Propostas eleitoreiras começam a aparecer – e a envergonhar

Em algumas publicações já aparecem aperitivos nada apetitosos de como serão os planos de governos de alguns candidatos à presidência em 2022

Roberto Dumas Damas

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Teclado da Urna Eletrônica (Foto:Nelson Jr./ASICS/TSE)
Teclado da Urna Eletrônica (Foto:Nelson Jr./ASICS/TSE)

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E lá vamos nós. O populismo desrespeitoso intelectualmente começa a dar as caras em meio à proximidade das eleições.

Em algumas publicações já aparecem aperitivos nada apetitosos de como serão os planos de governos de alguns candidatos à presidência em 2022.

Alguns juram que buscarão uma maior presença do estado na economia e que furarão ou eliminarão o teto de gastos, pois não faz sentido o povo passar fome com um limite de gastos públicos, apenas para “agradar a Faria Lima”. Esse furo no teto de gastos, aparentemente defendido por esses candidatos, não será apenas “de facto”, amparado por inúmeras PECs (Propostas de Emendas Constitucionais), mas “de jury” também, com total cara lavada e sem pudor.

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Já dizia Millôr Fernandes: “quando uma ideologia fica bem velhinha ela vem morar no Brasil”.

Primeiro, quem disse que o mercado financeiro ou a Faria Lima gosta de um menor crescimento econômico e do povo passando fome? Não sei se é preguice intelectual dos que apoiam tal narrativa, ou retórica populista cansada.

Para consubstanciar seus argumentos falaciosos, esses mesmos candidatos se utilizam da política extremamente expansionista do presidente dos EUA, Joe Biden. E também do ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi (atual primeiro ministro da Itália), quando disse que faria “whatever it takes” (ou o que fosse necessário). Isso foi em julho de 2012, para debelar a então crise envolvendo os países membros da zona do euro, apesar do receio da austera Alemanha.

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Eis que agora alguns candidatos igualam o Brasil aos EUA e a Europa em termos de credibilidade fiscal. Ganhará uma nota de 10 cruzados novos quem acreditar nessa ladainha.

Se essas promessas eleitorais forem tomadas a cabo, é óbvio que o risco fiscal percebido pelos financiadores da dívida pública aumentará. Eu, você, a tiazinha da farmácia – que colocamos nosso dinheirinho em fundos de investimentos, no FGTS, em seguros de vida ou do carro ou na previdência – pediremos mais retornos para continuarmos comprando títulos da dívida pública.

Maiores juros levarão, a despeito de um maior gasto do governo e de bravatas pseudo-patrióticas (afinal, “gasto é vida”), a um menor nível de consumo e investimentos privados. Sim, pois maiores juros implicam em maiores custos de oportunidade.

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Esse efeito chamado, em “economês”, de deslocamento, explica como maiores gastos do governo em países que não gozam de credibilidade fiscal, levam a juros maiores e consequentemente um deslocamento da poupança, que iria para consumo e investimento, para o financiamento da dívida pública, limitando, portanto, o impacto expansionista. Isso já foi explicado 12 trilhões de vezes, que coincidentemente foi a inflação acumulada que assolou o Brasil do ano de 1980 a 1994.

Isso sem falar em plataformas eleitorais que prometem ajudar o povo e reestruturar a dívida pública. Dessa vez ganhará um “pacotão da Zélia” quem adivinhar aqueles que serão os maiores perdedores nessa reestruturação. Se você esta em dúvida, volte um parágrafo e veja quem são os maiores financiadores ou credores da dívida pública.

Enfim, parece que esses candidatos ainda tem um enorme passado pela frente para aprenderem ou pararem de abusar do nosso desconhecimento da história econômica do Brasil.

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Roberto Dumas Damas

Roberto Dumas Damas é estrategista-chefe do Voiter e representou o Itaú BBA em Xangai de 2007 a 2011. Em 2017, atuou no banco dos BRICs em Xangai. Dumas é mestre em Economia pela Universidade de Birmingham na Inglaterra, mestre em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan (China), além de professor de MBA e pós graduação do Insper e da FIA e professor convidado da China Europe International Business School (CEIBS) e Fudan University (China)