Sr. Mercado: ‘Lula, eu te mostrei o menu todo, mas você só quer o couvert? Haja paciência!’

Haddad trouxe um 'menu' inteiro de ações, no sentido de ancoragem e controle fiscal, mas o presidente viu todas as opções e pediu para ficar só com o 'couvert' – e não pediu mais nada

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

O presidente Lula recuou nas últimas semanas, com falas mais tímidas, enquanto o Banco Central brasileiro subiu o tom. Similar àquela cena icônica do filme “Tropa de Elite”, em que o personagem “Capitão Nascimento” diz para policiais militares do Rio de Janeiro “não vai subir ninguém!”. Um clássico.

O BC engrossar o tom não é por menos, pois as expectativas de inflação preocupam adiante. O modelo econômico que o Brasil aplica, em que o acelerador fica na política fiscal e o freio é responsabilidade da política monetária, também não agradam a autoridade monetária.

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Afinal, os comunicados da instituição sempre mencionam a dinâmica da dívida pública brasileira, dos riscos inflacionários que ela gera e da importância do controle de sua trajetória, inclusive cobrando criteriosidade com os gastos públicos. O governo, por sua vez, adota uma postura “consumista” e não para de subir os gastos, por isso o BC se vê obrigado a manter taxas elevadas de juros. E ainda é tratado como vilão. Negativo, a autoridade é técnica, e fará o que for necessário para trazer a inflação a meta, como previsto claramente em seu mandato.

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Foi exatamente dessa forma que a diretoria do BC se posicionou, inclusive com Gabriel Galípolo, diretor de política monetária (e um dos nomes indicados pelo governo atual na instituição), como um dos principais porta-vozes do endurecimento. De alguma forma, o fato de Galípolo ter sido indicado por Lula (e ser o favorito a suceder Campos Neto) ajuda a consolidar a ideia de que uma alta de juros possa acontecer, caso o cenário exija.

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A reação do mercado a esse cenário foi uma “descompressão de risco”: a bolsa brasileira subiu e atingiu sua máxima histórica e a curva de juros fechou, o que alegra muito os portadores de títulos públicos com taxas superiores a IPCA + 6% ao ano (eu avisei). Apenas o câmbio recuou menos do que deveria, mas não está mais em patamares que poderiam forçar uma intervenção no ciclo da taxa Selic. Mas continua como um ponto de atenção.

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O cenário chega em um equilíbrio “menos ruim” nesse momento. Os investidores profissionais, aqueles que fazem gestão de recursos de terceiros, estão aproveitando para fazer caixa com as altas recentes do mercado.

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O risco fiscal estrutural não diminuiu. Essa melhora vem, além da mudança de tom do BC, de o governo adicionar em seu discurso a preocupação com a trajetória de gastos – inclusive com contingenciamento já anunciado.

Mas não se engane, caro(a) leitor(a). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), trouxe um “menu” inteiro de ações no sentido de ancoragem e controle fiscal. O presidente Lula, que viu todas as opções, pediu para ficar apenas com o “couvert” – e não pediu mais nada além disso.

Eu não sei se o Lula está de dieta, mas eu, Senhor Mercado, não estou. O “couvert” apenas não basta. Preciso de mais medidas – e que elas sejam concretas e claras. Do contrário, minha confiança sempre será baixa e vou trabalhar com um prêmio de risco maior por isso. Simples assim.

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Enquanto isso, para a próxima reunião do Copom, as opções negociadas a mercado indicam uma probabilidade maior que 70% para a alta de juros. Esse não é o cenário base, embora essa porta tenha ficado aberta pelas declarações dos diretores do Banco Central.

O Federal Reserve, Banco Central americano, deve cortar juros em setembro, pelos dados de inflação recentes que reforçaram ainda mais essa ideia. Isso deve aumentar o diferencial de juros entre Brasil e EUA, o que pode atrair capital estrangeiro e eventualmente pressionar o câmbio para baixo.

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A bolsa não está mais tão barata assim, após esse último rali dos ativos brasileiros. Por isso mesmo os fundos estão diminuindo suas posições (mais um ano de volatilidade, meus queridos amigos e amigas).

Se eu fosse você, não tentaria ser um herói e me manteria diversificado. Nós não estamos no início de um ciclo, e ainda existe água para escoar por essa cachoeira. No tempo livre, separe a pipoca e venha assistir comigo os debates para as eleições municipais.

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Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney