O start do ano Legislativo, a popularidade do governo e o cenário para 2026

Além de emendas e ministérios, a popularidade do governo é chave para o apoio no Congresso

Júnia Gama

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Prezado(a)s leitores,

É com alegria que estreio esta primeira coluna no InfoMoney, para trazer análises sobre o cenário político nacional e contar um pouco dos bastidores de Brasília. Neste primeiro texto, aproveito a abertura oficial do ano político, com a retomada dos trabalhos no Congresso, para falar do que se pode esperar para este segundo biênio de governo.

A eleição de Davi Alcolumbre para a presidência do Senado e de Hugo Motta para a Câmara marca esse novo período e dá a largada para a retomada dos trabalhos no último ano antes das eleições. Com uma ampla coalisão de partidos — inclusive o PT e com apoio do Palácio do Planalto —, a virtual unanimidade sobre esses dois nomes traz um sinal de continuidade da governabilidade no Legislativo, desde que pautas impopulares não estejam em foco.

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Mas, para que essa relação se confirme, é preciso enfrentar questões de curto e de médio prazo. Mais imediatamente, o governo terá que lidar com o problema herdado de 2024 sobre as emendas parlamentares. É voz corrente no Congresso que nada deve ser aprovado antes que seja revertido o cancelamento de emendas pela decisão de Flavio Dino — mensagem ecoada por Motta em seu discurso de vitória no último sábado. Ainda que o tema esteja nas mãos do ministro do Supremo, a pressão dos parlamentares recairá sobre o Palácio do Planalto.

É preciso ainda que o rearranjo de espaços no governo seja conduzido de forma a atender os anseios dos grupos de centro. Com uma base ideológica insuficiente para aprovação de qualquer iniciativa, Lula terá de contemplar, com ministérios e outros cargos, as legendas que serão fundamentais para garantir o avanço da agenda do governo.

Somente após executar essas duas tarefas será possível ver resolvida questão tão básica quanto a aprovação do Projeto de Lei Orçamentária — que já arrisca ficar para depois do carnaval.

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Ainda que esses desafios mais imediatos sejam equacionados, com a proximidade das eleições, pautas que possam gerar desgaste na popularidade de deputados e senadores terão grande dificuldade, em qualquer cenário. Na ausência de apoio do presidente Lula para novas medidas fiscais, é possível que o Ministério da Fazenda volte a insistir em propostas para aumentar a arrecadação — que não devem ser aceitas pelo Congresso.

Por outro lado, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, que será enviada em momento ainda não definido, tem chances relevantes de ser aprovada. Assim como demais matérias que possam ser capitalizadas no período eleitoral, como o Vale-gás.

Popularidade

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Além dessa necessidade de composição maior com o Congresso, o governo enfrenta momento delicado por conta da queda na popularidade. Pesquisas divulgadas nas últimas semanas acenderam sinal de alerta no Planalto, mais especificamente por dois pontos: a reprovação ao trabalho do presidente Lula superou pela primeira vez a aprovação, e a queda acentuada de popularidade no Nordeste e na baixa renda, região e eleitorado responsáveis pelas vitórias do petismo, historicamente.

Assim como o Planalto sentiu o golpe — e viu relação direta com a inflação de alimentos e o episódio Pix — a oposição percebe a oportunidade de se movimentar sobre a construção de uma alternativa viável para enfrentar Lula em 2026, diante de um cenário fragmentado na direita.

Mas, com a manutenção da inelegibilidade de Bolsonaro — que não deve ser revertida — e sem uma candidatura consensual nesse campo, apoiada pelo ex-presidente, ainda haveria alguma vantagem para a reeleição de Lula, segundo análises no governo.

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Essa é também a leitura no Congresso que, mesmo sob a nova direção que inicia nesta semana, dá sinais de buscar uma aproximação com o Planalto, justamente por não ver no horizonte uma alternativa de poder mais clara — desde que a questão das emendas e dos ministérios seja resolvida.

Um cenário que pode ser revertido de maneira abrupta, caso surja uma candidatura competitiva no outro campo político — algo que só pode se concretizar com o apoio de Bolsonaro.

Além de emendas e ministérios, a popularidade do governo é chave para o apoio no Congresso. Por esse motivo, o Planalto tem buscado caminhos para que a sensação sobre a economia melhore mais adiante. Tem prevalecido a visão de que, para isso, é preciso “jogar parado”: esperar decantar o efeito da política monetária contracionista sobre a inflação, contar com uma safra forte e condições climáticas favoráveis e evitar erros que possam gerar mais pressão sobre o câmbio. Caso termine o ano em situação de relativo conforto na questão fiscal, haverá espaço para lançar “bondades” que ajudem a turbinar a popularidade de Lula às vésperas da eleição.

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O temor, no governo, é de que a deterioração na economia e na popularidade de Lula, se não revertidas a tempo, estimulem uma composição no campo bolsonarista, que possa agregar eleitores de centro ao nicho cativo da direita — Tarcisio de Freitas é o nome mais citado nesse quadro. Essa indicação de Bolsonaro ainda não veio — o ex-presidente tem sempre insistido na própria candidatura e restringido elogios àqueles que levam seu sobrenome. Mas a oposição começa desde já a plantar essa possibilidade, de olhos nos frutos que possa colher em 2026.

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Júnia Gama

Júnia Gama é sócia e analista política sênior da XP Investimentos desde 2020, onde traça cenários sobre os principais temas políticos para o mercado financeiro. Jornalista, atua desde 2008 na cobertura política em Brasília. Atuou em jornais como O GLOBO, Correio Braziliense e Congresso em Foco, entre outros. Fez Master em Jornalismo na Universidade Complutense de Madri e trabalhou também na área de Política Internacional no jornal espanhol ABC.