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Página virada. A eleição já acabou e Bolsonaro é o próximo presidente. No dia 29 de outubro ele deve começar a trabalhar para arrumar a casa.
Há anos, muitos economistas vêm tentando chamar a atenção para os enormes desequilíbrios que a economia brasileira apresenta. E, mais importante, que era fundamental a resolução dos mesmos enquanto o mundo estivesse crescendo, com liquidez abundante e juros zero nos países desenvolvidos. Usando uma analogia que já virou clichê, seria “consertar o teto enquanto está fazendo sol”.
Pois bem, como no Brasil (em outro clichê) não perde a oportunidade de perder oportunidades, nós não decepcionamos e não fizemos as reformas estruturais minimamente necessárias. E precisaremos que estas sejam aprovadas em 2019. Difícil imaginar que o mercado dará o indulto para que empurremos mais uma vez com a barriga a reforma da previdência (pelo menos). Os gastos com essa rubrica já são deveras altos e insustentáveis para que a gente não faça nada.
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Problema reconhecido, não debatido em campanha, mas diagnosticado. Mas, será que “lá fora ainda faz sol, ou começamos a ver nuvens se aproximando”? Qual é o mundo que encontraremos quando começarmos a Obra-Brasil?
O vento favorável está ficando cada vez mais rarefeito. A economia americana ainda cresce bastante, mas há sinais de algum cansaço (em particular nos resultados corporativos). A guerra comercial está só no começo e alguns prognósticos indicam que muitos anos pela frente serão necessários até que se esgotem as batalhas. Difícil prever a quantidade de feridos. Em paralelo a isso, o Banco Central americano está em meio a um processo de alta da taxa de juros (que deve durar até final do ano que vem, pelo menos), o que certamente vai encarecer o preço do dinheiro, tornando mais difícil o financiamento público e privado do resto do mundo. Usualmente, ciclos de alta de juros nos Eua levam a crises nos países emergentes (anos 80 e 90 são os exemplos mais óbvios).
Na Europa, dúvidas e mais dúvidas. Em particular, preocupa a Itália, que apresenta um quadro orçamentário conturbado. A subida ao poder de um grupo político menos rigoroso com as finanças públicas deixou o mercado tenso. A diferença de juros italianos em relação aos juros na Alemanha já coloca alguns analistas temerosos que a Itália pode voltar ao círculo vicioso de “aumento do déficit público – aumento da taxa de juros – recessão – aumento do déficit público” e por ai vai. Uma reedição, talvez menos dramática, de 2012.
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No Oriente, a China segue como a maior fonte de atenção. O país também dá sinais de cansaço em sua exuberância econômica. Não acreditamos em um pouso mais forte da economia do país, tampouco nos parece que eles conseguirão voltar a ser aquela fonte de demanda quase infinita de recursos para os exportadores de commodities, como o Brasil. Com uma guerra comercial pela frente, a China corre o risco, a depender da agressividade e extensão do embate com Trump, de escorregar na capacidade de promover crescimento acima de 5-6%.
Em resumo, Bolsonaro encontrará um mundo cheio de problemas, com muito menos humor e boa vontade com os problemas dos países emergentes do que tinha no período 2013-18. A conta chega e rápido. Há uma janela pequena para que Paulo Guedes e cia enderecem parte dos nossos problemas mais urgentes e ganhemos tempo para ajustar desafios de mais longo prazo. Mas, a margem para erro é bem pequena.
*Ivo Chermont é sócio e economista-chefe da Quantitas Asset
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As opiniões do autor refletem uma visão pessoal e não necessariamente da Instituição Quantitas Asset
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