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As eleições municipais de 2024, realizadas neste domingo (6), trazem alguns recados importantes para a política brasileira, os quais devem ser observados por qualquer um que deseje compreender o cenário nacional nos próximos anos, sobretudo com o foco nas eleições gerais de 2026, onde se elegem deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República.
O primeiro ponto a observar é a força do chamado “centrão” que, a despeito da propalada polarização, conquistou o maior número de prefeituras do país. Nesse sentido, é preciso compreender que essa liderança advém de uma relação simbiótica entre esses mandatários municipais e os parlamentares do Congresso Nacional pertencentes a esse grupo.
Desta maneira, consolida-se a percepção de que a polarização diz mais respeito ao plano nacional – onde lulistas e bolsonaristas travam uma batalha ideológica abissal – do que aos municípios, nos quais prevalecem uma lógica mais paroquial, conservadora e de caráter local.
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Em decorrência desse fato, uma segunda mensagem é justamente a derrota tanto do campo da esquerda como da direita. No caso da esquerda, foi mais flagrante a notícia de que não houve a conquista de qualquer prefeitura de capital tendo perdido, inclusive, a capital paraense, onde o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) sequer logrou chegar ao segundo turno.
Já a direita, a despeito de certo crescimento, observou uma pulverização de sua liderança, onde a face mais vistosa se deu com a ascensão de Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela prefeitura de São Paulo. Apesar do apoio de Bolsonaro e do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Marçal conseguiu dividir os votos da direita, ameaçando tanto Nunes como Guilherme Boulos (PSOL) de suas outrora confortáveis posições no segundo turno.
Assim sendo, tanto a ausência de capilaridade da esquerda como a divisão da direita, em um ambiente de crescimento das forças centrais do espectro, podem cobrar um preço alto no pleito nacional daqui a dois anos e aumentar ainda mais a fatura do centrão para apoiar quem conseguir triunfar nos executivos estaduais e na Presidência da República.
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Para evitar esse aprofundamento ainda maior da crise de desconfiança política que atravessamos, a única vacina seria a construção de uma candidatura de centro programático que conseguisse unir forças democráticas antagônicas e submeter o centrão para conter seus apetites fisiológicos. Tal tarefa hercúlea, contudo, carece de lideranças, atualmente escassas em nosso país.
E desse fato, vem o último e importante recado: as vitórias de nomes como Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro (RJ), ou João Campos (PSB), no Recife (PE), e mesmo as estreias em eleições majoritárias de Tabata Amaral (PSB) em São Paulo (SP) ou Gabriel Azevedo (MDB) em Belo Horizonte (MG) – para não mencionar os municípios menores – nos dão a esperança de que dias melhores virão e que a classe política brasileira ainda nos guarda boas surpresas!