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O ministro da Economia falou ontem em um projeto de moeda única para o Mercosul, inclusive batizando-a de Peso Real. É evidente que Paulo Guedes tem a exata noção de todos os percalços para começar a construir um diálogo concreto nessa direção.
É até compreensível a importância simbólica de sugerir algo tão forte como uma união monetária na primeira viagem oficial do presidente brasileiro à Argentina, especialmente há 4 meses das eleições no país e quando os hermanos voltam a namorar a ideia de voltar ao Kirchnerismo, que tanto sofrimento já causou.
Mas acho que é fácil imaginar todas as dificuldades econômico-políticas de tal projeto. Uma rápida observação da história da União Monetária da Europa já indica que esse é um trabalho que demora décadas. O primeiro discurso a favor de uma união econômica dos países europeus ocorreu em 1950. Quase 70 anos depois, a região convive ainda com o projeto incompleto, deficiente na união completa do setor bancário e fiscal.
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E não mencionamos a extrema heterogeneidade política e cultural de cada país, o que traz enormes custos transacionais ao projeto. Basta ver o crescimento dos partidos eurocéticos na Itália, Grécia, Espanha, França, dentre outros. Como sempre, existem trade-offs difíceis de serem superados. Foi difícil em um bloco com instituições mais desenvolvidas que nos países do Mercosul.
A Argentina hoje ainda convive com problemas do século XX como inflação alta e falta de reservas, que os levou ao FMI. O Brasil possui instituições fiscais muito frágeis. O Uruguai migrou para uma vertente política à esquerda nos costumes da que predomina no Brasil e Argentina hoje. Como fazer para esses países acharem um denominador comum?
Uma exigência comum na Europa era que cada país alcançasse padrões econômicos mínimos para poder se integrar ao bloco. Fica evidente, portanto, que cogitar uma moeda para a região é um sonho muito distante. A Europa usou a II Guerra como motivação para buscar uma união política que resultaria em uma união econômica. A América Latina dificilmente passará por algo tão dramático quanto aqueles anos de 1939-1945 na Europa. Mas a histórica econômica dos séculos XX e XXI mostra um continente que insiste em flertar com o populismo. Infelizmente, não consigo observar que tenhamos maturidade para nem ao menos colocar no papel algo tão ambicioso. Parece-me, portanto, uma proposta irreal.
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*Ivo Chermont é sócio e economista-chefe da Quantitas Asset
*As opiniões do autor refletem uma visão pessoal e não necessariamente da Instituição Quantitas Asset
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