O inimigo do home office: como o posicionamento de Elon Musk influencia na forma de pensar o trabalho remoto

Afinal, será que o colaborador em home office está 100% engajado com a empresa? Essa foi uma solução funcional para um momento específico, mas ainda é válida em um cenário que é possível estar de volta a empresa?

Dener Lippert

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Na terça-feira, 31 de maio, Elon Musk enviou um e-mail para todos os colaboradores da Tesla exigindo a volta da jornada de trabalho presencial. O assunto tomou conta das principais redes sociais e portais de notícias do mundo inteiro, levantando uma série de questões e dividindo opiniões.

Afinal, será que o colaborador em home office está 100% engajado com a empresa? Essa foi uma solução funcional para um momento específico, mas ainda é válida em um cenário que é possível estar de volta a empresa?

Home office não é a mesma coisa que trabalhar presencialmente. Isso é um fato. Logicamente, ambos modelos têm suas vantagens e desvantagens. Mas não podemos comparar colaboradores que estão vivendo o dia a dia da empresa com os que enfrentam sua jornada de trabalho remotamente.

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Isso não quer dizer que o home office é ruim e precisa acabar. Mas é necessário entender algumas diferenças que justificam quem defende a volta das jornadas presenciais assim como aos que prezam pelo home office.

Qual a realidade do Brasil hoje quanto ao home office?

O home office não é uma novidade no Brasil. Um levantamento realizado pelo IBGE em 2018 aponta que, antes da pandemia de Covid-19, 3,8 milhões de brasileiros já trabalhavam nesse modelo. A partir disso, segundo a pesquisa realizada pela consultoria BTA em 2020, ao menos 43% das empresas brasileiras migraram para o regime de trabalho remoto, influenciados, principalmente, pela necessidade em decorrência do lockdown obrigatório.

Passado o cenário de caos do auge da pandemia, com campanhas de vacinação em massa e um controle mais palpável do vírus, a volta para o escritório físico divide opiniões de gestores e colaboradores. Da mesma forma que algumas empresas viram uma oportunidade de crescer e conter gastos a partir do home office, outras exigiram a volta dos colaboradores aos corredores da empresa.

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Elon Musk e a cultura do Home Office em pauta

Se o assunto já dividia opiniões, o posicionamento de Elon Musk colocou a cultura do home office em xeque, gerando uma polarização de posicionamentos entre aqueles que defendem e os que repudiam o trabalho remoto.

Print de e-mail de Elon Musk aos colaboradores da Tesla (Reprodução)

A partir do e-mail em que o empresário exige o retorno dos funcionários às instalações da Tesla por, no mínimo, 40 horas semanais, grandes empresas e empresários começaram a se questionar sobre o assunto.

Afinal, por que grandes empresas, com estruturas pensadas e organizadas para o regime presencial, devem abdicar dos seus colaboradores vivendo nesses espaços? É o caso do Google, por exemplo, que comprou um prédio inteiro em Nova York em meio à pandemia, preparando-o para receber todos seus funcionários e proporcionar uma imersão ainda maior na cultura da organização.

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E quais são os pontos que permeiam essa discussão?

Enquanto os adeptos e defensores do home office se baseiam em pesquisas que garantem maior efetividade no modelo remoto, gestores e empresários contestam alguns desses dados com números reais do negócio.

Enquanto 78% dos brasileiros se sentem mais produtivos trabalhando à distância, em pesquisa realizada pela Pulses em 2020, é possível encontrar alguns contrapontos que questionam tal desempenho.

Em outra pesquisa realizada em 2020, a Robert Half, por exemplo, levantou que 1 a cada 5 brasileiros sente dificuldades de trabalhar a distância por distrações causadas pela família.

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O Relatório de Tendências da experiência do cliente para 2021 da Zendesk aborda outros problemas. Para os entrevistados, 68% se sentiram mais sobrecarregados com a jornada de trabalho remota e 46% afirmaram ter dificuldades por falta de ferramentas em casa para realizar tarefas específicas.

Ou seja, mesmo em cenário em que diversas pessoas afirmam estar confortáveis e performando bem em casa, outras encontram dificuldades ao seguir o modelo. O que acaba refletindo em resultados na organização e no desenvolvimento profissional de muitos.

Para quem defende o presencial: quais seriam as vantagens?

