Publicidade
Depois de montar uma carteira de investimentos com os ativos mais líquidos e tradicionais, uma classe que agrega retorno e descorrelação, ainda que às custas de liquidez, são os ativos alternativos. A categoria que mais cresce no mundo atualmente é assim chamada, pois não se enquadra perfeitamente nem em ações, nem em renda fixa. Os exemplos principais são: private equity, venture capital, real estate, infraestrutura e commodities.
A estabilidade institucional e a queda de juros nas últimas décadas no Brasil foram a principal causa do forte crescimento do interesse em ativos alternativos. A taxa de curto prazo no Brasil passou de mais de 25% ao ano no começo da década de 2000 para uma média de 9,8% entre 2006 e 2023. Avanços regulatórios e legais também favoreceram alguns setores.
Os fundos imobiliários (FIIs) foram os que mais conseguiram se popularizar, graças ao incentivo tributário aos rendimentos e pela facilidade de comprar e vender cotas na B3, o que permitiu para os grandes fundos crescer sem risco de saques, diferente dos fundos abertos, e, ainda assim, oferecer liquidez aos investidores. Em 2009, havia 12 mil pessoas e instituições investindo em FIIs, em 2017, 121 mil, em 2019 645 mil e, atualmente, 2,2 milhões. O volume negociado em Bolsa passou de R$ 7,2 bilhões em 2016 para quase R$ 60 bilhões em 2023. Há quase 500 fundos listados e o patrimônio total passa de R$ 200 bilhões. Essa indústria se sofisticou e existem hoje fundos de dívida, fundos que compram participações em imóveis e fundos de fundos imobiliários.
Continua depois da publicidade
Em 2021, uma lei criou os Fiagro, fundos de investimento nas cadeias produtivas agroindustriais. Já existiam instrumentos de crédito para cadeia agrícola com incentivos tributários, mas o benefício não era estendido para fundos. Pela importância e crescimento do setor nos últimos anos, o desenvolvimento desses veículos está sendo muito rápido. A lei é ampla e permite a criação de fundos de crédito, imóveis e participações em empresas.
Os investimentos em crédito de infraestrutura também foram impulsionados por um benefício tributário dado pela Lei 12.431 de 2011. Com o objetivo de aumentar o financiamento privado para projetos que demandam novos investimentos em um setor em que há grande déficit, as debentures incentivadas conseguiram substituir o BNDES na maior parte dos casos. Houve também a criação de fundos que carregam os mesmos benefícios e permitem grande diversificação de emissores. O último e importante passo foi a possibilidade de listagem desses fundos na B3, que permitiu negociação no mercado secundário e distribuição de rendimentos recorrentes aos cotistas. Apesar de muito recente, esses fundos já têm R$ 6 bilhões e devem continuar recebendo uma parte dos recursos hoje em fundos abertos, que somam mais de R$ 80 bilhões. Há também fundos que investem em participações nesses projetos, que se assemelham aos fundos de private equity.
A comparação com as classes de ativos tradicionais ainda mostra uma grande diferença de magnitude. A renda fixa desloca a demanda de outras classes. Só de dívida pública passa de R$ 6 trilhões, quase toda detida por residentes. Em ações, o valor de mercado de todas as empresas negociadas na B3 é de R$ 4,5 trilhões e o Brasil é ainda menos desenvolvido que seus pares, que têm muito mais companhias listadas. Aqui, menos de 500 empresas são listadas, enquanto na Índia há mais de 6 mil e, na Indonésia, mais de 800.
Continua depois da publicidade
Com poucas empresas listadas no país, os fundos de private equity são já frequentes no país desde o final da década de 1990 entre os investidores institucionais. Recentemente, mudanças regulatórias permitiram que investidores pessoas físicas entrassem também em ofertas desses fundos.
Nos EUA, os hedge funds também são enquadrados na categoria “alternativos”. A versão brasileira, os multimercados, são mais acessíveis, mais líquidos e menos voláteis, em média, mas têm semelhanças importantes, como a baixa correlação com os principais índices de ações e renda fixa. No Brasil, são componentes frequentes das carteiras e tem tamanho considerável, R$ 1,6 trilhão. Dentro dessa categoria há diversos tipos de fundos com características diferentes e, muitas vezes, complementares. No meu artigo anterior falei um pouco deles.
A participação dos ativos alternativos nos portfólios é importante para diversificação, pois a correlação com as classes tradicionais costuma ser baixa. A maior complexidade e menor liquidez exigem cuidados adicionais na análise desses investimentos. A volatilidade pode não ser uma boa medida de risco se a liquidez for muito baixa ou se a precificação não for em alta frequência. Os fundos podem ser mais concentrados e mais caros, o que exige criteriosa seleção dos gestores. No Brasil, há opções com liquidez na Bolsa e custo atrativo em diversas estratégias de imóveis e infraestrutura.