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2023 termina e as festas de final de ano lotam a agenda de todos que trabalham no setor de seguros. Tem sido um ano desafiador em várias frentes e 2024 parece que seguirá no mesmo ritmo de consolidação de estratégias inerentes à transformação da sociedade imposta pela tecnologia, pelas mudanças climáticas e pela busca em melhorar os indicadores de sustentabilidade.
Tal agenda impõe um novo pensar e agir dos consumidores, das seguradoras, dos canais de distribuição e dos órgãos reguladores. Nas conversas oficiais, reina o mantra que o sucesso nos negócios pode caminhar lado a lado com valores éticos e responsabilidade social.
Na política, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pressiona para a aprovação, ainda neste ano ou no início de 2024, de um novo marco regulatório para os contratos de seguros, o PL 29/2017, que está no Senado.
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O titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Alessandro Octaviani, corre com mudanças que vão da supervisão online das companhias ao lançamento do grupo de trabalho “Seguros, Novo PAC e Neoindustrialização”. A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) atua na divulgação institucional do seguro em diversas frentes para colocar o tema na pauta do governo e na boca do povo, tendo como bandeira o poder do setor para impulsionar a economia como um todo.
No dia a dia, as seguradoras tocam seus negócios atentas a política do setor. O mercado de seguros apresentou lucro líquido de R$ 22,2 bilhões de janeiro a setembro deste ano, o dobro dos R$ 11 bilhões registrados em mesmo período do ano passado. As 50 maiores seguradoras do Brasil registraram lucro no período, segundo dados da Susep e consolidados pela consultoria Siscorp. No mesmo período de 2022, dez estavam no vermelho. O clube do bilhão passou de três — Bradesco, BB Seguridade e Caixa Seguridade — para seis, com a entrada da Porto, do Itaú e da Tokio Marine. Este seleto grupo é responsável por quase 70% dos ganhos totais do setor. O lucro segue beneficiado pelas elevadas taxas de juros. Em janeiro, a Selic era de 13,75% e, em novembro último, passou para 12,25%.
Essa é a taxa que remunera uma carteira de investimentos que ultrapassa R$ 1,2 trilhão. Outra parte do ganho vem da melhora do resultado operacional obtido pelo uso da tecnologia, segundo informaram as seguradoras durante a divulgação dos resultados do terceiro trimestre e do acumulado até setembro deste ano.
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Apesar de as vendas do setor avançarem 8%, para R$ 286,29 bilhões, no período analisado, o volume de indenizações pagas recuou 6%, para R$ 166,7 bilhões, mesmo sendo um ano marcado pela elevada criminalidade, principalmente em roubos de celulares, e de muitas perdas causadas pelo clima, como no litoral norte de São Paulo em fevereiro, e tempestades com ventos fortes, causando inundações em diversos estados do país no segundo semestre.
Poucos executivos acreditam que 2024 será um ano de vacas gordas como tem sido 2023, ano embalado por ganho financeiro e reajustes de preços dos seguros, principalmente o de automóvel. O próximo ano, segundo orçamentos em finalização de 2024, promete concorrência acirrada em todos os segmentos, especialmente em seguro de carro, com vendas de R$ 41 bilhões até setembro, alta de 12%. “Certamente haverá muita competição, principalmente no automóvel”, avalia Dawson Henriques, sócio e diretor da Siscorp.
A HDI, que concluiu a aquisição da Sompo e da Liberty, passou em novembro a ser a segunda maior em auto, posição ocupada até então pela Tokio Marine. A expectativa é de que a estratégia da seguradora alemã será manter as vendas em alta no ano de integração das operações adquiridas. A Tokio, por sua vez, certamente se manterá firme na competição. O lucro da seguradora japonesa passou de R$ 396 milhões para R$ 1 bilhão no acumulado de janeiro a setembro de 2023.
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Bradesco, BB Seguros, Caixa, Porto, Zurich e Santander afirmam que estão colhendo os frutos do investimento pesado em tecnologia de ponta para selecionar consumidores com menor probabilidade de usar o seguro, mitigar fraudes e tornar a jornada do cliente fácil, ágil e resolutiva. “Quanto mais o cliente usa nosso aplicativo para solicitar serviços, mais ele renova conosco e nos indica para amigos”, disse o CEO da Porto, Roberto Santos, em recente entrevista sobre o balanço. Mais de 40% das solicitações de serviços na Porto já são feitas por meio do app.
O lucro da Porto saltou de R$ 360 milhões para R$ 1,5 bilhão no comparativo dos nove primeiros meses de 2022 e 2023. A partir de janeiro de 2024, Santos passa o comando para Paulo Sérgio Kakinoff, que foi CEO da Gol por 14 anos, numa afirmação da tendência de que a dinâmica do setor de seguros exige um novo perfil de executivo, assim como tem acontecido nos bancos. Na última quinta (26), o Bradesco surpreendeu o mercado com a troca de presidente: Marcelo Noronha substitui Octavio de Lazari Júnior.
O chairman Luiz Carlos Trabuco disse que o banco fez a mudança para “iniciar um ciclo de projetos e objetivos estratégicos robustos para os próximos anos”. Em nota, afirmou que “o contexto de mercado é absolutamente desafiador, do ponto de vista da eficiência operacional, aumento da competitividade e ambiente regulatório.”
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Nada foi dito sobre mudanças na área de seguridade do Bradesco, comandada por Ivan Gontijo, que entregou um lucro de R$ 4,8 bilhões no acumulado até setembro, muito acima dos R$ 2,9 bilhões do mesmo período do ano anterior. Um resultado que chega a representar 50% do lucro do banco, depois de muito investir em tecnologia e reestruturação das empresas do grupo em verticais, com canais de distribuição integrados e focados nas necessidades dos clientes.
As trocas de executivos de seguros lideram o engajamento nas redes sociais neste ano. O perfil mais procurado é por profissionais com capacidade de entrega, atrair talentos, engajar colaboradores, com o pé no acelerador nos quesitos inovação e digitalização e muito networking para fazer negócios e atrair clientes, distribuidores e parceiros de negócios. E, claro, tudo isso com um olhar no futuro e, ao mesmo tempo, com os pés no chão.
Esse era o perfil que a Berkley, uma das maiores seguradoras nos EUA e com tímida atuação no Brasil, procurava. Ela contratou Edson Toguchi como CEO há um ano. A escolha se deu prioritariamente porque o executivo, apesar de atuar há 33 anos no setor de seguros, disse durante a entrevista com Robert Berkley, herdeiro do grupo, que a única forma de crescer no país era sair da mesmice. “Nosso foco está em proteger o patrimônio dos nossos clientes, ao mesmo tempo em que remuneramos o capital do acionista. E isso só é possível com uma estratégia que exige abandonar a mesmice e trazer de fato melhorias aos produtos demandadas por clientes que buscam soluções para riscos de uma sociedade em transformação”, diz.
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A Prudential do Brasil saiu de um lucro de R$ 86 milhões de janeiro a setembro de 2022 para R$ 634 milhões no mesmo período deste ano. As seguradoras de vida amargaram perdas com o pagamento de indenizações por Covid em 2020 e 2021. Na Prudential, foram mais de R$ 370 milhões pagos a clientes. Por outro lado, a demanda pelo seguro de vida disparou diante da conscientização da população sobre a importância de ter proteção financeira em tempos tão incertos.
Em janeiro deste ano, Patricia Freitas assumiu como CEO da Prudential, dando um toque feminino à seguradora e ao setor, que ainda tem poucas mulheres em cargos de liderança. Seis meses depois, contratou Glaucia Smithson, executiva conhecida por sua vasta experiência em inovação em seguros de grandes riscos. Ela teve apenas uma rápida passagem por seguro de vida e foi escolhida para ser vice-presidente de Parcerias Estratégicas Multicanais da Prudential por sua inquietação em ouvir o cliente e buscar soluções.
“Tenho orgulho de ingressar em uma companhia que tem como estratégia no Brasil ajudar a população a se preparar para o futuro, com produtos e serviços que mitiguem riscos e agregam valor com benefícios que possam ser usufruídos em vida. A liderança de Patricia Freitas traz diversidade e engajamento da equipe para atingirmos nossos objetivos sem perder o propósito de sermos uma referência no setor, com mais de 3,8 milhões de vidas seguradas, de R$ 3 bilhões pagos em benefícios em 25 anos e mais de 30 mil famílias beneficiadas”, afirma Glaucia.
O fato é que o setor avança e boa parte das mudanças estará mais evidente a partir de 2024, com dinheiro em caixa para fazer frente a um ambiente de concorrência acirrada e de redução da taxa de juros. Por outro lado, reputação ética e oferta aderente às necessidades e ao bolso do consumidor são diferenciais significativos que impactam positivamente os negócios e a sociedade. A conferir os impactos disso no balanço final de 2023, que começa a ser divulgado no início de fevereiro de 2024.