Neste domingo (1º), Luiz Inácio Lula da Silva toma posse como presidente da República com uma equipe formada por 37 ministérios e cujo perfil pode ser dividido em quatro frentes: membros do PT e do entorno da esquerda, nomes com perfil mais técnico, nomes da chamada terceira via que acenaram para uma frente ampla formada durante a campanha e, por fim, acenos ao bloco denominado Centrão, a fim de garantir a governabilidade junto ao Congresso Nacional.
O primeiro grupo compõe o núcleo duro da administração e nele despontam nomes anunciados antes mesmo da diplomação, como Fernando Haddad na Fazenda, Rui Costa na Casa Civil, Flávio Dino na Justiça e Mauro Vieira nas Relações Exteriores. Além destes, juntaram-se nomes como os de Camilo Santana (Educação), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Luiz Marinho (Trabalho), Carlos Lupi (Previdência Social), Sônia Guajajara (Povos Originários), Marcio Macêdo (Secretaria Geral da Presidência) Cida Gonçalves (Mulher), Esther Dweck (Gestão), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Paulo Pimenta (Comunicação Social), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Vinicius Carvalho (Controladoria Geral da União).
O perfil destes aliados mais próximos é marcado pela lealdade a Lula e aos ideais políticos da esquerda, mas diverso dos dois primeiros mandatos em, pelo menos, três características: juventude, diversidade regional e abertura a outras forças para além do próprio PT, apesar de uma grande prevalência do partido do presidente. Com base nisso, é possível verificar que Lula busca formar novas lideranças no campo da esquerda e diversificar, tanto regionalmente como partidariamente, a emergência dessas lideranças.
O aspecto regional pode ser percebido por nomes fora do eixo Rio-São Paulo, como o baiano Rui Costa, o maranhense Flávio Dino, o cearense Camilo Santana e o piauiense Wellington Dias, todos do Nordeste, onde o PT fincou sua cidadela mesmo na adversa eleição de 2018. Além disso, muitos desses nomes não são necessariamente filiados ao PT ou estão filiados em partidos aliados como o PSB (Dino), PDT (Lupi), PC do B (Luciana Santos) e PSOL (Guajajara) e todos são relativamente jovens, lembrando que o cargo de Ministro de Estado não pode ser ocupado por pessoas abaixo dos 35 anos no Brasil.
Já os nomes considerados mais técnicos ou identificados ativamente com os temas dos respectivos ministérios foram Nísia Trindade (Saúde), Sílvio Almeida (Direitos Humanos), Margareth Menezes (Cultura), Anielle Franco (Igualdade Racial), Ana Moser (Esporte), José Múcio Monteiro (Defesa) e Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional).
Nesse caso, prevalecem nomes que, apesar de não estarem necessariamente filiados a um partido político, guardam profunda identidade com ideias de esquerda que, em certa medida, se associam aos ideais progressistas do novo governo que toma posse neste momento.
A disputa, antes que por espaço político, é por ideias, sinalizando uma ruptura profunda com o atual modelo bolsonarista, seja pela expertise técnica, seja pela narrativa oposta, inclusive com a recriação ou elevação de estruturas burocráticas ao nível ministerial.
Em terceiro lugar, em claro aceno àquelas lideranças de centro que apoiaram o nome de Lula, seja desde o início da campanha, seja apenas no segundo turno, figuram indicações como a do próprio vice-presidente Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), de seu aliado e também ex-governador paulista Márcio França (Portos e Aeroportos), das ex-presidenciáveis Marina Silva (Meio Ambiente) e Simone Tebet (Planejamento).
No caso destes nomes, é importante registrar um aspecto triplamente pragmático: o aceno ao mercado, que legitima determinados perfis mais ligados ao centro e à centro-direita; a busca de apoio dos partidos e forças políticas de centro, no parlamento e na sociedade, para a aprovação dos projetos do governo e, por fim, a neutralização de uma oposição formada neste espectro, relegando as forças que eventualmente contrariarem o governo ao extremismo bolsonarista.
Com isso, Lula segue buscando evitar que novas lideranças desafiem sua hegemonia e a de seus fieis apoiadores, refletindo uma preocupação com as eleições municipais de 2024 e com sua própria sucessão em 2026.
Por fim, nos ministérios anunciados já na semana da posse, aparecem nomes mais distantes ideologicamente de Lula e de seu entorno, mas com o fundamental objetivo de contemplar forças políticas numerosas no parlamento, tendo em vista a aprovação dos projetos e medidas do governo e sua blindagem contra eventuais investidas da oposição, atualmente liderada pelo PL e pelo Progressistas. Nesse cenário, despontam três grandes partidos do chamado Centrão, cada um com três ministérios: o União Brasil, o PSD e uma grande ala do MDB.
No caso do MDB, além de Simone Tebet, Lula busca contemplar antigos aliados e próximos ao chamado Centrão, tornando ministros dois filhos de importantes lideranças da legenda: Renan Calheiros Filho (Transportes) e Jader Barbalho Filho (Cidades), ambas pastas estratégicas em termos de recursos e interlocução política. Já o PSD, partido liderado por Gilberto Kassab e com importante participação no governo paulista de Tarcísio de Freitas, também será contemplado com três cargos na Esplanada dos Ministérios: Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e Andrade Paula (Pesca).
A questão do União Brasil é mais delicada, pois além de Juscelino Filho (Comunicações) e Daniela do Waguinho (Turismo), as lideranças do partido, em especial o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre, recorreram a um membro de outra legenda, Waldez Góes (PDT), para assumir a pasta da Integração Nacional e, posteriormente, cerrar fileiras na legenda presidida por Luciano Bivar. Curiosamente, o União Brasil é fruto da fusão de dois partidos que integraram o núcleo central no início do governo Bolsonaro: o PSL e o Democratas.
Por fim, o presidente eleito nomeou também seus três líderes de governo junto ao Legislativo, todos da esquerda: Randolfe Rodrigues (Rede) no Congresso, Jaques Wagner (PT) no Senado Federal e Josué Guimarães (PT) na Câmara dos Deputados, demonstrando mais uma clara sinalização de que o núcleo duro do governo ficará nas mãos de aliados mais próximos.
Cabe ressaltar que algumas legendas aliadas, as quais nutriam expectativas de serem contempladas, acabaram ficando de fora do primeiro escalão. Tais como: Avante, PROS, PV e Solidariedade. Mas ainda podem ser contemplados com a montagem do segundo escalão ou cargos em empresas estatais, evitando que se tornem lideranças e satélites da oposição.
O próximo ano e o próximo governo reservam importantes mudanças.