Antagonismo a Dale Carnegie: a “síndrome do garçom” no mercado financeiro

Se você concordar com as pessoas, o tempo todo, fará amizades, será querido(a), eventualmente vai ser capaz de influenciar as mesmas

Lucas Collazo

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Publicidade

Caros(as) leitores(as),

Dale Carnegie é considerado um dos maiores nomes da comunicação, desenvolvimento pessoal e técnicas de venda da história. Ele teve grandes nomes como alunos, como o próprio Warren Buffett, além de atingir e formar milhões com seus grandes livros, assim como aconteceu comigo.

Um de seus títulos mais famosos é o “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, que inclusive recomendo fortemente a leitura. Porém, gostaria de isolar o aprendizado central contido nele e trazer nesse texto de forma sintética:

Quer aprender a arte que o nome do livro sugere? Simples, concorde com tudo.

Se você concordar com as pessoas, o tempo todo, fará amizades, será querido(a), eventualmente vai ser capaz de influenciar as mesmas. Basta seguir a linha de raciocínio e entregar o que a pessoa quer. Talvez seja por isso que o ditado popular indique o cão e o garçom como “melhores amigos do homem”.

Continua depois da publicidade

Essa agenda ganha intensidade com a polarização? Provável, ou seja, talvez Carnegie seja atual como jamais antes.

A discordância sempre foi vista com uma conotação negativa. O contraditório é pensar que absolutamente tudo fica melhor após refino, confronto, e inclusive os erros costumam ser evitados ou mitigados dessa maneira. 

No mercado financeiro, assim como nos demais setores, estamos expostos a narrativas, ambientes e cenário. Isso determina muito sobre o posicionamento das companhias, das pessoas. 

O momento atual, em especial, é complicado. Muitos ruídos políticos e econômicos ao redor do planeta, conflitos geopolíticos, reorganização de cadeias… por aqui, taxa de juros especialmente elevada. 

Essa nuvem cinza que paira sobre a cabeça de todos, de alguma forma, casada com a tal da polarização, torna os mandamentos de Carnegie a base das relações. Deixe-me tornar mais tangível:

Continua depois da publicidade

Um gestor de ações, que passou os últimos anos sofrendo com resgates e possivelmente performance pior do que o Ibovespa, vai assumir posições fora do consenso e mais “arriscadas” ou vai permanecer naquilo que é mais óbvio? Depende do caso, mas pode acontecer.

O investidor pessoa física, que historicamente viveu no rentismo e que sofre com a lacuna da educação financeira, vai diversificar seus recursos em diversas classes de ativos e sofisticar sua carteira ou vai permanecer majoritariamente alocado em renda fixa? Deve ser a maioria.

Um assessor de investimentos, instruído a ajudar seu cliente a investir melhor os recursos, vai adotar uma posição de “bater de frente” com essa pessoa que quer concentrar em renda fixa e buscar por maior diversificação ou vai tentar mostrar a melhor opção dentro do desejo de seu cliente? Parece lógico.

Conclusão: nesse momento, você concorda para sobreviver. Se você discordar do seu cliente e, por acaso, a carteira dele desandar, o custo de oportunidade do CDI é tão alto, que alguém da concorrência vai concordar com ele e tirar esse cliente de você. 

Se o fundo for “longo prazista” demais, sofrer com a volatilidade de curto prazo, ele vai sofrer resgates até desaparecer do mapa. No fim do dia, essa é a realidade. 

Os incentivos se tornam perversos, de todos os lados da mesa, inclusive, a culpa também é do investidor – a demanda dita a oferta. Sendo que o certo, era termos um ambiente antagônico aos ensinamentos de Dale Carnegie.

Autor avatar
Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney