Inteligência Artificial: Como tanta transformação mudará a nossa vida e a produtividade?

Empresas que adotam IA conseguem acelerar processos, tomar decisões com base em dados mais precisos e reduzir desperdícios

Luiz Fernando Figueiredo

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Nos últimos anos, o robô assistente pessoal vem deixando de ser uma promessa futurista para se tornar uma ferramenta essencial no funcionamento das economias modernas, por meio das inteligências artificiais, ou IA’s. Empresas de todos os setores estão investindo na tecnologia, buscando ganhos de eficiência e redução de custos. No entanto, apesar do avanço acelerado, os dados econômicos ainda não refletem plenamente o impacto dessa revolução.

Enquanto a IA promete impulsionar a produtividade e remodelar cadeias produtivas inteiras, há um problema fundamental: a maneira como medimos o crescimento e a produtividade muito provavelmente irá subestimar essa transformação. Se as estatísticas tradicionais falham em capturar esse efeito, será que estamos deixando de enxergar o real potencial de crescimento das economias?

A essência da produtividade é fazer mais com menos—seja reduzindo custos, otimizando processos ou aumentando a qualidade dos bens e serviços. A IA tem se mostrado um vetor poderoso para essa evolução, automatizando tarefas repetitivas e permitindo que o trabalho humano se concentre em funções mais analíticas e criativas.

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Empresas que adotam IA conseguem acelerar processos, tomar decisões com base em dados mais precisos e reduzir desperdícios. No setor financeiro, algoritmos ajustam carteiras de investimento e podem até antecipar tendências de mercado. Na manufatura, a IA aprimora a cadeia de suprimentos, reduzindo estoques e aumentando a eficiência. No setor de saúde, diagnósticos médicos tornaram-se mais rápidos e precisos, aumentando a capacidade de atendimento.

Apesar desses avanços, os dados oficiais ainda não captam plenamente esse aumento de eficiência. Parte disso se deve ao fato de que muitos ganhos da IA acontecem dentro das empresas, em processos internos, sem que haja um aumento direto na produção física de bens e serviços. Ou seja, embora o trabalho esteja sendo realizado de forma mais eficiente, os números de PIB, produção industrial ou de vendas no varejo podem não refletir essa mudança de forma imediata.

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Toda revolução tecnológica traz consigo o temor da destruição de empregos, e com a IA não tem sido diferente. A automação de tarefas rotineiras e operacionais gera a preocupação de que milhões de trabalhadores possam ser substituídos por algoritmos e robôs. No entanto, a história econômica sugere um caminho diferente. A introdução de novas tecnologias tende a criar mais empregos do que eliminar. A IA não é uma exceção: ao aumentar a produtividade, ela amplia a capacidade produtiva das empresas, o que pode levar à criação de novas funções e oportunidades de trabalho.

O que se observa, na prática, é que os impactos da IA no mercado de trabalho são setoriais. Profissões que dependem de processos repetitivos, como atendimento ao cliente e funções administrativas básicas, já enfrentam uma transformação significativa. Em contrapartida, áreas que exigem julgamento humano, criatividade e interação interpessoal tendem a se beneficiar da IA como um complemento e não como um substituto.

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A transição para um mercado de trabalho impulsionado pela IA, no entanto, exige a requalificação de trabalhadores e adaptação do ensino às novas demandas. Caso contrário, os ganhos de produtividade podem acabar concentrados em poucos setores, ampliando desigualdades sociais e regionais.

Se há uma tendência inquestionável no avanço da IA é a sua acessibilidade crescente. Nos últimos anos, os custos para desenvolver e operar modelos de IA caíram drasticamente, permitindo que empresas de todos os portes explorem seu potencial.

As grandes empresas de tecnologia continuam liderando os investimentos, mas o cenário mudou: startups e pequenas empresas agora têm acesso a plataformas e ferramentas que antes estavam restritas a gigantes do setor. Softwares de IA generativa e modelos de aprendizado de máquina tornaram-se disponíveis a um custo marginal, permitindo que qualquer empresa busque eficiência com essas ferramentas.

