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Atrasos, falências de construtoras e imóveis que nunca saíram do papel de um lado e compradores desesperados do outro. Esse foi o assunto do Fantástico deste domingo, 1º de junho.
Não é um tema novo, mas continua sendo muito discutido, especialmente porque atinge diretamente milhares de pessoas, consumindo a economia de uma vida inteira e também a paz e tranquilidade das pessoas. O problema só tem aumentado e atingido compradores de todas as partes do país e todas as classes.
Apesar das diversas desculpas das empresas e entidades que as representam, dizendo que choveu muito ou que faltou mão de obra e que estão “agindo para eliminar gargalos que adiam as entregas dos imóveis”, o fato é que TODAS as pesquisas e estudos, de diversos órgão e institutos, provam o contrário. O problema cresce a cada ano e parece insolúvel.
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Capitaneando as reclamações, estão as maiores construtoras do país, com obras atrasadas em diversos estados, mas que de forma simplista, normalmente por meio de notas evasivas, reconhecem os problemas e dizem que pretendem resolvê-los, mas sem garantias que cumprirão os novos prazos. E assim a coisa vai.
Mas por que se atrasa tanto, por que se desrespeita tanto os compradores sem que nada de efetivo seja feito para resolver o problema de vez? Por que é a forma mais lucrativa para as empresas.
Apesar de algumas delas dizerem que vão pagar alguma indenização aos consumidores lesados, o fato é que o valor é irrisório diante dos lucros que obtêm com as vendas, assim como sabem que o que pagarão a alguns é muito inferior ao valor global dos prejuízos causados a todos, bem como se mostra muito mais vantajoso do que se tivessem que entregar as obras nos prazos prometidos.
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Isso porque imóveis vendidos na planta são normalmente financiados com recursos externos, com empréstimos obtidos pelas incorporadoras. O mercado financeiro faz uma análise de risco dessas empresas e disponibiliza um determinado volume de empréstimos ao incorporador.
No momento da venda dos imóveis, o responsável pela incorporação sabe exatamente quanto de dinheiro dispõe, quantas unidades pode prometer à venda e o prazo de construção de cada uma delas, Mas, em um mercado aquecido, opta por vender unidades sem freio, respondendo à demanda, independente de quanto conseguirão produzir.
Além disso, para ganhar da concorrência, que oferta imóveis semelhantes, passam a concorrer também em prazo de entrega, mesmo sabendo que a data não será cumprida, seja por questões técnicas ou financeiras.
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Daí, vendendo muito, com orçamento comprometido, precisam distribuir o dinheiro em mais unidades e, portanto, diminuir o ritmo de construção. O justo seria reajustar o prazo de entrega, mas as empresas o mantém para conseguir vender mais. Tudo absolutamente previsível.
Então acontecem os atrasos e, para colocar as obras em dia, somente com mais dinheiro, o que até conseguiriam, porém, a um custo maior devido ao risco aumentado (comprometimento da capacidade de endividamento). Entre gastar mais e cumprir prazos ou ganhar mais e atrasar, a segunda opção é a preferida da maioria.
Fazem isso de forma consciente, pois também sabem que apenas uma pequena parcela dos consumidores lesados buscarão algum ressarcimento e, mesmo pagando indenizações justas a esses 4% ou 5% de lesados que recorrem à Justiça, é melhor do que tomar mais empréstimos nos bancos. E assim a vida segue.