A melhor proteção do cenário catastrófico brasileiro é investir em ações brasileiras

Para um lado ou para o outro, o ativo que mais se beneficia do otimismo, também é o que mais te protege do cenário catastrófico

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

Nas últimas duas semanas, o mercado teve uma ruptura importante em termos de perspectivas para o cenário local brasileiro. Vocês possivelmente perceberam essa alteração pela cotação do dólar, talvez os juros futuros e os títulos públicos atrelados a inflação.

O curioso e que eventualmente tenha passado despercebido: o efeito foi muito menos relevante na bolsa brasileira. Vocês notaram?

Claro, tivemos, sim, um choque inicial, mas o próprio Ibovespa foi bem comportado, especialmente quando colocamos ele de frente com os acontecimentos que foram responsáveis por uma razoável deterioração do ambiente macroeconômico, sobretudo do político. Mas por que?

Acho que o argumento que mais me satisfaz é bem simples: ninguém investe em ações brasileiras. Obviamente, não leve ao pé da letra, o mercado sempre será liquidamente comprado,  não pode ser vendido.

Contudo, o estrangeiro retirou recursos do Brasil, que, inclusive, se tornou quase irrelevante na alocação global. O brasileiro, cada dia que passa, se torna menos presente no mercado acionário local.

Os investidores institucionais, que começaram o ano reduzindo seu risco em ações brasileiras, estão realizando esse movimento novamente agora. Os coitados dos meus amigos gestores de ações foram obrigados a vender seus ativos para honrar com seus resgates.

Agora, algo que eu não consigo compreender: vocês não entenderam que empresas são ativos reais? Que elas possuem capacidade de repasse de inflação na ponta?

Não? Bom, vamos imaginar duas situações:

Em 2026, no próximo ciclo político, temos uma mudança relevante de direção. Vamos supor que algum representante da nova direita, pleiteado como melhor opção pelo “Sr. Mercado”, consiga se eleger – isso seria “explosivo” para a bolsa brasileira.

Provavelmente, assistiríamos a uma descompressão de prêmio de risco, eventualmente veríamos o maior “bullmarket” brasileiro da história, dado o nível de preço que vemos hoje nos ativos locais. Mas esse seria o cenário extremamente otimista certo? Parece ser pouco provável, não é?

Tudo bem, vamos fazer um exercício de imaginar o extremo oposto: o cenário local deteriora ainda mais. O Banco Central perde sua credibilidade, arremessa os juros para baixo na base da marretada, a inflação começa a correr para cima absurdamente e o câmbio não para de se depreciar, o dólar vai em direção a lua.

Meus amigos e amigas, isso seria extremamente benéfico para oligopólios. Claro, infelizmente para os menores, seria eventualmente o fim, seriam apertados até quebrarem.

Enquanto isso, as exportadoras estariam gerando caixa como nunca. O oligopolista concentraria mercado e continuaria com o poder de repassar para os preços, ainda mais num eventual cenário catastrófico de desorganização.

A bolsa brasileira é lotada de empresas com essas características. Além disso, elas estão extremamente abandonadas na B3, com valuations absurdamente descontados, taxas internas de retorno real muito maiores do que os incríveis “7% + IPCA” dos títulos públicos.

Para ver que não estou ficando maluco, basta ver o que aconteceu com a Argentinanno cenário de deterioração do valor da moeda. A ideia de maluco mesmo, para mim, é ficar aplicado no CDI, com um balanço de risco altíssimo de uma inflação que pode ser muito maior, um juro real que pode simplesmente sumir por conta disso.

Para um lado ou para o outro, o ativo que mais se beneficia do otimismo, também é o que mais te protege do cenário catastrófico. É claro que isso não é verdade para todas as ações, existe muita empresa negociando na alta de valuation, mas também temos muitas pechinchas.

Isso é tão verdade que muitas dessas empresas estão anunciando programas de recompras, que, aliás, defendem ainda mais o investimento em suas ações. Pois geram um “carrego” interessante a favor do acionista, sem falar no pagamento de dividendos.

O povo brasileiro precisa aprender essa lição: ações são ativos reais, e que, pelo nível atual, muito mais interessantes do que os títulos públicos em si.

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Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney