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André Vasconcelos*
O termo open innovation foi proposto por Henry Chesbrough em seu livro Open Innovation: the New Imperative for Creating and Profiting from Technology, publicado em 2003. Além do doutorado pela Universidade de Berkeley, Chesbrough acumulou experiência gerindo uma empresa de inovação no Vale do Silício. Tal vivência o ajudou a observar os processos colaborativos que existiam entre as empresas e os parceiros externos. Ao realizar seu PhD por Berkeley, Chesbrough tinha a intenção de tentar aproximar o mundo acadêmico do dia a dia real das empresas.
Em sua obra, Chesbrough descreve que o modelo de inovação aberta é o uso de fluxos de conhecimento internos e externos para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para o uso externo de inovação, respectivamente. Sem dúvida, esse modelo traz benefícios para todos. A empresa consegue trazer novas ideias e projetos a baixo custo e de forma mais rápida. Assim, os demais parceiros que contribuíram nos projetos ganham autonomia e escala. O mercado como um todo também sai ganhando com mais inovação a disposição. Para pequenas empresas e start ups, essa abertura das grandes empresas é uma excelente oportunidade de crescimento.
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Closed innovation
Para entender um pouco melhor sobre o open innovation, vale entendermos antes sobre o closed innovation. Em um modelo de closed innovation, a empresa gerencia e controla todas as etapas do processo de inovação, desde a criação, passando pelo desenvolvimento, até o lançamento do produto no mercado. Nesse modelo, a empresa pode controlar melhor a qualidade e manter sigilo dos processos, porém existem pontos negativos relevantes.
Além dos custos serem mais altos, os processos de pesquisa e desenvolvimento demoram muito tempo, e o risco de lançar um produto com uma maior taxa de rejeição do mercado é maior. Um brainstorming no modelo de closed innovation traz resultados mais engessados e singulares do que em um modelo de open innovation. Afinal, as ideias vêm de um levantamento interno, realizado somente por pessoas de uma mesma cultura organizacional. A ilustração explica melhor a diferença desses dois modelos de inovação:
Fonte: https://www.viima.com/open-innovation.
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Agora que entendemos a principal diferença dos dois modelos e vimos as vantagens e desvantagens do modelo de closed innovation, voltemos ao open innovation. Existem diversas maneiras para implementar uma metodologia de open innovation em um determinado negócio. As mais conhecidas são o crowdsourcing e o co-creation.
O crowdsourcing ocorre quando uma empresa obtém ideias e conteúdo através de contribuições de diversas pessoas. Normalmente, são criados desafios para que os participantes resolvam; e, com base nessas contribuições, as empresas desenvolvem novos produtos e serviços ou até melhorias nos já existentes. Tais desafios podem ser, inclusive, premiados.
O co-creation convida pessoas de fora da empresa (fornecedores, funcionários, admiradores e clientes) a contribuir para a invenção ou a melhoria de produtos ou serviços. A diferença entre o cocreation e o crowdfunding é que, geralmente, os participantes do primeiro não apenas compartilham as vantagens da inovação, mas também os resultados financeiros obtidos.
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Hackathons são os eventos normalmente organizados por desenvolvedores, programadores, designers e demais pessoas que trabalham com tecnologia com o intuito de trocarem experiências e acharem novas soluções para seus projetos. Os eventos, apelidados de maratonas, podem durar um dia ou, até mesmo, um fim de semana. Não necessariamente são focados apenas em tecnologia. O objetivo sempre é desenvolver novas habilidades e trazer mais conhecimento aos projetos de suas empresas, além, claro, do networking com pessoas de outras áreas.
Para as empresas que estão começando ou que ainda não têm um modelo de open innovation em atividade, existem alguns sites muito interessantes que valem ser divulgados:
- www.ideo.com — portal global que reúne engenheiros, empreendedores, designers, pesquisadores etc. Dentro dele, é possível encontrar diversas ferramentas, como o Open IDEO, uma plataforma de inovação social em que qualquer pessoa pode ajudar a desenvolver projetos, opinar e avaliar. Outra ferramenta é o IDEO Colab, uma plataforma que reúne diversos setores, como os de machine learning, quantum computing, future of work, future of cities, alimentos, mobilidade, saúde e energia, entre outros. O objetivo do IDEO Colab é identificar tecnologias e protótipos e desenvolver soluções para o mercado.
