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Minha primeira visita à Polônia foi em 1991, bem quando o país estava emergindo da era comunista. Naquela época, Varsóvia era uma cidade triste, com vitrines vazias e lojas com poucas mercadorias para vender. Localizado no coração da cidade, o edifício mais alto era (e ainda é) o “Palácio da Cultura e Ciência Joseph Stalin” de 231 metros de altura, um presente da União Soviética (o nome de Stalin foi posteriormente removido). Muitos dizem que o impressionante edifício — projetado para se assemelhar a prédios de Moscou, com torres góticas coroadas com pináculos altamente decorados e enormes estátuas — parece um bolo de casamento. Atualmente, Varsóvia é uma cidade moderna e cheia de vida, com muitos arranha-céus e muitas atividades de lazer para os residentes e visitantes, incluindo várias cadeias hoteleiras conhecidas, cafeterias, restaurantes e lojas de varejo.
A Polônia tem sido uma das economias da Europa que mais cresceram nos últimos anos. O crescimento do produto interno bruto (PIB) foi de 3,6%, em 2015, e estima-se que deva ser algo próximo disso em 2016 1. A taxa de desemprego tem caído a níveis não vistos desde 2008, e o governo introduziu subsídios para as famílias com filhos, que poderá incentivar os gastos dos consumidores. A ênfase nos cuidados com as crianças e na educação é evidente em todos os lugares. Em um shopping que visitei durante a minha viagem ao país, notei que havia uma área de lazer/educação para as crianças em cada andar. Uma tinha um enorme quebra-cabeça para as crianças montarem, enquanto que outro tinha uma exibição de vida pré-histórica, com modelos de dinossauros, para as crianças brincarem.
Embora os mercados globais tenham sofrido um choque após o povo do Reino Unido ter votado para sair da União Europeia (UE) em junho, eu acredito que essa decisão poderá ter consequências positivas para a Polônia e para outros mercados emergentes na Europa. Novas barreiras comerciais podem levar algumas empresas baseadas no Reino Unido — em especial na área de manufatura — a se transferirem para países que ainda fazem parte da UE e que podem oferecer acordos mais favoráveis e custos de mão de obra mais baixos, tais como a Polônia, a Hungria e a República Tcheca. Para os poloneses que trabalham e vivem no Reino Unido, o futuro está um pouco incerto diante da retórica anti-imigração daqueles que apoiam a campanha a favor da “Saída” do Reino Unido. Estima-se que esses trabalhadores enviem aproximadamente US$ 1 bilhão (€ 0,9 bilhão) de volta para a Polônia todo ano 2.
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A ascensão do nacionalismo polonês
Um possível resultado do Brexit, que me preocupa em termos gerais, é a possibilidade de uma retração no comércio global e nos esforços de reforma ao redor do mundo. O cenário político da Polônia tem se tornado duvidoso, com a ascensão do partido nacionalista no poder, Lei e Justiça, liderado por Jaroslaw Kaczynski. Kaczynski é o irmão gêmeo do anterior presidente da Polônia, que morreu em 2010 em um acidente de avião, quando pousava em Smolensk, na Rússia. O povo da Polônia é muito orgulhoso e protetor de sua independência e identidade, e o nacionalismo tem se intensificado sob o comando do partido Lei e Justiça. Essa ascensão do nacionalismo não é exclusiva da Polônia. O resultado do Brexit é um sinal bem visível dessa propagação. A ascensão do sentimento nacionalista pode trazer uma problemática retração no comércio global, e um posicionamento isolacionista por parte dos políticos pode contribuir para evitar reformas que resultem em políticas voltadas ao crescimento e esforços a favor de privatizações. Isso é uma preocupação para nós.
