Publicidade
A economia global dá sinais de cansaço. Isso não significa que teremos uma recessão em 2019. Provavelmente o mundo crescerá em torno de 3%, os Estados Unidos conseguirá se manter próximo ao seu produto potencial (1,5-2%) e a China um pouco acima de 6% no ano que vem.
No entanto, algumas nuvens negras começam a se formar no horizonte em diversas partes do Globo, culminando em uma provável recessão americana em 2020.
Na China, a grande incerteza vem da capacidade que o governo chinês possuirá de reativar sua economia que apresenta sinais de desaceleração. Ao observar o pobre comportamento de alguns ativos relacionados ao crescimento chinês nos últimos três meses, como mercado de ações em alguns países asiáticos, moedas de países emergentes ou preços de metais industriais, vê-se claramente o impacto do medo dos investidores à desaceleração chinesa. Estabilização, ou recuperação, desses ativos só ocorreu depois que o CNY se estabilizou na faixa de 6,90 contra o dólar americano. Olhando à frente, vê-se um espaço menor de grande mobilização e estímulo do governo chinês tendo em vista que qualquer acomodação monetária ou fiscal poderia vir acompanhada de nova rodada de uma indesejável desvalorização da sua moeda. Uma economia que já conta com forte alavancagem do setor privado, novas quedas de 10, 20, 30% de sua moeda não é algo bem vindo.
Continua depois da publicidade
Na Europa, acumulam-se problemas políticos. A Inglaterra ainda com imbróglio do processo de divórcio com a União Europeia, com muitos especialistas estimando custos relevantes para sua economia no médio prazo derivado desse movimento. Na França, o governo Macron sofre com protestos contra aumento de combustível e a solução é a de sempre quando se trata de Europa, aumento de gastos e redução de impostos. Na Itália, o novo governo, com uma raiz populista, também briga com a União Europeia para poder expandir seu déficit fiscal. Na Alemanha, uma Merkel enfraquecida depois de 13 anos no poder, reduz o poder de fogo dos alemães no controle fiscal dos seus vizinhos. A Europa parece estar, mais uma vez, se aproximando perigosamente de um ciclo de endividamento público, sem ao menos ter começado a normalizar sua política monetária.
Nos Estados Unidos, os problemas começaram a aparecer. E o mais grave deles parece ser a alavancagem do setor privado. Os spreads de empresas high yield a investment grade sugerem que as empresas terão enorme dificuldade de lidar com aumento da taxa de juros promovida pelo Fed. Nos últimos anos, parte do crescimento da bolsa americana se deu pelo processo de endividamento e buyback das ações. Esse aumento do preço das ações precisa vir acompanhado de lucros em algum momento do tempo. Mas, se as mesmas sobem por redução da quantidade disponível de ações (pois as empresas fizeram buybacks) e não pela perspectiva de crescimento derivada de um investimento realizado, em algum momento, teremos problemas e um ajuste mais pronunciado do S&P é possível.
Em meio a esses problemas financeiros que algumas empresas começam a enfrentar, o setor industrial começa a sofrer impacto tarifário da trade war, com aumento de custo de alguns insumos, além de uma crescente pressão, mas não explosiva, da mão de obra, com desemprego atingindo o menor nível em cinquenta anos.
Continua depois da publicidade
Por fim, o governo de Trump está levando o país ao maior déficit fiscal em períodos de paz das últimas décadas. E aí fica a pergunta: como o Banco Central americano conseguirá parar a alta de juros com o fiscal tão desajustado? As duas maiores rubricas de gastos nos Eua, defesa e seguridade social, não apresentam sinais de retração com uma sociedade que está envelhecendo e um país com tantas frentes de batalha como os Estados Unidos. Não à toa, Trump cobra dos seus parceiros de Otan um maior investimento em defesa, possivelmente para tentar frear os gastos em casa.
E nem começamos a falar ainda da guerra comercial, que na verdade é mais uma guerra industrial-tecnológica travada entre China e Estados Unidos. Para essa, precisamos de uma coluna toda especial, pois o assunto é deveras sério e merece um tratamento mais prolongado, à altura dos seus riscos para economia global.
*Ivo Chermont é sócio e economista-chefe da Quantitas Asset
Continua depois da publicidade
*As opiniões do autor refletem uma visão pessoal e não necessariamente da Instituição Quantitas Asset
Seja sócio das maiores empresas da bolsa com TAXA ZERO de corretagem! Clique aqui e abra uma conta na Clear!