- www.crowdtest.me — plataforma que ajuda as empresas a testarem seus produtos antes de os lançarem. Existem vários planos que as empresas pagam para que testadores freelancers avaliem seus produtos. Diversas empresas de renome utilizam a Crowdtest antes de continuarem com o lançamento de seus produtos no mercado.
- www.utest.com — uma das maiores plataformas on-line de testadores freelancers do mundo. Faz um trabalho similar à Crowdtest, porém é mais focada em softwares e aplicativos.
- www.kaxola.com — plataforma brasileira em que as pessoas podem expor suas ideias e encontrar investidores. O site conta também com uma parte para que as empresas possam cadastrar desafios e reunir diversas ideias para solucioná-los.
Convém analisar internamente as necessidades de se implementar o open innovation em sua empresa. Por isso, é importante responder a estas duas perguntas:
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- Qual seu objetivo com o open innovation?
- Para seu negócio, você precisa de ideias externas para desenvolver um projeto interno e/ou é o caso de ajudar empresas externas em seus projetos?
A implementação do open innovation nos negócios traz muitos benefícios. Destacamos alguns deles a seguir.
Redução de custos
Desenvolver novos produtos ou projetos envolve capital humano, tempo e dinheiro. E, segundo um estudo realizado pelo MIT Sloan em conjunto com Stanford University e divulgado pela National Bureau of Economic Research em 2018, o custo de inovar vem crescendo cada vez mais, principalmente pelo fato de que está cada vez mais difícil ter e achar novas ideias. O estudo pode ser visto no link https://mitsloan.mit.edu/ideas-made-to-matter/new-ideas-are-getting-harder-to-find-and-more-expensive
O open innovation é uma alternativa para a redução de custos pelo simples fato de ser possível, por meio dele, dividir a função de inovação com colaboradores externos. Além disso, o desenvolvimento de novas ideias fica muito mais fácil, trazendo conhecimento do ambiente externo.
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Aumento na aceitação
O risco de produzir algo que seja rejeitado pelo mercado é reduzido com o open innovation. Isso acontece porque, com a integração de novos colaboradores, que têm diferentes visões, formas de pensar e vêm de culturas organizacionais diversas, o conhecimento a respeito de um determinado mercado é ampliado. Em vez de o produto final ter o viés de uma cultura organizacional específica, ele é testado por diversas pessoas ao longo de seu desenvolvimento, tendo mais probabilidade de alcance e aceitação quando do lançamento ao mercado.
Agilidade na entrega
Pequenas empresas, como start ups, normalmente conseguem ter mais foco em suas entregas, reduzindo o tempo de processo. No entanto, por terem menos acesso a recursos, sofrem em conseguir levar seus projetos adiante. Já as grandes empresas têm mais recursos disponíveis, porém são mais lentas nos processos. Uma integração de open innovation ajuda a reduzir o tempo de processo nas grandes empresas e facilita o acesso a recursos para as pequenas, por combinar esses fatores no desenvolvimento do produto.
Incentivo à inovação interna
O open innovation pode ser um bom início para que grandes empresas inovem e até se reergam. A integração com outros players e colaboradores ajuda a criar uma cultura de inovação nas empresas e, dessa forma, incentivar o desenvolvimento de novos projetos e produtos.
Melhoria em produtos já existentes
Produtos que já estão no mercado estão sempre sujeitos a melhorias. O open innovation pode ajudar as empresas a desenvolverem novas versões de seus produtos, pois é um processo que nunca cessa e está em constante busca por melhorias.
Muitas vezes, o custo para se desenvolver um novo produto é mais alto que aperfeiçoar algo já criado. Além disso, o efeito é ainda mais benéfico para a empresa — inclusive, para o consumidor final.
Troca de conhecimento
O open innovation promove o networking entre os profissionais e grandes empresas, start ups e demais colaboradores. Isso possibilita uma troca de conhecimento muito positiva para todos os envolvidos.
