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Para os opositores e esperançosos, tenho uma má notícia. A eleição acabou. Nunca antes na história das eleições no Brasil alguém virou 20p.p. em um segundo turno faltando 10 dias para o pleito.
Dito isto, cabe a quem se interessa pelo assunto tentar entender o fenômeno Bolsonaro. O que ele representa e como alguém com 7 segundos de televisão e sem recursos de campanha conseguiu vencer corações e mentes de quase 50 milhões de brasileiros.
Muitas respostas emocionais tentam jogar na conta dos muitos conservadores que estavam escondidos e conseguiram sair dos armários para despejar ódio e rancor nos opositores e progressistas. A resposta parece mais complexa que isso, bem mais.
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Tenho outras explicações: economia e técnicas de persuasão.
Em um artigo publicado pela revista acadêmica European Economic Review, Funke, Schularick e Trebesch (2016) mostraram que em 140 anos de história política na Europa e mais de 800 eleições em 20 países, recessões severas e identificadas como resultado de políticas econômicas do governo levavam a um aumento de 30% da extrema-direita nos parlamentos.
O professor da PUC-RJ, Claudio Ferraz publicou ontem uma coluna no Nexo Jornal em que ele identifica que a votação no Bolsonaro não cresceu em lugares mais violentos e muito menos em municípios onde a corrupção é percebida mais claramente. Ou seja, corrupção e violência não parecem ter sido a causa primordial (mas, claro que importantes) do voto “anti-stablishment”, mas sim o desemprego (derivado da recessão severa, identificada no parágrafo acima).
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Nem todo evento é resultado de uma única causa. Na verdade, todo fenômeno tem múltiplas explicações. Mencionamos a economia e o emprego como fortes impulsionadores do voto em Bolsonaro, a causa primordial.
Mas, por que Bolsonaro e não outro candidato com experiência executiva? Por que além de ser de direita, o que já lhe dava uma vantagem inicial, Bolsonaro teve o mérito da comunicação, superior a dos outros pretendentes à cadeira presidencial.
Ele conseguiu com técnicas de persuasão colar a ele duas imagens: (i) “eu sou o anti-PT” (observado pela maioria como o partido culpado pelo sofrimento da depressão econômica) e (ii) “eu sei resolver o problema da violência urbana”.
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Nesse segundo ponto, em particular, a campanha de Bolsonaro se assemelha a de Trump ao mencionar um problema sério e comum (imigração ilegal nos Eua vs. Violência urbana no Brasil) e exagera na dose do remédio com graus de surrealismo (um muro em toda fronteira americana vs. Arma liberada para todos os cidadãos de bem). Imagens abstratas e conceitos vagos são suficientes para dar a qualquer um a interpretação que quiser e absorver o voto de todos que sofrem com o problema.
A eleição acabou. Bolsonaro será o próximo presidente do Brasil. A recessão severa causada pelo PT e o discurso encaixado pelo principal político de direita proporcionou essa cisão nos últimos 25 anos dominado por PT-PSDB. Cabe a estes tentarem se reinventar se desejam retornar ao Planalto. Serão tempos diferentes.
*Ivo Chermont é sócio e economista-chefe da Quantitas Asset
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As opiniões do autor refletem uma visão pessoal e não necessariamente da Instituição Quantitas Asset
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