Uma pesquisa de um jornal polonês descobriu que 55% dos respondentes acreditavam que Kaczynski governasse o país, embora ele não ocupe um cargo oficial no governo. Ele é acusado de promover ceticismo e uma profunda desconfiança dos vizinhos e prévios ocupantes da Polônia. O novo governo também é acusado de controlar a mídia pública, os serviços de inteligência e os mais altos tribunais. O nacionalismo estridente de Kaczynski pode ter origem na história que formou sua juventude. No final da Segunda Guerra Mundial, 85% dos prédios de Varsóvia haviam sido destruídos, e Kaczynski cresceu ouvindo as histórias de horror sobre a opressão e a imposição do comunismo por Moscou. Ele e o seu irmão trabalharam com Lech Walesa, o chefe da organização sindical Solidariedade, que ajudou a derrubar o partido comunista na Polônia. A morte de seu irmão gêmeo parece ainda pesar na vida de Kaczynski. Existem relatos de que ele visita o túmulo do irmão todos os sábados, assim como em outras ocasiões, para marcar eventos importantes.
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Evidências de um posicionamento nacionalista cada vez maior podem ser vistas na suspensão, por parte do governo, de esforços de privatização, envolvendo empresas nos setores financeiro, de seguros e de energia, considerados estrategicamente importantes. Poderíamos argumentar que os esforços de privatização foram importantes para o sucesso anterior da economia polonesa. O governo também alterou as regras de licitação pública para favorecer empresas locais, algo que poderia preocupar outros países membros da UE. Em um esforço para proteger o importante setor de mineração de carvão da Polônia, o governo também afrouxou as políticas de energia relacionadas aos níveis de emissão de carbono.
O novo governo da Polônia propôs medidas para melhorar as finanças do governo, introduzindo um novo imposto sobre ativos bancários, assim como um programa de conversão de empréstimos para financiamentos denominados em francos suíços, que forçará os bancos a converter esses empréstimos para zloty polonês. Com a estimativa de que mais de 500 mil famílias polonesas possuem esses empréstimos, o programa de conversão, juntamente com o novo imposto bancário, provavelmente será oneroso para o setor bancário. Anos atrás, muitos bancos ofereciam para os clientes hipotecas em francos suíços, que eram atraentes para compradores de imóveis devido às baixas taxas de juros. Naquela época, já achávamos isso um erro e avisamos que tal prática para clientes cuja renda era exclusivamente em zloty polonês seria perigosa, caso a taxa de câmbio mudasse. E foi o que aconteceu. O zloty desvalorizou frente ao franco suíço e muitos compradores de imóveis se viram com dificuldades. Sem conseguir honrar os pagamentos, muitas pessoas perderam suas casas. Tornou-se um ato popular para o governo, então, favorecer o público com hipotecas e implementar medidas para que os bancos assumissem o risco.
Adicionalmente, a Polônia anunciou um amplo plano de reforma previdenciária, que visava desmantelar o sistema privado de fundos de pensão, transferindo a maior parte dos ativos para contas de aposentadoria individuais, parte das quais será administrada por uma entidade estatal. A comissão europeia colocou a Polônia sob alerta em função do plano, reforçando que sistemas de pensão sob a responsabilidade do estado devem ser “adequados, seguros e sustentáveis”. Existe a preocupação de que alguns ativos de pensão de longo prazo poderiam ser usados para financiar certos itens na agenda do governo.
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A força do zloty é certamente uma preocupação para nós, como investidores na Polônia, e outra grande questão global é a crise dos refugiados na Europa. Embora o governo anterior da Polônia tivesse aceitado 7 mil refugiados dentro da cota de redistribuição de refugiados da UE, o novo governo é fortemente contrário a esse movimento, o que é irônico, uma vez que muitos poloneses do Reino Unido estão agora preocupados que talvez sejam forçados a voltar para casa.