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Essa democratização da tecnologia tem um efeito multiplicador sobre a economia global. À medida que mais empresas adotam a IA, os benefícios deixam de ser restritos a grandes conglomerados e passam a permear setores tradicionalmente menos tecnológicos, como comércio, agronegócio e serviços.

Diante da revolução tecnológica em curso, uma questão permanece: se a IA realmente está impulsionando a produtividade, por que os dados econômicos não mostram um crescimento mais expressivo?

Parte do problema está na maneira como medimos o crescimento. O PIB e a produtividade do trabalho são indicadores fundamentais, mas foram desenvolvidos para um mundo industrial, onde a produção de bens físicos era o principal motor econômico. Em um cenário dominado por tecnologia e serviços, os ganhos de eficiência da IA podem não aparecer tão claramente nas estatísticas convencionais.

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Esse fenômeno se manifesta de forma diferente em países desenvolvidos e emergentes. Nos primeiros, onde os ganhos de produtividade são mais graduais, a IA pode estar elevando a eficiência sem necessariamente gerar um crescimento explosivo do PIB. Nos países emergentes, onde a tecnologia ainda tem muito espaço para penetrar, a IA pode acelerar a digitalização da economia, mas de forma desigual—com algumas empresas e setores capturando benefícios desproporcionalmente.

Se os modelos de mensuração não forem ajustados para essa nova realidade, corremos o risco de subestimar a real capacidade de crescimento da economia global. Isso tem implicações diretas para a formulação de políticas econômicas, pois um erro de diagnóstico pode levar a decisões equivocadas sobre juros, estímulos fiscais e políticas industriais.

Apesar de todo o seu potencial, a IA não está isenta de desafios. Uma de suas principais críticas é a possibilidade de ampliação das desigualdades econômicas. Se os ganhos de produtividade forem capturados apenas por grandes empresas e pelo capital, a concentração de renda pode se intensificar.

Além disso, há desafios regulatórios. O uso indiscriminado da IA pode gerar distorções no mercado, seja pela manipulação de informações, seja pela criação de monopólios digitais. Governos ao redor do mundo estão correndo para criar marcos regulatórios que equilibrem inovação e concorrência justa.

Outro ponto de atenção é o efeito da IA sobre a precificação de bens e serviços. Em um mundo onde os algoritmos otimizam a alocação de recursos, a tendência é de redução de custos, mas também de um possível impacto deflacionário sobre determinados setores, exigindo novas abordagens de política monetária.

A Inteligência Artificial representa uma revolução sem precedentes para a produtividade global. No entanto, seu impacto ainda está sendo subestimado pelos indicadores econômicos tradicionais.

Os próximos anos exigirão não apenas adaptação por parte das empresas e trabalhadores, mas também uma revisão na forma como medimos o progresso econômico. A capacidade de capturar os ganhos reais da IA será crucial para definir políticas públicas, estratégias empresariais e decisões de mercado.

O que está claro é que a IA não substituirá a força de trabalho humana, mas transformará profundamente a maneira como operamos. Empresas e países que souberem integrar essa tecnologia às suas cadeias produtivas estarão à frente da nova economia global—e aqueles que demorarem a reagir podem perder espaço rapidamente. A pergunta que fica não é se a IA aumentará a eficiência econômica, mas se estamos preparados para reconhecer e mensurar seu verdadeiro impacto.

Luiz Fernando Figueiredo é presidente do Conselho de Administração da JiveMauá

Este artigo tem co-autoria de Italo Faviano, economista da Buysidebrasil

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Luiz Fernando Figueiredo

Presidente do Conselho de Administração da Jive Mauá. Com passagens pelo JP Morgan e BBA, foi diretor do Banco Central. Em 2005 fundou a Mauá Capital, após a cisão da Gávea Investimentos. É economista e fundador do Instituto FEFIG.