Crise do coronavírus consumiu estoques de urânio enquanto Ásia e EUA constroem reatores nucleares

Descompasso entre oferta e demanda aumenta conforme se aproximam os vencimentos de contratos de longo prazo; o investimento está cada vez melhor

Marcelo López

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

(Crédito: Pixabay)
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Tivemos semana passada mais uma conferência do NEI, Nuclear Energy Institute, ou Instituto da Energia Nuclear. O principal tema do evento foi, como já era de se esperar, os impactos do Covid-19 no setor.

Também foram discutidos temas importantes, como os waivers ao Irã, o Acordo de Suspensão da Investigação de Dumping pela Rússia (RSA) e os novos reatores nucleares com tecnologia mais avançada.

Falando sobre os novos reatores, o Departamento de Energia dos EUA liberou US$ 80 milhões para que a TerraPower e a X-Energy continuem o desenvolvimento das suas unidades.

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Estamos vendo uma mudança de paradigma nos EUA, maior mercado de energia nuclear do mundo e isso trará impactos relevantes para todo o setor. Pouca gente sabe, mas hoje temos várias empresas nos EUA competindo nesse mercado e devemos ter boas novidades nos próximos anos.

Mas o mais interessante foi a constatação de que grande parte dos estoques foi consumida durante o período da pandemia, já que vários produtores suspenderam a produção e as utilities continuaram consumindo urânio. Já sabíamos disso, mas essa notícia agora chegou ao mainstream.

Como parte de nossas diligências, conversamos com vários produtores e eles nos disseram que estão esperando preços bem acima dos atuais US$30/lb nos próximos anos e que com preços abaixo de US$50-60 não há incentivo para produção.

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Os estoques estão abaixando e a maior parte dos contratos de longo prazo vencem em 2025, o que significa que devem ser renovados até no máximo 2023, para que as utilities não corram o risco de ficar sem o material essencial para a produção de energia limpa.

No mesmo dia da conferência do NEI, do outro lado do mundo, a China anunciou que o seu primeiro reator Hualong One, de terceira geração, atingiu o que chamam de “manutenção da reação em cadeia” e deve entrar comercialmente em operação até o final do ano.

A China está construindo mais um reator igual a esse, no mesmo local, e que deve entrar em operação já no próximo ano.

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Aliás, a China está com planos de atingir neutralidade de carbono até 2060 e a energia nuclear é uma importante figura nesse contexto, tanto que o gigante asiático tem planos de pelo menos triplicar a capacidade instalada no país até 2030 e, para isso, está construindo de 6 a 8 reatores por ano.

Um dia depois, a Rosatom, gigante russa, anunciou que a unidade 2 da planta de Leningrado-II começou a gerar energia e entregar ao sistema.

Estamos diante de uma oportunidade de investimento única, com demanda crescendo, especialmente na Ásia, produção em declínio e compradores finais (utilities) praticamente indiferentes ao preço, que por sinal está muito errado e abaixo do custo de produção da maioria dos produtores. Investimento não fica muito melhor que isso.

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Disclaimer: Esse texto reflete a opinião do autor e não constitui uma sugestão, recomendação, indicação e/ou aconselhamento de investimento. Nenhuma decisão de investimento deve ser tomada com base nas informações ora apresentadas, cabendo unicamente ao investidor a responsabilidade sobre qualquer decisão que venha a tomar.

O autor detém e negocia ativos ligados ao tema abordado em sua carteira proprietária e/ou na de clientes sob sua gestão remunerada.

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Marcelo López

Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.