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Caros(as) leitores(as),
Estavam com saudades de mim? Imagino que não. Eu não poderia retomar esse espaço semanal sem algo à altura para sacramentar o momento. Nós estamos claramente num dos piores momentos da história do mercado financeiro brasileiro, digo especialmente no que tange a gestão de recursos de terceiros. Ou seja, os fundos de investimento.
Antes de trazer verdades amargas, preciso trazer a parte doce: desconheço uma forma mais inteligente de um ser humano alocar parcela relevante de seu patrimônio pessoal. Como vocês sabem, não é fácil lidar comigo, tanto é que me chamam de maníaco depressivo – e eu até acho gentil. Bons profissionais de mercado reunidos, com bons processos, que respeitam estritamente seus mandatos, seus acordos com seus respectivos cotistas, costumam entregar geração de valor razoável na linha do tempo.
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No limite, eles dedicam suas vidas para não apenas me aturarem, mas encontrar formas de extrair retorno. O conhecimento aprofundado, a prática repetida por décadas, a tecnologia, o acesso a informação – tudo isso traz uma chance maior de sobreviver aos eventos incontestáveis de aleatoriedade e construir uma rentabilidade coerente acumulada.
Sem dizer nos benefícios de diversificação, acesso a mercados e instrumentos que uma pessoa individualmente jamais acessaria. Em outras palavras, sofisticação da sua carteira, que pode eventualmente se traduzir em mais retorno com menor risco.
Dito isso, eu nunca passei e jamais passarei pano. Críticas construtivas precisam ser feitas aqui:
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Algumas gestoras, de diversas estratégias, captaram volumes perceptíveis de recursos. Fundos menores, passaram a ser dinossauros com bilhões de reais sob gestão. O crescimento veio acompanhado de “investimento”, os times aumentaram, as casas passaram adicionar estratégias que antes não aderiam, pessoas dedicadas a operar mercados internacionais, por exemplo. Até aqui, tudo lindo, certo?
Bom, eu não sei se você é grande fã de futebol, por isso vou me ater a um exemplo mais recente: Endrick, a joia do Palmeiras, foi destaque absoluto no futebol brasileiro em sua passagem por aqui. Porém, ao ser transferido para o Real Madrid, uma surpresa “desagradável” – o custo para marcar gols aumentou e ele parecia não encaixar para marcar.
Não deveria ser surpreendente: as ligas são completamente diferentes, os jogadores do seu time, os adversários, absolutamente tudo. Obviamente que existe um processo de adaptação, mas no mercado financeiro, é mais complicado: no mínimo é injusto se adaptar com o dinheiro dos outros.
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Esses gestores incharam seus “bolos” num espaço de tempo muito curto, passaram a acessar mercados que não necessariamente eram tão competitivos, sem dizer que o aumento do tamanho por si só já destrói valor. Eles mudaram de liga, isso muda os resultados.
Pilotar um fundo pequeno e pilotar um fundo enorme, muda completamente os entregáveis finais. Diversas gestoras, passaram a gerar resultados ruins para seus cotistas. O que piora quando pensamos no volume de dinheiro desses clientes – boa parte deles entraram nos fundos nesse momento em que o patrimônio líquido cresceu demais, e embora as cotas históricas sejam muito boas, a cota do cliente ficou muito ruim (sendo educado).
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Enquanto isso, as taxas de administração continuaram sendo cobradas como deveria, claro, mas não tira o meu direito de ficar incomodado. Depois de tudo isso, essas casas culparam a mim, Sr. Mercado, pelos resultados péssimos conquistados. Eles têm direito de falar, concordo, mas eu também. A culpa não foi minha, a culpa é sua e do seu time, meu amigo.
Erros foram cometidos, a indústria está sofrendo com isso, deve continuar por um tempo, e na minha visão, de forma merecida. A política de cuidar do tamanho do fundo, de se preocupar com a família que confiou o recurso a você, é sua, não do mercado.
Como sempre digo, tudo na média é ruim: café, vinho, chocolate, fundos de investimento, empresas. Nós precisamos ter diligência e escolher aquilo que realmente é bom e faz sentido.
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Tomar cuidado com discursos vazios, aqueles que geram comoção: “nossa, fulaninho(a) de tal é um gênio(a)”. Não acredito nisso, os fundos e seus times podem ser bons, nada mais do que isso.
Gênios são aqueles que criam curas, foguetes que dão ré e tratam problemas estruturais da sociedade. O gestor é no máximo inteligente, competente, respeita seu mandato, é diligente no tamanho do seu fundo, e faz seu trabalho bem feito.