Como estimativas de investimentos em data centers dobraram em apenas seis meses

Investimentos em data centers no Brasil crescem impulsionados pela crescente demanda por infraestrutura tecnológica

Marcelo Hannud

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(Wikimedia Commons)
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Há seis meses, usei este espaço para discutir como o setor imobiliário apostava na necessidade de instalação de novos data centers para atender a uma demanda crescente por armazenamento de dados. Agora, é urgente voltarmos a este tema, e a razão é uma aceleração ainda mais intensa das expectativas em relação ao potencial desse mercado.

Em abril, as estimativas da Arizton Research apontavam que, até 2030, os investimentos em novos projetos de data centers chegariam a US$ 3,5 bilhões ao ano no Brasil. Hoje, as previsões de investimentos anuais em infraestrutura para data centers saltaram para US$ 6,5 bilhões.

Houve um redimensionamento da demanda por parte de grandes players do mercado, como empresas de tecnologia, governos e instituições financeiras, refletindo a urgência em expandir e modernizar essa infraestrutura.

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Empresas que antes acreditavam ter capacidade suficiente para lidar com seus dados encontraram uma realidade muito mais desafiadora. O aumento das atividades digitais, impulsionado por novas tecnologias — de inteligência artificial a veículos autônomos — está mudando as regras do jogo. A interdependência tecnológica exige não apenas capacidade de processamento, mas também uma infraestrutura cada vez mais robusta para suportar volumes que crescem de maneira exponencial.

A capacidade de armazenamento e processamento de dados não só cresceu, como se tornou mais eficiente. As inovações tecnológicas estão permitindo o armazenamento de quantidades massivas de dados em espaços menores. No entanto, essa maior eficiência vem com um preço: maior consumo de energia. Novos processadores, projetados para lidar com cargas mais complexas de dados, exigem uma quantidade de energia muito superior em comparação aos seus antecessores. Isso coloca a energia como um dos principais limitadores para a expansão dos data centers.

Um dos maiores desafios enfrentados pelos data centers atualmente é a necessidade de adaptação rápida para atender à demanda crescente por energia e resfriamento. Os avanços da inteligência artificial e a maior busca por processamento de dados exigem hardwares cada vez mais potentes, resultando em um aumento expressivo no consumo de energia. Embora seja um conceito técnico, os números são autoexplicativos: antigamente, o consumo médio de energia era de cerca de 5 kW por rack, número que saltou para 30 kW e, em alguns casos, para até 100 kW.

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É neste cenário que o Brasil desponta como um dos países mais promissores para se tornar um centro de data centers globais. A razão fundamental para isso é a abundância de fontes de energia renováveis e a infraestrutura já instalada para suportar grandes demandas energéticas. Com uma matriz energética baseada em 55% de hidrelétricas e uma crescente participação de energia solar e eólica, o país é um dos poucos no mundo com capacidade para prover energia para instalações tecnológicas tão complexas como os data centers.

Além disso, a localização geográfica estratégica coloca o Brasil como um potencial hub de conexão entre América Latina, Estados Unidos e Europa. As novas instalações de cabos submarinos que conectam o norte do país ao restante do mundo reforçam essa vantagem. Ao contrário de regiões mais sujeitas a desastres naturais, como terremotos, o Brasil ainda se beneficia de uma geografia relativamente estável, o que reduz riscos para operações críticas de data centers.

Empresas como AWS (Amazon Web Services), Google Cloud, Microsoft Azure e Huawei Cloud continuam a expandir suas operações no Brasil, consolidando São Paulo como o principal espaço de data centers do país. Nomes consolidados no país, como V.tal, Scala, Odata, Equinix e Ascenty, atendem a demandas dessas “big techs”. Outros players, no entanto, também começaram a se destacar no setor. Entre os exemplos, temos a americana CenturyLink, com presença significativa no país, e brasileiras como Globenet, Ciron e Elea, que se sobressaem, seja pela capacidade de atender clientes menores, seja por suas soluções inovadoras e sustentáveis.

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Chegou a hora de os investidores também começarem a se beneficiar da pujança do setor de data centers. Nos últimos meses, assistimos ao crescimento do interesse de grandes fundos de investimento, que começaram a ver esses ativos como uma oportunidade sólida e estratégica. Há seis meses, a percepção era de que os fundos imobiliários não estavam focados em data centers, mas esse cenário mudou drasticamente. Hoje, os principais fundos de investimento no país estão competindo intensamente por oportunidades nesse segmento.

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Marcelo Hannud

CEO e fundador da Aurea Finvest