“Haddad, eu sinto muito, mas estou jogando a toalha”, diz Sr. Mercado

Eu sei que está difícil e também não vejo luz do outro lado desse nevoeiro ainda. Mas, como investidores brasileiros, o que nos resta é pegar a toalha jogada pelo mercado

Lucas Collazo

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Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entra em carro na frente do minsitério, em Brasília (REUTERS/Ueslei Marcelino)
28/12/2023
REUTERS/Ueslei Marcelino
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entra em carro na frente do minsitério, em Brasília (REUTERS/Ueslei Marcelino) 28/12/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino

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Caros(as) leitores(as),

As últimas duas semanas expressam claramente como os agentes do mercado se sentem nesse momento sobre o nosso país. Eu não sei ao certo o quanto você acompanhou, então vamos investir algumas linhas para todos começarmos essa conversa na mesma página.

Nós tivemos divulgações de alguns dados econômicos relevantes, tanto no Brasil quanto fora, mas os mais importantes em termos de movimentar os preços no mercado financeiro são os americanos. Porque os Estados Unidos são a principal economia do mundo, têm o Banco Central mais relevante e atuam como a grande gravidade de tudo que olhamos por aqui.

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A inflação ao consumidor (CPI) ficou estável nos EUA (0,0%) em maio, após a alta de 0,3% em abril. Esses números vieram abaixo do esperado segundo o consenso de mercado, que projetavam alta de 0,1% na leitura mensal e inflação de 3,4% na base anual.

O “payroll”, relatório de empregos nos EUA, indicou que o país criou 272 mil vagas de emprego em maio. O consenso indicava a criação de 185 mil vagas, ou seja foram 93 mil vagas a mais do que a projeção dos analistas. Ou seja: a economia americana segue robusta.

Dado de inflação melhor, situação de pleno emprego, economia com crescimento… É, meus amigos e amigas, um “gostinho” de “goldilocks” para os moradores da terra do Tio Sam. Tudo que o Federal Reserve (o BC americano) quer para sua condução econômica, o tal do “pouso suave” – soft landing – da economia.

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Os ativos de risco no mundo – e aqui quero a sua atenção para a bolsa americana – subiram de forma considerável, vibrando indicadores muito positivos. Enquanto isso, o Brasil amargurou derrotas em todos os mercados.

O dólar apreciou contra o real, nossa bolsa caiu e está entre os piores resultados do mundo no ano, os juros futuros abriram e os títulos públicos brasileiros apresentaram taxas ainda maiores. Agora, o “Sr. Mercado” já espera duas altas de juros para o país esse ano. Um caos.

Mas por quê? Pois além de país do futebol, somos também o país do ruído político, senhoras e senhores.

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O posicionamento do governo segue frustrando os agentes do mercado. A mensagem de que o estado não vai reduzir gastos, ou talvez em algum momento até decida aderir a algo nesse sentido, mas seria uma atitude mais remota, fica cada vez mais evidente para os investidores.

Escuto inúmeras explanações do que os preços dos ativos dizem, mas a grande verdade é que o conteúdo informacional do mercado é baixo, especialmente na precificação da renda fixa, como venho destacado nesse espaço de colunista há algumas semanas. Sem maquiagens por aqui.

O tal do “Sr. Mercado” parou de “fazer contas” e simplesmente está “largando o taco” em relação ao Brasil. Essa sim é a mensagem por trás dos números que aparecem na sua tela.

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O ministro Fernando Haddad (PT), que se tornou praticamente um bastião da responsabilidade fiscal na visão dos agentes do mercado, não consegue ser esse “herói que não usa capa” para os financistas. Com ele ou sem ele, os preços caíram de qualquer forma.

Por quê? O “Sr. Mercado” jogou a toalha.

Sinceramente, eu não sou pago para ter opiniões políticas, então não venho aqui expressar minha concordância ou não com o que ocorre nesse mercado. Claro que, para mim, fica evidente um tom negativo do mercado com o cenário macroeconômico que se desenha a frente.

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Como otimista incorrigível, prefiro perseguir aquilo que parece ser positivo. Tomar o cenário como dado e, de alguma forma, tentar ganhar dinheiro com isso – agora sim, é para isso que eu trabalho.

E aqui é justamente onde eu encontrei algo positivo. Para nós – sim, eu e você –, alocadores de capital (já pode usar esse título em mesa de bar), os prêmios de risco abriram muito.

Ou seja: se você tiver a paciência e o estomago para investir com horizontes mais longos, pelos preços, você pode ser muito bem remunerado por “tomar o risco”. As NTN-Bs (títulos públicos atrelados a inflação) estão com taxas de 6,4%, os prefixados pagam mais de 12% ao ano, o real está depreciado e nossa bolsa está barata – e ficou ainda mais.

Pode ficar pior? Sim. E de forma considerável, inclusive. Mas é inegável que os preços já parecem muito bons em alguns casos.

Eu costumo brincar que, no Brasil, parece que sempre existe uma granada armada e com o pino quase escapando – e alguém pode puxar esse troço a qualquer momento. Dizem que foi mais ou menos assim no governo Dilma Rousseff (PT).

Pois bem, em resumo, eu sei que está difícil. E sim: eu também ainda não vejo luz do outro lado desse nevoeiro. Mas, como investidores brasileiros, o que nos resta é pegar a toalha jogada pelo mercado.

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Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney