Volatilidade pode não ser vida, mas também não é risco

Uma mudança de paradigma para balizar sua tomada de decisão nos investimentos

Lucas Collazo

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(Shutterstock)
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Caros(as) leitores(as),

Uma linha de raciocínio fascinante é o entendimento do risco. Como você entende essa medida?

No Brasil, temos o viés de investir grande parte do nosso patrimônio em ativos locais – seja na bolsa brasileira, em fundos imobiliários, em títulos públicos e privados de dívida, e assim por diante. O “brasileiro médio” praticamente não diversifica internacionalmente, não olha para oportunidades globais.

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Vejo diversos “influenciadores financeiros” provocarem suas respectivas audiências sobre esse ponto. O discurso costuma ser alinhado: “O Brasil não é mais do que 2% do PIB global, a maior parte da riqueza econômica está fora daqui”. Essa afirmação não está incorreta, mas o Produto Interno Bruto de um país é a melhor justificativa?

Definitivamente não.

Não afirmo isso sem conhecimento de causa. Ao longo de dois anos fui assessor de investimentos, entre 2017 e 2019. Realizava mais de 120 ligações por dia, passava ao menos seis horas diárias conversando com meus clientes. Todos eles tinham a mesma preocupação: não perder dinheiro e buscar o melhor retorno possível, pelo menos 1% ao mês.

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Essa forma de pensar é fruto de uma política monetária brasileira que sempre apresentou juros elevados, com dois dígitos e juros reais relevantes. Qualquer aplicação financeira simples entregava isso ao investidor e essa facilidade viciou a pessoa física investidora.

Pois bem, explicações feitas, vamos voltar ao conceito de risco. O que é “mais arriscado”: investir num título de renda fixa (dívida) de uma empresa brasileira, como uma varejista alimentícia ou algum agronegócio, ou comprar ações da Microsoft listadas nos EUA?

Talvez você responda que a renda fixa é mais “segura”, certo? Pois bem, se você respondeu isso, é porque sua noção de risco está ancorada em volatilidade. Explico abaixo:

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A volatilidade, em bom português, indica quanto o preço de algo balança na linha do tempo. Quanto maior ela for, mais esse preço vai se mexer, para cima e para baixo.

Agora, vamos pensar no preço: o que constrói o preço de algo? Respondo: oferta e demanda – assim como tudo na economia.

Quanto maior a oferta, mais pressão baixista no preço (caso a demanda não acompanhe), e o inverso também é verdade. Para os ativos financeiros, como ações e renda fixa, isso também é verdade.

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“Collazo, espera: renda fixa também?”

Sim, títulos de dívida possuem um preço unitário por papel, são negociados diariamente entre investidores no mercado secundário e possuem oscilações. A diferença aqui é que, no Brasil, eles são negociados no mercado balcão e não de tela, como é o caso do mercado acionário, por exemplo.

Ou seja, a liquidez é muito menor (no relativo). O volume negociado é mais baixo e as ofertas de compra e venda também, o que também acarreta numa oscilação menor para esses ativos.

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Oscila menos = menor volatilidade.

Enquanto isso, as ações, como da Microsoft, são negociadas na tela, com volumes altos de negociação, o que acaba por oscilar mais seu preço.

Oscilação maior = maior volatilidade.

Mas volatilidade é risco? Bom, a meu ver, é uma medida imperfeita de risco.

Quem lembra do caso Americanas e Light? Ambas as empresas surpreenderam seus investidores com mudanças na leitura de saúde financeira das companhias.

No caso da varejista, em especial, um dia antes de o fato relevante a mercado mostrar um “rombo” financeiro na companhia, a empresa era tida como excelente para credores e acionistas. Os títulos de dívida da empresa estavam nas mãos de muitos investidores pessoa física e diversos fundos de investimento.

De uma hora para outra, aquele título de dívida que oscilava pouco, com baixa volatilidade, passou a valer zero reais. Quem apoiou a ideia de risco na volatilidade, teve uma surpresa ingrata.

Isso não acontece apenas com o pequeno investidor individual. Já ouvi clientes de grandes famílias comparando fundos de crédito, que naturalmente possuem baixa volatilidade, com fundos multimercado, que obviamente possuem mais volatilidade, para mostrar que os de crédito eram mais “eficientes” quando ajustavam o retorno pelo risco. Volatilidade não é a melhor medida de risco para crédito. Aliás, não é uma medida perfeita de risco para nenhum ativo.

Ser acionista de grandes empresas de tecnologia, que aspiram lucros do mundo todo e fazem parte de grandes monopólios “desregulados”, me parece mais razoável do ponto de vista de risco do que ser credor de uma empresa pequena no Brasil, de maneira geral. Sem dúvidas, teremos mais volatilidade no trajeto, mas não mais risco.

“Vol é vida”, costumam dizer nos corredores do mercado. Não acho que seja para tanto e, principalmente, fico preocupado em como esse tipo de mensagem chega até a família brasileira. Mas com certeza também você não pode balizar sua mente em relação ao que é mais ou menos “arriscado”. Pense nisso.

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Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney