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No artigo anterior, eu falei sobre a relação entre demanda e oferta do urânio. Hoje vou falar sobre o ciclo, os compradores financeiros e, principalmente, a Section 232, que deve ter um impacto grande no preço do metal.
Uma grande crítica que alguns investidores fazem sobre o mercado de urânio diz respeito ao enorme estoque detido pelas geradoras de energia, as utilities, que corresponderia a pouco mais de 3 anos do próprio consumo, na média.
Apesar do que pode parecer um estoque capaz de segurar o preço do metal nos níveis atuais por muitos anos, é importante notar que o urânio leva entre 1,5 a 2 anos para deixar a mina e chegar ao reator. No processo, ele é transformado em gás, enriquecido e são fabricadas as “barras de combustível” (fuel rods).
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Mais importante ainda é o fato de o custo operacional de um reator nuclear ser baixo e o custo do material (urânio) não chegar a 5% do total. Os gastos com advogados chegam a ser mais representativos do que com o próprio combustível usado para produzir energia nas plantas nucleares.
Assim, do lado das utilities, o risco é não ter o material ou não tê-lo nas especificações desejadas. O custo realmente não é o principal fator para elas. Tanto que no último ciclo, vários contratos foram assinados quando o preço estava acima de US$100/lb.
Mas a demanda não se restringe somente aos reatores nucleares (utilities). Além deles, surgiu em 2018 um outro participante: o comprador financeiro. O fundo Yellow Cake, por exemplo, foi listado em Londres em meados de 2018, captou aproximadamente US$200 milhões e usou esse dinheiro para comprar 8,1 milhões de libras de urânio da Kazatomprom.
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São 8,1 milhões de libras de urânio que não chegarão ao mercado enquanto o preço não subir substancialmente. Além do mais, o Yellow Cake tem o direito de efetuar compras de mais US$100 milhões da empresa cazaque todo ano pelos próximos 9.
Além do Yellow Cake, existe também a UTC (Uranium Trading Corporation) e Uranium Participation Corporation. Outros fundos devem seguir a mesma linha, enxugando a pouca oferta que existe no mercado e pressionando os preços para cima. Então, se a demanda está nas alturas, por que o preço do urânio não está disparando?
Bem, no início do ano passado, dois produtores de urânio dos EUA, Ur-Energy e Energy Fuels, entraram com uma petição no Departamento de Comércio nos EUA sob a Seção 232.
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Eles alegaram que a concorrência desleal destruiu a capacidade das minas americanas de produzir e solicitaram uma investigação alegando razões de segurança nacional. Esses peticionários querem que o governo dos EUA obrigue as utilities a comprar pelo menos 25% de toda a sua demanda de minas americanas.
Isso gerou uma enorme incerteza no setor, causando a suspensão de assinatura de novos contratos de longo prazo. A norma no setor que era a de contratos de longo prazo, deu lugar ao mercado spot. O mercado spot respondia tradicionalmente por apenas cerca de 10% do total, usado para liquidar a demanda inesperada ou o excesso de produção. Agora se tornou a norma – um caso engraçado da cauda abanando o cachorro.
Por causa de toda essa incerteza, as utilities contrataram muito pouco desde então, consumindo mais de um ano (e contando) de seus estoques. Ainda no tópico sobre estoques, estes foram menores no ano passado do que antes de Fukushima e também do que no auge do último bull market.
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Além disso, eles caíram um pouco mais, como 2018 foi o primeiro ano em 10 em que o consumo superou a oferta (produção primária) em grande quantidade. O consumo de urânio em 2018, incluindo os compradores financeiros, foi de perto de 200 milhões de libras e a produção foi de cerca de 140 milhões de libras. A diferença entre demanda e oferta, que foi enorme no ano passado, deve aumentar ainda mais em 2019 e nos próximos anos.
Uma recomendação do Departamento de Comércio americano é aguardada até o dia 12 de abril e, em seguida, o presidente Trump tem mais 90 dias para chegar a uma decisão – atrasos podem ocorrer. Mas seja qual for a decisão, isso deve abrir caminho para novos contratos, e as utilities precisam desesperadamente disso.
A maioria delas estará sem contrato nos próximos 3 anos e elas não podem se dar ao luxo de ficar sem urânio. Como já mencionei, o urânio representa menos de 5% do custo de operação de um reator nuclear e a multa por não entregar a energia contratada é gigante. O nível de complacência do lado das utilities não poderia ser maior, na minha opinião.
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Acredito que estamos diante do que pode ser a melhor oportunidade de investimento desta década. No último bull market, a Cameco, a maior empresa do setor, subiu mais de 1.200% – e foi a posição de investimento menos lucrativa. A Paladin subiu quase 90.000%.
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Embora eu acredite que esse tipo de retorno não volte a acontecer, acredito que serão extraordinários para aqueles que fizerem o dever de casa e conseguirem encontrar as melhores empresas no setor. A hora de olhar para o setor é agora, antes que o gatilho (resolução da Section 232) seja disparado em meados de 2019.