O tiro que “matou” a incerteza: Trump deve voltar à Casa Branca, e como fica seu dinheiro?

A definição do presidente nos EUA é menos importante para a perspectiva de investimento no relativo, ao contrário de alguns países onde o estado é muito grande – como é o caso do Brasil

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

No último final de semana, o ex-presidente americano Donald Trump sofreu um atentado. Acho pouco provável que você não tenha visto ou lido algo a respeito.

Por uma questão de detalhe, ao olhar para um gráfico em uma apresentação, Trump inclinou sua cabeça e escapou de um impacto que muito provavelmente seria fatal. Um momento que entrou para a história.

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Esse acontecimento, somado à “performance” do atual presidente americano, Joe Biden, no primeiro debate da corrida para a reeleição, antecipou muito do processo. Eu explico:

Não há nada que o mercado goste menos do que incerteza. Ela é diferente do risco – que é conhecido e pode ser quantificado de alguma forma.

Esse “nevoeiro da dúvida” gera volatilidade e deixa o mercado errático, o que também gera muitas oportunidades por fazer com que o preço descole dos fundamentos dos ativos. Mas os números de tela “perdidos” geram desconforto nos investidores e agentes do mercado.

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Um pouco de visibilidade é positivo para que o mercado de capitais trabalhe com mais pista e espaço. Biden ainda levanta dúvidas quanto à sua capacidade de se candidatar por sua idade mais avançada e também devido ao apoio (ou falta dele), inclusive dos democratas, e ao resultados dos discursos recentes.

Nos último dias, sua declaração de que pode desistir da reeleição se os médicos recomendarem ou informações sobre conversas com sua própria família sobre suas condições capitanearam as manchetes dos jornais americanos. Enquanto isso, Trump se fortaleceu com o atentado contra sua vida.

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Um ponto importante que precisa ser dito é: uma das questões mais cruciais do processo eleitoral americano é o engajamento do eleitor com a campanha. Isso porque o voto não é obrigatório nos Estados unidos, e o candidato(a) precisa motivar as pessoas a irem até as urnas para exercer a democracia.

O discurso de Trump após o ocorrido foi exatamente nesse sentido, relembrando que a multidão começou a gritar “fight!” logo após o tiro de raspão.

É claro que tudo é possível, e o mercado não entende que já é Trump o próximo presidente americano. Mas os agentes trabalham com cenários e probabilidades na indústria financeira, e é inegável que o ambiente ficou mais favorável para o republicano. As pesquisas já refletem isso em números.

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Por isso, o “Sr. Mercado” gostou do “fim” da incerteza.

Mas o que isso muda para o seu dinheiro?

Bom, ainda é muito cedo para dizer, existem muitas incertezas sobre como seria uma possível condução de Trump caso seja efetivamente eleito. Especialmente no que tange políticas econômicas e correlatas.

A discussão contemporânea mais acalorada do mundo é o patamar inflacionário – e, como consequência, a taxa de juros de equilíbrio dos EUA (e do resto do planeta). Isso é determinante para os preços dos mercados.

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Enquanto não respondemos a essas questões, me recordei de um estudo que ajudei a fazer na última eleição americana, quando estava no time de estratégia do research da XP. A bolsa americana (S&P 500) durante o governo Barack Obama subiu algo como 16% ao ano, enquanto no mandato de Trump subiu 14% ao ano.

Qual a conclusão que podemos tirar desses dados?

Podemos concluir que, nos EUA, a definição do presidente é menos importante para a perspectiva de investimento no relativo, ao contrário de alguns países onde o estado é muito grande – como é o caso do Brasil. Claro, sempre é gerado um ambiente para oportunidades de curto prazo, inclusive por conta da volatilidade ou mesmo da temática.

Não deixo de acreditar que teremos um “Trump Trade” em breve, mas ainda é muito cedo. E a constituição americana torna as instituições privadas mais fortes e protegidas, o que reduz as chances de uma mudança com a troca de poder.

No limite, até medidas que eventualmente sejam inflacionárias por parte de um possível segundo governo Trump podem beneficiar as empresas americanas. Para aqueles que olham para horizontes mais esticados, como 5 anos em diante, você fica muito mais exposto à dinâmica micro das companhias do que ao macro americano (além de a estatística apontar para uma alta chance de bons retornos investindo nas bolsas americanas).

Aliás, convido você a comparar qualquer investimento da sua carteira com o S&P 500 em reais. Veja se ele consegue “bater” o retorno gerado por essa classe de ativo na linha do tempo. Por isso, em uma diversificação de carteira, não estar exposto a bolsa americana para mim é loucura.

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Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney