A armadilha do “se é novo é bom”

Não por acaso, uma eleição polarizada por extremos acaba suscitando sensações extremadas

Mario Vitor Rodrigues

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Não resta dúvida, o povo falou alto e claro. O resultado, assim como o comportamento e o discurso das pessoas, marca essa obviedade. Estive no Rio de Janeiro para votar e as manifestações que vi e ouvi me deixaram surpreso. Não me refiro somente às chamadas “pessoas humildes”, mas também e principalmente àquelas dadas como mais esclarecidas.

Está tudo certo. Democratas de verdade não apenas aceitam como endossam os resultados das urnas. Questionar o pleito, ainda que às vezes os próprios vencedores o façam, seria um disparate. Contudo, há uma tese perigosa no ar: a de que um político possa ser bom apenas pelo fato de ser novato.

Admito: assim como a maioria, eu também fiquei satisfeito ao tomar conhecimento da enormidade de políticos graúdos que perderam o mandato. A começar por Dilma Rousseff, ainda que esse seja um caso diferente. Seria vexatório se a ex-presidente, que deveria ter tido os direitos políticos congelados após ter sofrido impeachment — e vale dizer que ela só pôde concorrer graças a uma manobra ungida pelo então presidente do STF, Ricardo Lewandowski —, fosse eleita. De resto, as derrotas de Requião, Lindbergh, Suplicy, Jucá, Eunício e grande elenco trouxeram mesmo uma sensação de frescor em relação à classe política.

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Entretanto, e não por acaso, uma eleição polarizada por extremos acaba suscitando sensações extremadas.

Nesse sentido, volto ao Rio para pinçar um entre tantos exemplos e talvez o maior deles. A colocação de Wilson Witzel (PSC) extrapola o que poderia ser considerado surpreendente. É o puro e simples movimento de manada, calcado na percepção amalucada de que desconhecer o candidato, antes de suscitar insegurança, acaba sendo um fator positivo.

É claro que Witzel pode se mostrar uma boa aposta, se de fato for eleito. Assim como em parte faz sentido mudar de curso se percebemos que um determinado caminho não está funcionando. O problema nesse movimento antissistema — não confundir com o antipetismo — reside na pura e simples demonização da política. Não somente dos políticos corruptos ou inaptos, mas de todos aqueles que militem no establishment.

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A louvação de presenças estranhas ao zeitgeist acaba insinuando em nossa mente uma certeza que não para de pé: a de que qualquer um pode fazer política. Convenhamos, não faz muito sentido. Ainda que a sanha por mudança seja tão forte que acabe por empanar a voz da razão.

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