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Em ótimo artigo para o InfoMoney, o economista Alexandre Schwartsman chamou a atenção para os desafios fiscais que o Brasil deverá enfrentar após a pandemia da Covid-19. Segundo ele, a dívida bruta poderá chegar a 90% do PIB.
Basicamente, o aumento do endividamento do Estado brasileiro decorre da elevação do gasto público no enfrentamento das consequências econômicas geradas pela pandemia e da queda de arrecadação de impostos oriunda da paralisação da economia.
Diante desse cenário, é inevitável que alguma variável econômica reaja frente a essa deterioração fiscal. Segundo Fernando Ulrich da Liberta Investimentos, em entrevista a mim no InfoMoney, a consequência seria uma elevação no dólar ou na taxa de juros.
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A elevação dos juros poderá ocorrer por dois canais: econômico ou financeiro. Do lado econômico, o aumento do gasto público diminui a poupança nacional. Com menos recursos disponíveis, o preço do capital se torna mais caro. Já, do lado financeiro, um elevado déficit fiscal proporcional uma elevação do prêmio pelo risco, tornado o custo do dinheiro mais caro.
A elevação da taxa de juros penaliza o consumo e o investimento, dificultando o crescimento da renda e do emprego. Por outro lado, segura o câmbio, uma vez que se torna mais atrativo para o investidor estrangeiro aplicar no mercado de renda fixa brasileiro pelas operações de carry trade.
É possível que a consequência da piora fiscal não seja refletida integralmente pelo juro. Como, em economia, não há mágica, esse efeito poderá migrar para outra variável: o câmbio.
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Nesse caso, o rombo fiscal pode deteriorar as expectativas em relação ao Brasil, o que leva a uma valorização da moeda americana frente ao Real. Num cenário de incerteza, é natural que a procura por dólares aumente, elevando a taxa de câmbio no país.
Por um lado, o aumento do dólar pode favorecer as exportações, na medida em que o nosso produto se torna mais barato e competitivo no exterior. Mas, por outro, a desvalorização cambial penaliza os investimentos dentro do território nacional. Como parte da nossa indústria importa tecnologia e bens de capital de outros países, a elevação do dólar poderá diminuir essas compras diante do aumento do custo cambial.
No Brasil, esse efeito se torna bastante relevante, uma vez que boa parte de nossos investimentos é financiado por capital externo, dado que nossa poupança interna é baixa, devido aos elevados gastos do governo.
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Não tem jeito, o remédio que o governo tem usado agora para evitar uma crise econômica mais profunda terá efeitos colaterais no futuro. E o principal deles será a deterioração fiscal, diante de um paciente que já necessitava de extremos cuidados nessa área.
Para ficarmos um pouco mais otimistas, historicamente o Brasil passa reformas importantes quando o paciente está na UTI. Foi assim com o Plano Real, com as privatizações e com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O lado ruim é que temos de esperar o paciente chegar na UTI para tomarmos as medidas necessárias para desenvolver o país. Quem sabe, entre os inúmeros efeitos colaterais deixados pelo Covid-19, não seja uma oportunidade de criarmos uma imunidade contra as regalias estatais e a ineficiência do gasto público (alô “fundão?”). Tomara que o sistema imunológico da sociedade brasileira se fortifique contra os velhos e conhecidos parasitas de plantão.
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Alan Ghani é economista, PhD em Finanças e professor de pós-graduação.
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