Crescimento para cima e juros estáveis

Tudo indica que o Fed sairá dessa história sendo responsável pelo controle da inflação sem ter gerado uma recessão

Luiz Fernando Figueiredo

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell (Samuel Corum/Getty Images)
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell (Samuel Corum/Getty Images)

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Não é necessário ressaltar a importância da política monetária nos Estados Unidos e na Europa para o mundo, especialmente para os países emergentes.

No entanto, tanto os Estados Unidos quanto a Europa levaram muito tempo para diagnosticar adequadamente as razões por trás da alta e persistente inflação nas duas regiões.

Inicialmente, acreditava-se que o problema era de natureza de oferta, causado pela escassez de produtos, componentes e matérias-primas. Também se pensava que, se a oferta voltasse ao normal e a logística global se estabilizasse, a inflação voltaria aos níveis normais de 2 a 2 e poucos por cento ao ano, uma inflação típica dos últimos 40 anos nos países desenvolvidos.

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Parecia que inundar o mundo com liquidez de maneira sem precedentes não resultaria em inflação de demanda em algum momento. Infelizmente, levou tempo para perceberem que isso de fato aconteceria.

Depois de um período prolongado de negação, finalmente admitiram que a causa era um excesso de demanda, o que implicava na necessidade de esfriar suas economias até que a demanda por produtos, especialmente por serviços, se reduzisse.

Desde então, testemunhamos os bancos centrais dessas regiões elevando suas taxas de juros para níveis que efetivamente começaram a restringir o crescimento, esfriando a demanda e, por consequência, enfraquecendo o processo inflacionário.

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Infelizmente, esse processo não ocorreu de maneira linear. O Federal Reserve (Fed) chegou a acreditar que taxas de juros de 3% – 3,5% seriam suficientes para conter uma inflação que chegava a 7% – 8% ao ano nos Estados Unidos. Além disso, entenderam que o juro neutro não é um número que tem como referência a inflação corrente que estava a 7% e sim um percentual com base na meta de 2% de inflação.

Além disso, sempre que uma redução na inflação era observada, o mercado e, por vezes, o próprio Fed flertavam com a ideia de reduzir novamente as taxas de juros.

No final das contas, acabamos convivendo com a alta inflação por um período maior do que o desejado. Contudo, devido à abordagem gradual dos bancos centrais, evitou-se uma desaceleração mais acentuada na atividade econômica.

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Fica a dúvida se essa estratégia foi a melhor ou se teria sido mais eficaz adotar uma política monetária menos gradual, resultando em uma queda mais acentuada, mas temporária, na atividade econômica e levando a inflação de volta à trajetória desejada mais rapidamente.

Até alguns meses atrás, o mercado acreditava que o Federal Reserve começaria a reduzir as taxas de juros no início do segundo semestre. No entanto, isso se mostrou precipitado mais uma vez. Então, onde estamos atualmente?

Indiscutivelmente, nos Estados Unidos, as taxas de juros já estão em um patamar contracionista. Acredito que o Federal Reserve não precise continuar elevando as taxas. Um nível de 5,25% – 5,50% parece ser suficiente.

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Contudo, ao contrário da expectativa de queda neste semestre, é provável que as taxas nos Estados Unidos comecem a diminuir em algum momento, sendo otimista, no segundo trimestre do próximo ano, ou mais provavelmente no segundo semestre. Isso estenderia a fase de aperto por quase um ano em relação às expectativas de dois a três meses atrás.

Olhando para a Europa, ela está cerca de seis meses atrasada em relação ao mesmo processo observado nos Estados Unidos.

Enquanto isso, a economia chinesa terá algumas medidas adicionais de estímulo nos próximos meses. Há espaço para políticas de incentivo à demanda interna, bem como estímulos direcionados ao setor de construção e imobiliário. É altamente provável que haja uma política fiscal mais expansionista, juntamente com estímulos monetários, como redução de taxas de juros ou dos compulsórios bancários. Esses estímulos parecem ser necessários para que o governo chinês alcance sua meta de crescimento de 5,0%.

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Com isso, é razoável esperar um aumento nos preços das commodities, especialmente considerando que o PIB dos Estados Unidos também está sendo revisado para cima. Sinais mais claros de crescimento para 2023 indicam que este deve ficar mais próximo de 2,0% do que de 1,0%, que era o número que estava no radar dos analistas há algum tempo. O crescimento nos primeiros e segundos trimestres superou as expectativas e, de acordo com o Fed de Atlanta, a prévia para o terceiro trimestre indica um ritmo ainda mais forte.

A inflação já demonstra sinais de alívio, à medida que os preços de bens e serviços continuam a diminuir, embora ainda estejam distantes da meta de 2% ao ano.

Em resumo, a revisão do crescimento e a dinâmica inflacionária mais benigna se tornarão grandes aliadas do Federal Reserve, uma vez que a probabilidade de recessão nos próximos 12 meses está diminuindo e o arrefecimento da inflação permite que o Fed mantenha as taxas de juros no patamar atual.

Portanto, tudo indica que o Federal Reserve sairá dessa história sendo responsável pelo controle da inflação, sem ter gerado uma recessão, mesmo que os Estados Unidos tenham enfrentado uma alta inflação por vários anos.

Este artigo teve a co-autoria de Luan Takada, economista da Jive Investments

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Luiz Fernando Figueiredo

Presidente do Conselho de Administração da Jive Mauá. Com passagens pelo JP Morgan e BBA, foi diretor do Banco Central. Em 2005 fundou a Mauá Capital, após a cisão da Gávea Investimentos. É economista e fundador do Instituto FEFIG.