Como os países desenvolvidos estão olhando para a questão da Previdência

Previdência pública não deveria existir e os planos conhecidos como “benefício definido“ estão com os dias contados.

Marcelo López

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Publicidade

Há pouco mais de uma semana, escrevi sobre a previdência nos EUA e suas implicações para a economia do país. Estou vendo mais e mais pessoas chegarem à mesma conclusão: previdência pública não deveria existir e os planos conhecidos como “benefício definido” estão com os dias contados.

Nos planos com benefício definido, o empregador assume a responsabilidade de administrar os investimentos do fundo e atingir a meta atuarial que garantirá o pagamento de um compromisso previamente acordado com seus empregados, quando estes se aposentarem. Em outras palavras, a remuneração do funcionário após sua aposentadoria é um passivo que a empresa carrega.

A BMW, uma das fabricantes de carros mais famosas do mundo, anunciou em 2017 que encerraria os planos de aposentadoria desse tipo no Reino Unido e que iria migrá-los para a modalidade contribuição definida, segundo a qual o empregador apenas faz as contribuições à conta de aposentadoria do empregado, que assume o risco e a responsabilidade pelas decisões e desempenho de investimentos. Na semana passada, foi a vez da BMW dos Estados Unidos fazer a mesma coisa.

Continua depois da publicidade

O Hedge Fund em que eu trabalhava em Londres também optou por isso, em 2006. A medida, que se tornará cada vez mais popular, visa estancar o sangramento de recursos das empresas para os fundos de pensão e desarmar a enorme bomba relógio que ameaça a solvência de várias empresas no mundo todo.

Algumas companhias têm problemas seríssimos nos seus respectivos fundos de pensão, como é caso da gigante General Electric (GE), que está underfunded em quase US$ 30 bilhões. Sim, uma empresa com capitalização bursátil de quase US$ 80 bilhões possui um déficit atuarial de quase US$ 30 bilhões.

Alguns analistas dizem que no caso da GE, os benefícios estão garantidos pelo Pension Benefits Guaranty Corporation’s Single-Employer Plan (PBGC), o que representa um alívio. Entretanto, é bom notar que o PBGC tem um patrimônio líquido de apenas US$2,4 bilhões.

Continua depois da publicidade

Resta a pergunta: e quem vai socorrer o fundo criado para socorrer? Pondo isso em perspectiva, é como se alguém tivesse uma dívida líquida de R$ 30 mil, mas um terceiro, cujo patrimônio total é de R$ 2,4 mil, fosse o fiador. Esse vai se tornar um problemão, assim como o FGC no Brasil, mas essa é uma discussão para outro post.

E a GE não é a única. Os fundos de pensão das empresas que compõem o S&P 500 estão somente 85% cobertos, o que representa um potencial prejuízo aos acionistas. Os enormes benefícios oferecidos aos empregados quando o vento soprava a favor se transformaram, há algumas décadas, num passivo de dimensão colossal.

Além do mais, juros muito baixos (ou até mesmo negativos) comprometeram o desempenho dos fundos de pensão. Por um lado, o valor presente dos benefícios a serem pagos no futuro subiu significativamente com a redução da taxa de desconto aplicada.

Continua depois da publicidade

Por outro, as metas atuariais, que eram razoáveis em um passado não tão distante, ficaram bem difíceis de serem atingidas nos dias atuais, sem que se corra um risco absurdo. Para uma simples meta de 6% a.a., os fundos de pensão teriam que comprar bonds de países como o Quirguistão, Costa do Marfim ou Nigéria. E, mesmo assim, eles não seriam suficientes para atender a demanda, ou seja, é praticamente impossível resolver o problema criado pela baixa taxa de juros no mundo atualmente.

Esse é mais um dos efeitos nefastos da baixa taxa de juros, impostos a nós pelos burocratas dos bancos centrais. Um grande impulso à tomada excessiva de risco se mostrará fatal na próxima crise, quando os indivíduos se depararem não somente uma queda no valor dos seus investimentos, como também uma perda em seus respectivos fundos de pensão.

Essa semana eu conversei com um expert em risco, Simon Mickhailovich, no podcast da L2 Capital (link aqui), e ele disse algo óbvio e muito sensato: a hora de se comprar um seguro é quando não se precisa dele.

Continua depois da publicidade

Após um acontecimento, o seguro desaparece ou seu preço sobe substancialmente. Recomendamos aos investidores que se atentem também a uma área um pouco negligenciada por analistas, os fundos de pensão das empresas. O risco vêm de onde menos se espera.

Quer investir melhor o seu dinheiro? Clique aqui e abra a sua conta na XP Investimentos

Autor avatar
Marcelo López

Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.