Apple: o que aconteceu com a queridinha do mercado?

A Apple, queridinha do mercado e ícone que chegou a valer mais de US$1 trilhão, está desmoronando - o que aconteceu?

Marcelo López

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Muitos analistas estão falando sobre a Apple hoje e o que deu errado. Interessante notar que as pessoas estão ouvindo justamente aqueles que não viram a tempestade chegar e agora estão explicando como ela afetará os preços de agora em diante.
 
Pois bem, no final de julho eu já havia escrito um texto sobre a Apple (leia aqui), onde mostrava os grandes riscos para a ação. Ninguém rebateu meus argumentos (que estão se concretizando agora), mas fui criticado simplesmente porque Warren Buffett era (e ainda é) acionista. Desde a publicação do artigo, as ações já caíram mais de 30%. Desde as máximas, quando chegou a valer US$1,1 trilhão, a empresa já perdeu quase US$400 bilhões em valor de mercado, o que equivale ao valor bursátil do Facebook.
 
A grande verdade é que essa é uma empresa de um só produto. O iPhone representa mais de 60% da receita e está operando em um mercado saturado, onde praticamente não há crescimento. Nos poucos lugares onde ainda há um pequeno crescimento, a competição é ferrenha e ela tem que enfrentar nomes como Samsung, Huawei e Oppo, que oferecem aparelhos a preços menores.
 
Nos mercados ainda não desenvolvidos, como África, por exemplo, usando um pouco de bom senso, vimos que não é possível a venda em grandes quantidades de um smartphone que custa mais de US$1.000.
 
Além disso, como também mencionei no meu post no final de julho, a maneira mais fácil de o governo chinês retaliar os EUA num conflito comercial seria por meio de uma imposição de tarifas à gigante do vale do silício – o que foi feito poucas semanas depois.
 
A venda dos Macs também está caindo e o mercado de computadores não tem mais o crescimento que tinha há 20 anos. Os iPads não são suficientes para manter vendas e margens da empresa nos níveis de 2017.

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Até onde sei, todos os insiders(executivos e gerentes) da Apple não compraram nenhuma ação em 2018 – mas venderam um bocado. Não é de se estranhar. Como sabemos, essas pessoas têm uma visão muito mais apurada do que os analistas sobre a própria empresa. Como diz o Taleb, a pessoa tem que ter “skin in the game” e os executivos têm (por isso venderam), enquanto analistas reiteravam recomendações de compra.
 
Mas ninguém quis enxergar os riscos na época e agora estão todos correndo para a porta de saída. Ela é estreita e nem todos conseguirão sair a tempo e sem pagar o pedágio necessário. Vai chegar um ponto em que as ações ficarão baratas – provavelmente quando os últimos analistas jogarem a toalha e mandarem vender. Aí pode ser uma boa oportunidade.

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Marcelo López

Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.