Open innovation nas empresas
Hoje, algumas das maiores empresas do mundo reinventaram-se graças à colaboração de terceiros, por meio de um processo de open innovation. A seguir, alguns exemplos emblemáticos.
- Apple — diversos componentes dos produtos vendidos pela Apple foram desenvolvidos por colaboradores externos. Tecnologias como a biometria, a tela sensível ao toque e a bateria dos seus Iphones são fabricados por terceiros. Até mesmo a montagem dos produtos é feita fora (apple.com).
- Bayer — a empresa químico-farmacêutica criou uma plataforma para que colaboradores de todo o mundo possam se conectar e ajudar no desenvolvimento nas áreas de agricultura e saúde (innovate.bayer.com).
- Lego — a famosa empresa dos bloquinhos também é adepta do open innovation. A empresa criou um site no qual os usuários podem compartilhar suas ideias de design de brinquedos, e tudo pode ser transformado em produtos reais e entrar no mercado. Para participar, basta visitar a plataforma e criar sua ideia. Quando o número de supporters excede 10.000 curtidas, a empresa avalia a possibilidade de desenvolvimento do produto. Um exemplo de produto criado com base nesse programa é o Lego da série The Big Bang Theory (https://ideas.lego.com/).
- Natura — maior organização do setor de beleza no Brasil, promove desde 2016 o Cocriando Natura, um programa aberto ao mercado, em que a empresa incentiva o desenvolvimento de novos produtos e projetos (http://cocriando.natura.net/). Qualquer pessoa pode participar e expor suas ideias, que podem ser reconhecidas e desenvolvidas pela Natura. Outro projeto é o Natura Campus, um espaço de colaboração e construção de relacionamento com instituições de ciência e tecnologia, empresas e empreendedores. Ele permite que todos colaborem para a geração de inovação e valor compartilhado (http://www.naturacampus.com.br/).
Não são apenas as grandes empresas que procuram no open innovation uma forma de inovar. Pequenas empresas cada vez mais têm procurado estar fisicamente próximas a outras empresas, colaboradores e até concorrentes, absorvendo e trocando ideias e informações. Os coworkings têm sido grandes aliados do open innovation. Tais relações ajudam as empresas a se completarem e desenvolverem produtos e serviços até então impensados.
Um dos cases mais interessantes do Brasil foi a idealização do Cubo pelo Banco Itaú em parceria com a Redpoint Eventures. Criado em 2015, o projeto Cubo visa a conectar start ups e grandes empresas com o objetivo de estimular o ecossistema de empreendedorismo.
O Cubo é um local de excelente oportunidade para vários perfis. Empreendedores aproveitam para fazer networking, promover seu negócio e participar de cursos e eventos; investidores conhecem projetos e start ups para investir; e mentores podem aprender mais sobre as tendências do mercado e contribuir com conhecimento. O espaço também é aberto a universidades, grandes empresas e estudantes.
Pioneirismo e inovação
Reinventar-se é um trabalho quase que diário para as grandes empresas, principalmente as inseridas nos setores tradicionais da economia. Manter-se competitivo e sustentável em um mercado que muda a cada dia não é simples. O grande objetivo das empresas é tentar estar sempre à frente da concorrência, trazendo novidades para o mercado. Os métodos de open innovation ajudam essas empresas a se destacar e criar produtos e serviços disruptivos. Quanto mais ideias e feedbacks as empresas têm, mais fácil fica o desenvolvimento de novos produtos ou melhorias nos já existentes. Uma empresa pioneira é aquela que abre caminho para o novo, cujo único objetivo consiste em fornecer aos clientes os melhores produtos do mercado.
Diríamos que, se Soichiro Honda (fundador da Honda) não tivesse ouvido que os clientes estavam cansados de pedalar, ele não teria decidido instalar um motor na bicicleta. E, hoje, não seria o maior fabricante de motos do mundo.
André Vasconcelos, formado em administração de empresas com especialização em gestão de empresas pela Fundação Dom Cabral, CMO do grupo Greenwich
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