Comemoração dos colaboradores da V4 Company ao bater as metas do mês de maio

E quais são as vantagens da volta do regime presencial nas empresas? A imersão e vivência da cultura organizacional, o network, a energia e a sensação de pertencimento são só algumas delas.

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A grande questão é: o que de fato o colaborador vai perder ao não estar presencialmente na empresa? Impor um regime presencial já não é mais a solução, os tempos são outros. Os modelos de negócio são outros. Por isso, é importante contar com uma cultura que estimule a vivência no dia a dia da empresa como, por exemplo, network, eventos, incentivos e a comemoração ao bater metas e valorização de pessoas. Esses são pontos que trazem sensação de pertencimento e fazem com que se gere valor aos corredores da empresa.

Outro ponto está no conceito de “serendipidade”: uma descoberta imprevista que partiu de algo não planejado, a possibilidade de aprendizado ou até a solução de algum problema por acaso. E qual seria o cenário em que o imprevisto está mais propenso a acontecer: na empresa ou em casa?

Assim, pensar em estar no escritório é entender também a importância das relações que se estabelecem nesse ambiente. Afinal, ele também proporciona conversas e vivências mais informais com colegas e colaboradores de outros setores da empresa, que podem apresentar soluções em assuntos não convencionais.

E, quem preza pelo home office, é pela zona de conforto?

Agora, é perfeitamente entendível que existam pessoas que prefiram o modelo de home office para a jornada de trabalho diária. Estar mais perto da família, evitar trânsito, não precisar sair em dias com chuva e até dormir um pouco mais. É confortável em diversos sentidos.

Mas o que justifica pensar que esse modelo não funciona? Existem pessoas que se adaptaram bem; empresas que melhoraram seus rendimentos e até diminuíram custos com transporte de colaboradores, por exemplo.

Mas até onde esse conforto vai levar a empresa? Ou então, até onde ela pode levar esses colaboradores? Estar na zona de conforto é bom, mas não para quem busca se destacar. Se esse é o cenário que a empresa ou o próprio funcionário gosta, boa sorte. Mas é preciso ter consciência que estar em um ambiente hostil estimula o crescimento.

Enfim está na hora de voltar para dentro das empresas?

Escritório da matriz da V4 Company em São Leopoldo (RS)

Até 2020, em levantamento feito pela FGV, a previsão era de que houvesse ainda um crescimento de 30% de empresas aderindo ao modelo de home office no Brasil. Contudo, passados dois anos, o posicionamento de grandes empresários, como Elon Musk, defendendo a volta do presencial, vai diretamente contra essa perspectiva.

Afinal, se o empresário tem forte influência em decisões econômicas do mundo todo, por que não valorizar sua opinião sobre o modelo de trabalho que ele acredita ser mais eficaz?

Agora, cabe às empresas interessadas em seguir esse modelo encontrar formas de incentivar os seus colaboradores a estarem de volta ao escritório ou impor isso de alguma forma. Entretanto, para isso, é preciso um pouco de atenção: impor uma jornada de trabalho como a correta, quando de fato ela não é necessária, acaba criando o efeito contrário.

O ideal nesse caso é chamar pessoas para a empresa, incentivá-las de forma que seja benéfico para elas estarem lá, pois isso influenciará diretamente em ganho profissional e em bons resultados para a organização. Assim, com certeza será essencial voltar para dentro das empresas.

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Dener Lippert

CEO e fundador da V4 Company, maior rede de assessoria de marketing digital do país, autor do best-seller "Cientista do Marketing" e colunista do InfoMoney. Dener tem apenas 27 anos, mas já figura entre os principais empreendedores do país: está na lista da Forbes Under 30 de 2021, fundou a V4 Company com apenas 18 anos (na cozinha da casa de sua mãe) e hoje já tem mais de 150 franquias em todo o país, com uma base de 2 mil clientes ativos. Já passaram pelo portfólio da marca empresas como Dell, Melissa, Wizard, Spotify, Lojas Lebes, Colchões Ortobom, Mobills, Wise Up e Smart Fit. Recentemente a V4 Company anunciou sociedade com o Grupo Dreamers, holding detentora de 16 marcas, entre elas Artplan e Rock In Rio. Dener Lippert também é host do ROI Hunters, podcast de marketing do InfoMoney com foco em assuntos ligados a growth, marketing digital e business.