Recentemente, a comissão europeia expressou preocupação com algumas práticas na Polônia, incluindo o que citou como sendo a falta de respeito pelo “Estado democrático de direito” e, também, com as novas leis de mídia, que conferem ao governo a autoridade para nomear e exonerar diretores executivos de televisão e rádio nos meios de comunicação financiados publicamente, o que poderia limitar a liberdade de expressão. Desde que a Polônia se associou à UE, em 2014, o país tem se beneficiado de bilhões de euros em auxílios e empréstimos para melhorar a infraestrutura. Portanto, a relação com a UE continua sendo importante para a Polônia. Recentemente, a UE tem alocado recursos para apoiar a inovação na Polônia e aumentar a competitividade. Em 2015, a comissão europeia adotou o programa operacional de “Crescimento Inteligente” da Polônia entre 2014-2020, no valor de € 8,6 bilhões em investimentos para melhorar o crescimento econômico3. O programa foca em fortalecer a atividade de pesquisa e desenvolvimento, além de aprimorar empresas de pequeno e médio porte, para desenvolverem novas ideias e vantagens competitivas. Para afastar as preocupações da UE, o novo governo se comprometeu a aderir às regras fiscais da UE, mantendo o déficit fiscal abaixo de 3% do PIB e o endividamento abaixo de 60% do PIB.
O ambiente político tem causado alguma preocupação entre as agências de classificação de risco de crédito. Em janeiro de 2016, a Standard & Poor’s (S&P) rebaixou a dívida do país e, em maio de 2016, a Moody’s Investors Services modificou sua perspectiva da classificação soberana da Polônia para “negativo”, antes era “estável”, enquanto manteve sua classificação de longo prazo em A2. Em 15 de julho, a agência Fitch reafirmou a classificação de crédito da Polônia como A-, mantendo o nível inalterado. Justificando sua decisão, em um comunicado à imprensa, a Fitch Ratings destacou os sólidos fundamentos macro da economia polonesa, refletidos nos fortes dados do PIB4. A agência projetou o crescimento do PIB em 3,2% a 3,3% nos anos 2016-2018, afirmando que isso deverá ser principalmente em função do consumo privado5.
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Oportunidades de investimento de “baixo para cima” na Polônia
Embora o ambiente político apresente grandes desafios, como investidores de “baixo para cima”, é nosso trabalho encontrar empresas capazes de sobreviver e prosperar em qualquer ambiente. Tivemos a oportunidade de visitar várias empresas na Polônia, nesta primavera, e notamos cinco tendências interessantes na economia, que nos deram motivos para termos otimismo como investidores:
- O crescimento rápido do mercado consumidor
- Melhorias significativas na infraestrutura, com estradas melhores estimulando o transporte por automóveis e caminhões
- Uma ênfase maior em tecnologia e investimento, para melhorar a qualidade
- Crédito bancário mais restrito, como resultado de políticas do governo em relação aos bancos
- A crescente internacionalização das empresas polonesas, com muitas expandindo para outras regiões da Europa.
Em uma de nossas primeiras visitas a empresas na Polônia, encontramo-nos com administradores de uma locadora de automóveis, especializada em gestão de frota automotiva. O negócio está relacionado aos temas mencionados acima, do rápido crescimento do mercado consumidor e da infraestrutura. Os administradores nos falaram que aproximadamente 10% das empresas na Polônia, com 500 ou mais funcionários, usam serviços de gestão de frota, enquanto que na Europa Ocidental esse dado está próximo de 50%. Muitos dos indivíduos que haviam feito um leasing de automóvel acabaram adquirindo o veículo. Portanto, o potencial de crescimento nesta área parece bom.
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Também visitamos uma das maiores refinadoras de petróleo da região. A Fazenda Pública tem uma grande participação na empresa, mas suas ações estão listadas na bolsa de valores da Polônia e são de propriedade de diversos investidores locais e estrangeiros. A empresa é um bom exemplo de privatização bem sucedida de uma entidade pública, que se expandiu para além de sua própria fronteira, tirando proveito das oportunidades da UE.
Outra empresa que visitamos tinha uma tecnologia inovadora para detectores infravermelhos, que pode ser usada em vários setores (exército, ferrovias, automóveis, detecção da qualidade do ar e medicina). A empresa tinha uma estratégia para reduzir o preço médio por detector e aumentar os volumes significativamente, assim como a acessibilidade e popularidade da tecnologia em novas indústrias. Uma aplicação interessante seria a verificação da temperatura de peças de máquinas, para detectar elementos defeituosos em qualquer maquinário (uma peça defeituosa teria uma temperatura mais elevada). Outra aplicação seria na medicina, para detectar estados inflamatórios no tecido humano, o que pode ser um marcador de câncer.
