Renan Calheiros deveria nos fazer pensar

De todo modo, a ignóbil existência de Renan Calheiros deveria nos fazer pensar. Como é possível que alguém tão vil esteja há tanto tempo no poder?

Mario Vitor Rodrigues

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Durante sexta-feira e sábado últimos, Renan Calheiros esteve no centro das discussões. Sua gana por retomar o comando do Senado na disputa com o desconhecido Davi Alcolumbre ganhou os holofotes e se caracterizou por um destaque revelador: a torcida praticamente unânime pela sua derrota.

Não me refiro apenas àquelas pessoas inclinadas a demonizar políticos, em especial os mais conhecidos. Amigos favoráveis ao governo, sabedores de que seria melhor ter o experiente senador por perto e críticos da postura adotada por Onyx Lorenzoni, também não esconderam o prazer em vê-lo dar faniquitos no plenário, escancarando o desespero com o retumbante fracasso que se avizinhava.
Mais do que natural, essa reação de boa parte da sociedade foi justa. E provavelmente demorada.

Há 40 anos na política, Renan consegue congregar o atraso e a viscosidade que caracterizam nossa cena política. Convenhamos, não é pouca coisa.

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Trata-se do primeiro presidente do Senado a ter se tornado réu durante o exercício do mandato — com uma acusação de peculato por usar a empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão alimentícia à filha que teve com a jornalista Mônica Veloso, escândalo que o fez renunciar à presidência da Casa em 2007.

E não é só. Além desse, lá se vão outros onze inquéritos. Onze, repito, oito dos quais ligados à Operação Lava-Jato. No manancial de acusações constam empresas como Transpetro, Belo Monte, Severeng, UTC e, claro, a Petrobras. Já no cardápio dos crimes há de tudo um pouco, começando por corrupção passiva, mas incluindo também lavagem de dinheiro, pagamento de propina e negociação de emendas. Em resumo, se existe um estereótipo clássico do político merecedor de desconfiança no imaginário do cidadão, para dizer o mínimo, talvez ele se assemelhe bastante ao perfil de Renan Calheiros. Ou transborde.

Transbordou domingo, no Twitter, graças à paulada levada no sábado.

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Ao atacar a jornalista Dora Kramer por meio de uma postagem nojenta, machista e covarde, Renan não somente cimentou a imagem de homem repugnante que a população faz dele como trincou de vez o pouco que ainda existia do mito político. Um mito cultivado após anos de parceria com todos os governos desde a reabertura democrática, a começar por aquele do velho compadre Fernando Collor de Mello.

No próprio domingo, antes do acontecido, escrevi um artigo em que apontava um equívoco grave do governo ao apostar em Davi Alcolumbre. Cabe pragmatismo na hora de governar, defendi, e não essa recorrente busca pela demagogia como se a disputa eleitoral ainda estivesse de pé.

Um argumento que permanece. Infelizmente, tudo indica que essa não terá sido a última manifestação grotesca daquele que se autoproclamou “cavalo do cão”. E tampouco deve influenciar no jogo político, nas tratativas que ele se esmerou em costurar para defender seus interesses e os de seus aliados. Inês é morta e só me resta torcer para que as reformas imaginadas por Paulo Guedes e Sérgio Moro não paguem o preço pela inabilidade política de Onyx e o patente amadorismo, quase infantil, da parte de muitos dos novos senadores.

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De todo modo, a ignóbil existência de Renan Calheiros deveria nos fazer pensar. Como é possível que alguém tão vil esteja há tanto tempo no poder? Como é possível que eu precise me preocupar com um sujeito desse naipe, de um nível tão baixo, por ele participar dos debates mais importantes para o futuro do país?

Renan, como tantos outros políticos da sua estirpe, não é eterno, sei bem. Contudo, é desolador que ainda esteja por aí. E que não possamos culpar ninguém mais por esse fato. Além de nós mesmos.

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