Empreendedor, você ouviu o seu chamado?

Nosso papel como indivíduos de uma sociedade desigual, como indivíduos desiguais (afinal somos seres humanos, estranho seria se fosse diferente) é lutar pela equidade no ponto de partida, pelo desenvolvimento e incentivo ao capitalismo, responsável por tirar tantas pessoas da miséria, aumentar o poder de compra e gerar tantos empregos

IFL - Instituto de Formação de Líderes

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Publicidade

Por Mayara Corrêa*

Resenha – O chamado do Empreendedor, Robert A. Sirico – Maio/2022, por Mayara Corrêa

Essa obra foi escrita em 2001 pelo padre Robert A. Sirico, conhecido comentarista político, religioso e cultural. Ele escreveu diversas obras relacionando religião, fé e bases morais com temas como livre mercado, empreendedorismo e liberdade, transitando pelos campos da teologia, ética, história e economia.

Continua depois da publicidade

Entre os muitos estereótipos que temos em nossa sociedade, o que Sirico analisa na obra é o do empresário como vilão, ganancioso, pessoa que pensa apenas em seu lucro “no matter what”. Ele via tal fenômeno diariamente no monastério, nas confissões de empreendedores que buscavam perdão e carregavam um fardo de culpa simplesmente por ocuparem uma posição de poder na sociedade. Isso era um fator comum entre os empreendedores que se relacionavam com ele.

No entanto, Robert analisa o empreendedor por um outro prisma, como alguém que recebeu um chamado para empreender, que dá nome a sua obra. Na sua busca pela excelência, ele serve seus clientes com o intuito de crescer e prosperar retratando a obra de Deus na sua vida e comunidade. Nessa busca, o empreendedor vive em um ambiente competitivo, luta por sua clientela, gera fluxo de caixa, com o principal objetivo de continuidade e perpetuação. A máxima de que os empresários estão preocupados apenas com o lucro e seus dividendos é completamente equivocada, e podemos observar que mesmo grandes empresários financeiramente independentes para si e diversas gerações, continuam firmes em sua missão de impactar a sociedade.

É claro que o chamado do empreendedorismo não vem puramente por propósito, palavra muito utilizada nos últimos tempos, e ouso dizer até que com uma pitada de irresponsabilidade. A obrigatoriedade de termos um propósito em nossas vidas como força motriz vem sendo muito romantizado, além de reforçado como verdade absoluta pelos gurus do empreendedorismo de Instagram. E como consequência disso, estamos gerando uma geração de pessoas frustradas e sem objetivos. Já dizia Ayn Rand, a individualidade deve ser nossa maior força motriz. O interesse individual de qualquer pessoa deve estar em primeiro lugar, e o que nos faz atingir nossos objetivos pessoais é agregar valor à sociedade. Para entendermos o quão intrínseco este pensamento está em nossa cultura, podemos observar a diferença com que um americano e um brasileiro fazem a mesma pergunta: “Quanto dinheiro você faz?” e “Quanto dinheiro você ganha?”, como se dinheiro fosse um presente divino que todos deveriam ganhar igualmente, independentemente do valor que você agrega para a sociedade.

Continua depois da publicidade

Sirico instiga o leitor a observar o empreendedorismo como vocação divina, pelo ponto de vista dos objetivos missionários de Deus tanto dentro como fora da igreja. Geralmente, os paroquianos fiéis acreditam que o único chamado verdadeiro é aquele chamado aplicado em alguma espécie de trabalho paroquial de dedicação integral. O papel do empresário é fazer o bem, criar riqueza, encontrar um meio eficiente de servir aos outros, gerar emprego, ou seja, melhorar a vida das pessoas e da sociedade de diversas formas, coisas que estão diretamente relacionadas aos objetivos de Deus, de acordo com o que a Igreja prega.

Uma história muito interessante apresentada no livro é a Parábola dos Talentos (Mt 25, 14-30), em que um homem prestes a viajar divide seus bens entre três servos: ao primeiro ofereceu cinco talentos, ao segundo dois, e ao terceiro um, de acordo com suas capacidades. O primeiro saiu para trabalhar com os cinco talentos e ganhou outros cinco. O segundo também, e ganhou outros dois. E o terceiro, que recebeu apenas um, o enterrou em uma cova no chão para mantê-lo protegido.

Ao retornar, o primeiro lhe entregou dez talentos, dizendo “senhor, tu me confiaste cinco talentos, aqui estão os outros cinco que ganhei!”, assim com o segundo, que lhe entregou quatro talentos. Para ambos, o senhor respondeu: “Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei.”. Por fim, chegando ao que recebera um talento, este lhe devolveu o mesmo talento dizendo que, por saber que ele era um homem severo, enterrou seu talento no chão. A resposta do senhor foi: “Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei que ajunto onde não espalhei? Pois então devias ter depositado meu dinheiro com os banqueiros e ao voltar eu receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe o talento que tem e dai-o àquele que tem dez, porque a todo aquele que tem será dado e terá abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado”, na sequência o lançando às trevas.

Continua depois da publicidade

Nesta parábola, a palavra talento tem dois significados: a unidade monetária usada na época de Jesus que seria equivalente a milhares de dólares, porém também como os dons que nos foram dados para cultivar e multiplicar. Uma das lições mais importantes dessa parábola tem relação com o “como usamos nossas capacidades e recursos” e de que não é imoral tirar lucro de nossos recursos, engenho e trabalho – algo que está diretamente ligado à atuação dos empresários e empreendedores.

Nosso papel como indivíduos de uma sociedade desigual, como indivíduos desiguais (afinal somos seres humanos, estranho seria se fosse diferente) é lutar pela equidade no ponto de partida, pelo desenvolvimento e incentivo ao capitalismo, responsável por tirar tantas pessoas da miséria, aumentar o poder de compra e gerar tantos empregos. Com isso, finalizo este texto com um trecho da obra analisada: “O capitalismo não precisa de mais esquerdistas cheios de culpa que açoitem a si mesmos e açoitem os outros por fazer dinheiro. Ao contrário, o capitalismo precisa de mais pessoas de negócios que compreendam que a maior contribuição que podem dar é lucrar, aumentar a oferta de empregos, incrementar os investimentos, alavancar a prosperidade e, fazer isso de forma tal que promova uma cultura integral, estável e virtuosa.”.

*Graduada em Administração de Empresas pela FEI, com MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV-SP. Mayara fundou a Procsy com o objetivo de ser uma consultoria exclusiva, flexível e ágil para estruturar processos e projetos em clientes com padrões internacionais de Governança e Gestão de Riscos.

Autor avatar
IFL - Instituto de Formação de Líderes

O Instituto de Formação de Líderes de São Paulo é uma entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo formar futuros líderes com base em valores de Vida, Liberdade, Propriedade e Império da Lei.