Também visitamos um banco pequeno, mas inovador, que estava interessado em adquirir outros bancos para obter sinergias de custos e de receitas. Como exemplo do impacto da integração da UE, o banco foi aberto em 2008 por um conglomerado baseado na Itália. Os diretores citaram o novo imposto bancário como sendo seu grande desafio. Um terço do imposto terá que ser diretamente absorvido pelo banco, uma vez que o governo da Polônia foi firme em dizer que não permitiria que os bancos repassassem a totalidade do custo do imposto bancário para os clientes.
Um operador de restaurantes que visitamos estava expandindo para outros países no leste da Europa, assim como para a Espanha e até para a China. A equipe de gestão falou que via um forte potencial de crescimento, dadas as medidas populistas do governo de colocar dinheiro nos bolsos das famílias.
Também no setor de consumo, visitamos um grande fabricante de móveis na Polônia. O setor moveleiro polonês tem uma forte tradição. A Polônia é o terceiro maior país em fabricação de móveis da Europa e o quarto maior do mundo, com as exportações de móveis representando cerca de 2% do PIB do país6. O nicho da empresa que visitamos é móveis prontos para montar. Ao fazer um “tour” na fábrica e no depósito da empresa, ficamos impressionados com suas instalações modernas e equipamentos avançados. Curiosamente, um de seus principais clientes é um grupo na África do Sul, que conhecemos muito bem.
A empresa mencionou a regulamentação ambiental da UE como um ponto importante para seu negócio. Um número maior de clientes europeus está buscando móveis sem substâncias prejudiciais, e a empresa está focada em atender a essa demanda, com novos paneis aglomerados produzidos sem formaldeído. Perguntamos sobre a concorrência chinesa no setor moveleiro, mas os diretores da empresa nos disseram que encomendas de fabricantes chineses normalmente levavam em torno de três meses para serem entregues, e eles podiam fazer entregas na metade desse tempo. Além disso, nos disseram que os preços dos produtores chineses não estavam tão competitivos quanto já foram no passado.
O povo polonês ama uma celebração e, tradicionalmente, a cerveja e a vodca são partes importantes de tais eventos. Visitamos um produtor de vodca e outros destilados, incluindo bíters, conhaques e rum. Citando perspectivas limitadas de crescimento na Polônia e na República Tcheca, os gerentes falaram que estão avaliando fazer aquisições em outras áreas da Europa e em outras partes do mundo, outro exemplo de como as empresas polonesas estão ampliando seus horizontes internacionalmente.
Esperamos que os líderes da Polônia reconheçam a necessidade de maiores reformas, e que seu sentimento nacionalista não seja em detrimento do crescimento, do comércio global e da inovação. Achamos que a Polônia está em um momento excitante de sua história, com muitos desafios, mas também com maiores oportunidades para investidores. Estamos ansiosos para explorar maiores oportunidades potenciais no país.
Os comentários, as opiniões e as análises do Mark Mobius são apenas para fins informativos e não devem ser considerados como uma consultoria de investimento, uma recomendação para investir em qualquer ativo ou para adotar qualquer estratégia de investimento. Uma vez que as condições econômicas e de mercado estão sujeitas a mudanças rápidas, as opiniões, as análises e os comentários são oferecidos com base na data da publicação e podem ser alterados sem aviso prévio. Este material não tem como objetivo ser uma análise completa de todos os fatos importantes em relação a qualquer país, região, mercado, setor, investimento ou estratégia.
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1. Fonte: IMF World Economic Outlook database, abril de 2016. Não há garantia de que qualquer estimativa, previsão ou projeção se realizará.
2. Fonte: Banco Central da Polônia; dados sobre remessas até 2013.
3. Fonte: “UE investirá € 8,6 bilhões de recursos regionais na Polônia para aumentar a inovação,” comunicado à imprensa, fevereiro de 2015.
4. Fonte: Comunicado à imprensa da Fitch Ratings, 15 de julho de 2016.
5. Não há garantia de que qualquer projeção, estimativa ou previsão se realizará.
6. Fonte: Eurostat, dados de 2015.