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Caros(as) leitores(as),
Nesses últimos dias, eu dei um susto em vocês, não foi? Após os dados do relatório de empregos nos Estados Unidos (payroll), um movimento técnico pontual causado pelo rebalanceamento de posições advindas do Japão culminou em quedas acentuadas com “gostinho de fim de mundo” – e altas subsequentes de alívio.
Por aqui, o Ibovespa até que foi bem e caiu menos que os pares no relativo, mas eu não vibraria como se isso fosse um mérito (ou a qualidade dos ativos). Os preços estão tão deprimidos – e a presença na carteira de investidores globais é tão baixa – que não me surpreende o movimento no Brasil ter sido apenas um “espasmo”. A bolsa brasileira está com uma energia de cachorro morto.
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Eu tenho andado mais calado, com exceção dessa mexida que dei na semana passada. Como esse silêncio gera ansiedade, acho justo da minha parte explicar, ao menos parcialmente, o que passa em minha mente agora:
Esse dado fraco de emprego deu sustentação à ideia de que teremos corte de juros nos EUA em setembro, quando finalmente daremos início ao ciclo de afrouxamento da política monetária por lá. Apesar disso, a história pode não ser a mesma aqui no Brasil, mais uma vez.
Muitos gestores de fundos (os investidores profissionais que tentam extrair de mim as famosas “assimetrias”) acreditam que podemos ter alta de juros, inclusive no Copom de setembro. Caso o Banco Central não faça o movimento nessa próxima reunião, isso vai tornar o trabalho mais duro à frente – e os movimentos de alta de juros precisarão ser mais intensos do que os 25 pontos base esperados.
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Esse não é o cenário base de todos. Muitos acreditam que a queda de juros por parte do Federal Reserve (o BC americano) já será o suficiente para deixar a taxa de juros brasileira mais restritiva, mesmo que ela não se mova. Para a diretoria do BC brasileiro, não parece ser uma má ideia essa abordagem.
Explico:
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O presidente Lula, com toda certeza, não quer uma alta de juros. Aliás, eu mesmo não quero também. Taxas de juros mais baixas e controladas são fundamentais para o mercado de capitais crescer (e a economia também).
Governo, arrecadação e gastos
Hoje, a diretoria do BC é basicamente divida, pela metade, entre membros indicados pelo governo anterior e o atual. E, para provar o Banco Central é técnico e independente, tomar a decisão de elevar a Selic traria peso e credibilidade (caso os dados indiquem que de fato precisamos subir os juros, claro).
Um ponto positivo é que o governo adicionou – finalmente – o controle de gastos em suas discussões, não só o aumento da arrecadação. O ministro da fazenda, Fernando Haddad, o rei dos memes da taxação na internet, é o grande porta-voz dessa agenda. E ele inclusive teve uma vitória inicial, que foi a aprovação de um contingenciamento no Orçamento de 2024.
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Mas as medidas nessa direção precisam continuar, e o fiscal precisa ser uma prioridade para que eu ganhe confiança. Esse começo já foi um motivo para apaziguarmos a discussão no curtíssimo prazo, mas, se não houver mais evolução, pode ter certeza de que vou voltar a cobrar o governo por meio dos preços dos ativos.
Para eu não parecer gentil demais – e acabar entregando a mensagem errada: o câmbio continua alto e é um incomodo para tomadores de decisão. E eu não sou chato e faço isso de birra. Meu medo é a volta de velhas políticas que sempre levam o Brasil para a beira do vulcão.
Apetite a risco
A boa notícia é que, com a queda de juros na terra do Tio Sam, o apetite por risco pode voltar e os investidores podem buscar por ativos de risco depreciados. Nesse cenário, a alocação em emergentes é baixa atualmente e o Brasil é um bom candidato para atrair capital, dado que a moeda está depreciada e os ativos, descontados.
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Mas, enquanto isso, vocês continuam comprando ativos de renda fixa que eu sei. Aqui vai o primeiro alerta: o técnico está piorando a cada dia que passa, o “inflow” de recursos na classe não para e os “spreads” de crédito não param de fechar – afinal, a melhor ideia de todas é investir tudo o que você tem nesses mercados quando os juros estão altos, não é mesmo? (contém ironia, por favor).
Vocês vão querer comprar ações quando o mercado já tiver andado, com juros menores porque a renda fixa ficou menos atrativa. O certo seria ter os dois, nas devidas proporções que se encaixam no seu perfil de investidor (respeitar seu perfil de risco é muito importante para lidar comigo, pois o órgão mais importante para o investidor é o estomago, não o cérebro).
Quem deu esse valioso conselho foi Peter Lynch, não eu, e é essencial segui-lo.
Enquanto isso, o que faz sucesso no Brasil é o jogo do tigrinho, aquela “diquinha” que todo mundo pede – e “alocação diversificada” é um palavrão de militante radical para vocês. Por isso, vale lembrar que investir não é para ser divertido (acho que dá para perceber pelo meu senso de humor).
Qualquer novidade, aviso vocês!
Ass,
Sr. Mercado